Base Nacional Comum Curricular: algumas reflexões a partir da Pedagogia Histórico-crítica

Autores

DOI:

https://doi.org/10.32930/nuances.v31iesp.1.8290

Resumo

O presente artigo objetiva analisar a versão da Base Nacional Comum Curricular aprovada pelo bloco no poder durante o governo Temer, e continuada pelo governo Bolsonaro. Defende-se a tese de que a BNCC incorpora os interesses de uma fração da classe empresarial, a “direita para o social” (DPS), e, dessa forma, consolida mais uma etapa do processo de rebaixamento do nível de ensino destinado às camadas populares. Para tanto, explicita-se o processo de organização política da DPS para consolidar, na política educacional, o projeto empresarial de educação. Recupera-se quatro pilares que fundamentam tal projeto em curso, a saber: privatização, divisão técnica do trabalho, responsabilização pelo desempenho dos estudantes nas avaliações externas e patamar minimalista de formação escolar. Na sequência, aponta-se como o projeto empresarial de educação está expresso na BNCC, que centra a formação no desenvolvimento de competências e habilidades. Nas considerações finais, conclui-se que a aprovação da BNCC compõe o conjunto de iniciativas aprovadas pelo bloco no poder para administrar a crise do capital, que necessita fazer avançar os processos de precarização da força de trabalho, o que perpassa pelo rebaixamento da formação da classe trabalhadora, pelo ataque à educação pública e pela retirada de direitos sociais. Além disso, identifica-se nas elaborações da pedagogia histórico-crítica elementos fundamentais não apenas para tecer a crítica ao projeto empresarial de educação básica, mas, sobretudo, para fazer proposições que indicam possibilidades para enfrentá-lo nas condições históricas atuais. Em termos curriculares, isso significa oposição radical ao rebaixamento do processo de formação promovido pela BNCC.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Biografia do Autor

Leonardo Docena Pina, UFJF/MG

Professor da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF). Doutor em Educação pela UFJF.

Carolina Nozella Gama, UFAL/AL

Professora da Universidade Federal de Alagoas (UFAL). Doutora em Educação pela Universidade Federal da Bahia (UFBA).

Referências

ADRIÃO, T. Dimensões e formas da privatização da educação no Brasil: caracterização a partir do mapeamento de produções nacionais e internacionais. Currículo sem Fronteiras, v. 18, n. 1, p. 8-28, jan./abr. 2018.

AFONSO, A. J. Para uma conceitualização alternativa de accountability em educação. Educação e Sociedade, Campinas; v. 33, n. 119, p. 471-484, abr./jun.2012.

BRASIL. Plano Diretor da Reforma do Aparelho de Estado. Define objetivos e estabelece diretrizes para a reforma da administração pública brasileira. Brasília, DF, 1995.

BRASIL. Texto Anexo - Base Nacional Comum Curricular – Educação Infantil e Ensino Fundamental. In: BRASIL. Ministério da Educação. Conselho Nacional de Educação. Parecer CNE/CP nº 15/2017. Brasília, DF, 2017.

BRASIL. Decreto nº 9432/2018. Regulamenta a Política Nacional de Avaliação e Exames da Educação Básica. Brasília, DF, 2018.

BECKEHÁZY, I.; LOUZANO, P. Sala de aula estruturada: o impacto do uso de sistemas de ensino nos resultados da Prova Brasil – um estudo quantitativo no estado de São Paulo. São Paulo: Fundação Lemann, [201-].

COLEMARX. Em defesa da educação pública comprometida com a igualdade social: porque os trabalhadores não devem aceitar aulas remotas. Rio de Janeiro: Colemarx, 2020. Disponível em: http://www.colemarx.com.br/wp-content/uploads/2020/04/Colemarx-texto-cr%C3%ADtico-EaD-2.pdf. Acesso em 13/12/2020.

DUARTE, N. O currículo em tempos de obscurantismo beligerante. Rev. Espaço do Currículo (online), João Pessoa, v.11, n.2, p. 139-145, mai./ago. 2018.

DUARTE, N. Sociedade do conhecimento ou sociedade das ilusões?: quatro ensaios crítico-dialéticos em filosofia da educação. Campinas: Autores Associados, 2003.

DUARTE, N. Vigotski e a pedagogia histórico-crítica: a questão do desenvolvimento psíquico. Nuances: estudos sobre Educação, Presidente Prudente, SP, v. 24, n. 1, p. 19-29, jan./abr. 2013. DOI: https://doi.org/10.14572/nuances.v24i1.2150

DUARTE, N. Vigotski e o “aprender a aprender”: crítica às apropriações neoliberais e pós-modernas da teoria vigotskiana. 5. ed. Campinas: Autores Associados, 2011.

DUARTE, N.; MAZZEU, F. J. C.; DUARTE, E. C. M. O senso comum neoliberal obscurantista e seus impactos na educação brasileira. Revista on line de Política e Gestão Educacional, Araraquara, 24(esp1), 715–736, 2020.

DUARTE, N.; SANTOS, S. S.; DUARTE, E. C. M. O obscurantismo bolsonarista, o neoliberalismo e o produtivismo acadêmico. Revista Eletrônica de Educação, São Carlos, v.14, p.1-18, jan./dez. 2020.

ENGELS, F. Anti-Dühring: filosofia, economia política, socialismo. 2. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1979.

FUNDAÇÃO ITAÚ SOCIAL. Guia de tutoria pedagógica. [201-]. Disponível em: http://fundacao-itau-social-producao.s3.amazonaws.com/files/s3fs-public/biblioteca/documentos/tutoriapedagogica.pdf?V24jDF.33d88JXFd1WEef_RdXbQUSj4e. Acesso em: 15 fev. 2016.

FUNDAÇÃO ITAÚ SOCIAL. Educação para o desenvolvimento sustentável. 2013a. Disponível em: http://www.fundacaoitausocial.Org.br/_arquivosestaticos/FIS/pdf/perfil2013.pdf. Acesso em: 17 dez. 2014.

FUNDAÇÃO ITAÚ SOCIAL. Jovens urbanos: marcos conceituais e metodológicos. São Paulo: FIS, 2013b.

FUNDAÇÃO ITAÚ SOCIAL. Percursos da educação integral: em busca da qualidade e da equidade. São Paulo: CENPEC/Fundação Itaú Social, 2013c.

FUNDAÇÃO LEMANN. Apoio à Base Nacional Comum Curricular: todos os alunos e alunas têm o direito a uma educação de qualidade. 2018. Disponível em: https://fundacaolemann.org.br/projetos/apoio-a-base-nacional-comum-curricular. Acesso em: 26 de junho de 2018.

FREITAS, L. C. A reforma empresarial da educação: nova direita, velhas ideias. São Paulo: Expressão popular, 2018.

FREITAS, L.C. BNCC: como os objetivos serão rastreados? 2017. Disponível em: <https://avaliacaoeducacional.com/2017/04/07/bncc-como-os-objetivos-serao-rastreados/>. Acesso em: 16 de novembro de 2018.

FREITAS, L. C.Qual o real significado da base nacional comum curricular? Palestra proferida no Fórum Sindical e Educacional do SINESP 2016, realizado em São Paulo, 05 e 06 de maio de 2016. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=Hv9Ro92V7XM. Acesso em 13/12/2020.

GALL, N.; GUEDES, P. M. A reforma educacional de Nova York. Possibilidades para o Brasil. São Paulo: Fundação Itaú Social, 2012.

GAMA, C. N. Princípios curriculares à luz da Pedagogia histórico-crítica: as contribuições da obra de Dermeval Saviani. Tese (Doutorado em Educação) -Faculdade de Educação, Universidade Federal da Bahia, Salvador, 2015.

INSTITUTO ETHOS. O que as empresas podem fazer pela educação. São Paulo: CENPEC/Instituto Ethos, 1999.

LAVOURA, T. N. A dialética do singular-universal-particular e o método da pedagogia histórico-crítica. Nuances: estudos sobre Educação, Presidente Prudente-SP, v. 29, n. 2, p.4-18, Mai./Ago., 2018. DOI: https://doi.org/10.32930/nuances.v29i2.6044

LAVOURA, T.N.; ALVES, M.S.; SANTOS JUNIOR, C. de L. Política de formação de professores e a destruição das forças produtivas: BNC-formação em debate. Rev. Práxis Educacional, v. 16, n. 37, 2020.

LOUZANO, P. et. al. Sistemas Estruturados de Ensino e Redes Municipais do Estado de São Paulo. São Paulo: Fundação Lemann, 2008.

MALANCHEN, J. A pedagogia histórico-crítica e o currículo: para além do multiculturalismo das políticas curriculares nacionais. Tese (Doutorado em Educação). Araraquara (SP): Universidade Estadual Paulista, 2014.

MALANCHEN, J. O realismo social de Michael Young e a Pedagogia Histórico-crítica: perspectivas e aproximações na definição do conhecimento escolar. Nuances: estudos sobre educação, Presidente Prudente-SP, v. 29, n.3, p.95-134, set./Dez., 2018. ISSN: 2236-0441. DOI: 10.32930/nuances.v29i3.5825.

MARSIGLIA, A. C. G. et. al. A base nacional comum curricular: um novo episódio de esvaziamento da escola no Brasil. Germinal: Marxismo e Educação em Debate, Salvador, v. 9, n. 1, p. 107-121, abr. 2017.

MARSIGLIA, A. C. G.; MACHADO, V. O.; PINA, L. D. O golpe de estado e a base nacional comum curricular: um novo episódio do esvaziamento curricular das escolas públicas no Brasil. In: SARTÓRIO, L. A. V.; LINO, L. A.; SOUZA, N. M. P. (Org.s). Política educacional e dilemas do ensino em tempo de crise: juventude, currículo, reformas do ensino e formação de professores. 1ed.São Paulo: Editora Livraria da Física, 2018, v., p. 53-87.

MARTINS, A. S. A direita para o social: a educação da sociabilidade no Brasil contemporâneo. Juiz de Fora: Editora da UFJF, 2009.

MARTINS, L. M. O desenvolvimento do psiquismo e a educação escolar: contribuições à luz da psicologia histórico-cultural e da pedagogia histórico-crítica. Campinas: Autores Associados, 2013.

MARTINS, L. M. O legado do século XX para a formação de professores. In: MARTINS, L. M.; DUARTE, N. (orgs.). Formação de professores: limites contemporâneos e alternativas necessárias. São Paulo: Cultura Acadêmica, 2010.

MELLO, G. N. Como um bom sistema de ensino pode melhorar o aprendizado. Entrevista concedida à Camila Pereira. Sala de aula estruturada – o impacto do uso dos sistemas de ensino nos resultados da Prova Brasil – um estudo qualitativo no Estado de São Paulo. São Paulo: Seminário da Fundação Lemann, 04 jul. 2010. Disponível em: http://www.youtube.com/watch?v=5QEk5-cPIdQ. Acesso em: 24 out. 2014.

MOTTA, V. C.; FRIGOTTO, G. Por que a urgência da reforma do ensino médio? Medida Provisória nº 746/2016 (LEI nº 13.415/2017). Educação e Sociedade, Campinas, v. 38, nº. 139, p.355-372, abr.-jun., 2017.

PINA, L. D. “Responsabilidade social” e educação escolar: o projeto de educação básica da “direita para o social” e suas repercussões na política educacional do Brasil contemporâneo. 2016. Tese (Doutorado em Educação) – Faculdade de Educação, Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora, 2016.

PINA, L.D.; GAMA, C.N. Base nacional comum curricular: algumas reflexões a partir da pedagogia histórico-crítica. Trabalho Necessário, Niterói, v.18, nº 36, p.343-364, maio-ago., 2020. p.343-364.

PONTUAL, T. C. Remuneração por mérito: desafio para a educação. São Paulo: Fundação Lemann, 2008.

RAMOS, M. N. Pedagogia das competências: autonomia ou adaptação? São Paulo: Cortez, 2001.

RAVITCH, D. Vida e morte do grande sistema escolar americano: como os testes padronizados de mercado ameaçam a educação. Porto Alegre: Sulina, 2011.

SAVIANI, D. Escola e Democracia: teorias da educação, curvatura da vara, onze teses sobre a educação política. 38. ed. Campinas: Autores Associados, 2006.

SAVIANI, D. História das ideias pedagógicas no Brasil. 3. ed. Campinas: Autores Associados, 2011.

SHIROMA, E. O.; EVANGELISTA, O. Avaliação e responsabilização pelos resultados: atualizações nas formas de gestão de professores. Perspectiva, Florianópolis, v. 29, n. 1, 127-160, jan./jun. 2011.

SNYDERS, G. Escola, classe e luta de classes. São Paulo: Centauro, 2005.

TODOS PELA EDUCAÇÃO. As 5 Bandeiras. 2018. Disponível em: https://www.todospelaeducacao.org.br/indicadores-da-educacao/5-bandeiras. Acesso em: 26 de junho de 2018.

Downloads

Publicado

01-12-2020

Como Citar

PINA, L. D.; GAMA, C. N. Base Nacional Comum Curricular: algumas reflexões a partir da Pedagogia Histórico-crítica. Nuances: Estudos sobre Educação, Presidente Prudente, v. 31, n. esp.1, p. 78–102, 2020. DOI: 10.32930/nuances.v31iesp.1.8290. Disponível em: https://revista.fct.unesp.br/index.php/Nuances/article/view/8290. Acesso em: 21 nov. 2024.