RESTRUTURAÇÃO PRODUTIVA NA EUROPA: O FIM DO ESTADO SOCIAL E O NASCIMENTO DO ASISTENCIALISMO SOCIAL
Resumo
A crise cíclica do início dos anos 80 abriu portas a uma das mais importantes ondas revolucionárias mundiais, a que começa em 1989 no antigo bloco de Leste, e vai ter impacto também em países como a África do Sul. São revoluções anti-burocráticas e/ou anti ditatoriais, populares, com epicentro nas classes trabalhadoras, mas derrotadas, que terminaram com a restauração capitalista na antiga URSS e seus satélites, e a força de partidos conservadores, dando um alento definitivo à implementação de medidas contra-cíclicas neoliberais que ficaram conhecidas como restruturação produtiva, e que implicaram a deslocalização para a China de parte da produção dos países ricos ocidentais, a queda real do salário no mundo ocidental, com empobrecimento dos sectores médios, e, na Europa, a substituição das politicas universais de Estado Social pelas politicas assistenciais, que passaram a ser geridas pelos partidos social democratas, com apoio dos poucos partidos comunistas e de esquerda que sobrevieram neste marco, e que fizeram do assistencialismo e não do pleno emprego, bandeira central. Isto ajudou também a que a classe trabalhadora organizada, outrora centro de luta e militância destes partidos, passasse a ser marginalizada, e, no lugar dela, surgiu como central, a classe trabalhadora informal, marginalizada ou mesmo lumpenziada. Já que os programas assistenciais são sustentados pelos sectores mais organizados e mais velhos, numa altura em que o padrão neoliberal é o não pagamento de impostos pelas grandes corporações, estes sectores mais estruturados dos trabalhadores e qualificados passaram a ser considerados “privilegiados” e por isso obrigados ou persuadidos a sustentar a precaridade das classes mais pobres, precários, informais, empobrecidos. Para esta mudança a concertação social, negociada antes da queda do muro de Berlim, entre 1984 e 1987, pelos grandes sindicados europeus foi uma força politica essencial, que permitiu, sem resistência (com exceção de casos isolados como os mineiros ingleses e os operários navais portugueses e espanhóis), a chantagem da deslocalização para a Ásia, e a abertura de um amplo mercado de trabalho precário nos países centrais. Este é o tema deste artigo, que analisa o significado desta restruturação produtiva ao longo da sua história do tempo presente (1970-2008).
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