Medicalização da infância: avanço ou retrocesso

Autores

DOI:

https://doi.org/10.32930/nuances.v31iesp.1.8289

Palavras-chave:

Medicalização da infância, Psicologia Histórico-Cultural, Desenvolvimento infantil, Linguagem escrita, Educação Escolar

Resumo

Na atualidade identificamos uma polêmica em torno do uso de medicamentos psicotrópicos em crianças cada vez menores, em virtude de supostos diagnósticos de Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade. Por meio de uma pesquisa de campo, realizada em três municípios paranaenses, na rede pública municipal de Ensino, nos segmentos de Educação Infantil e séries iniciais do Ensino Fundamental, foi possível verificar o percentual de crianças que fazem uso de medicamento controlado, qual o diagnóstico predominante e qual medicação mais prescrita. O diagnóstico predominante em ambos os segmentos foi o TDAH, na Educação Infantil o medicamento mais prescrito foi a Risperidona e no Ensino Fundamental foi a Ritalina. Problematiza-se os efeitos colaterais destes medicamentos e seu prejuízo para o desenvolvimento a partir das concepções da Psicologia Histórico-Cultural. Há uma correlação entre o aumento dos diagnósticos e das prescrições nas séries iniciais do Ensino Fundamental, que parece indicar a transformação das dificuldades inerentes à aquisição da linguagem escrita em supostos transtornos, que configura o quadro de medicalização da infância.

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Biografia do Autor

Adriana de Fátima Franco, UEM/PR

Pós-doutorado em Educação Escolar pela UNESP-Araraquara, Doutorado em Psicologia da Educação/PUC-SP, docente da graduação e pós-graduação em Psicologia/UEM.

Fernando Wolff Mendonça, UEM/PR

Doutorado em  Educação/UEM-PR, docente da graduação em Educação e pós-graduação em Psicologia/UEM.

Silvana Calvo Tuleski, UEM/PR

Pós-doutorado e doutorado em Educação Escolar pela UNESP-Araraquara, Mestrado em Fundamentos da Educação/UEM, docente da graduação e pós-graduação em Psicologia/UEM.

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Publicado

01-12-2020

Como Citar

FRANCO, A. de F.; MENDONÇA, F. W.; TULESKI, S. C. Medicalização da infância: avanço ou retrocesso. Nuances: Estudos sobre Educação, Presidente Prudente, v. 31, n. esp.1, p. 38–59, 2020. DOI: 10.32930/nuances.v31iesp.1.8289. Disponível em: https://revista.fct.unesp.br/index.php/Nuances/article/view/8289. Acesso em: 16 abr. 2024.

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