A Fruticultura no Nordeste Semiárido: Internacionalização, Conflitos Territoriais e a Precarização do Trabalho | Fruit Growing in the North-East Semi-Arid Zone: Internationalization, Territorial Conflict and Precarious Working Conditions
DOI:
https://doi.org/10.33026/peg.v0i0.2892Resumen
Introdução: A presente pesquisa teve como objetivo compreender o desenvolvimento do agronegócio e seus impactos, no que diz respeito à dinâmica geográfica do trabalho, nas principais regiões de expansão da fruticultura no sertão nordestino. A expansão do capital, sob o modelo do agronegócio, no Nordeste do Brasil, tem propiciado inúmeras alterações na dinâmica socioespacial, cuja expressão nos territórios ganha corpo a partir da mobilização promovida pela divisão social e territorial do trabalho. Como resultado, testemunhamos o surgimento de um novo padrão de desigualdades sociais, evidenciando o conteúdo dos conflitos territoriais envolvendo agentes transescalares, tais como os supermercados e empresas multinacionais, bem como trabalhadores organizados em sindicatos e em movimentos sociais de luta pela terra e pela água. Metodologia/Desenvolvimento: A metodologia foi estruturada em torno de três eixos de operacionalização: a organização de uma pesquisa bibliográfica, a construção de um banco de dados estatísticos vinculados à elaboração de uma matriz metodológica e a realização de trabalhos de campo. Considerações finais: A partir da organização da rede de produção global de frutas verificou-se o papel central de novos agentes econômicos, com especial atenção para as redes varejistas (supermercados) e sua grande influência na comercialização de frutas junto aos produtores, bem como por suprir o consumo das mesmas no mercado externo. As repercussões do consumo nas regiões de produção e consequentemente na dinâmica geográfica do trabalho vão desde a ampliação dos conflitos de terra, a exclusão dos pequenos produtores dos canais de comercialização, a intensificação do trabalho com o intuito de garantir a sustentação da política de preços (guerra dos descontos), passando pelas mudanças no processo produtivo a partir das exigências dos consumidores. Como corolário, apontamos o papel dos supermercados e sua atuação no controle e governança da produção a partir da mercadificação dos sistemas de auditoria e certificação. Nas regiões analisadas, identificamos a criação recente de um mercado de trabalho formal no setor da agropecuária marcado pela sazonalidade dos vínculos empregatícios e pela ocorrência de inúmeros conflitos envolvendo exploração dos trabalhadores como as extensas jornadas, os casos de coação, assédio moral e sexual no ambiente de trabalho; o aumento no número de doenças, acidentes de trabalho e a contaminação por agrotóxicos dos trabalhadores e do meio ambiente. No que diz respeito à organização dos trabalhadores, a representação dos sindicatos é contestada em virtude da existência de entidades descoladas das demandas dos trabalhadores assalariados e dos diaristas informais. Os movimentos sociais, com muitas dificuldades, têm contribuído para engendrar pautas de luta e reivindicação, bem como possibilitar a conquista da terra e de novas práticas de trabalho em espaços como os assentamentos, acampamentos, comunidades ribeirinhas e terras tradicionais de uso coletivo.
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