PÚBLICA OU PRIVADA?

A SABESP em uma encruzilhada

Autores

  • Flávio José Rocha da Silva Universidade de São Paulo, Instituto de Energia e Ambiente
  • Ana Paula Fracalanza Universidade de São Paulo, Escola de Artes, Ciências e Humanidades

Palavras-chave:

Privatização da Água, Saneamento Básico, Região Metropolitana de São Paulo, Sabesp.

Resumo

Este artigo busca analisar, através de um estudo de caso, como processos de privatização que não se resumem à apropriação total das empresas públicas de saneamento por parte do setor privado estão cada vez mais presentes no Brasil. É cada vez mais comum a indistinguibilidade entre o público e o privado em algumas empresas públicas de saneamento básico, dado que operam tendo uma lógica mercadológica como princípio. Para a realização da análise, descrevemos o caso da Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo – Sabesp. Tal empresa existe em regime de Economia Mista e vem sendo criticada pela condução do gerenciamento da crise hídrica na Região Metropolitana de São Paulo (RMSP) por priorizar a lucratividade e o repasse dos dividendos aos seus acionistas privados, mesmo sendo, oficialmente, uma empresa pública. Os resultados da análise apontam que a referida empresa não cumpriu satisfatoriamente o papel de garantir o direito humano à água nas áreas periféricas da RMSP durante a crise hídrica, verificando-se que há um desvio da função na motivação do funcionamento destas empresas, isto é, servir ao público com a oferta de serviços relacionados a saneamento básico, inclusive para as populações socioambientalmente vulneráveis.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Biografia do Autor

Flávio José Rocha da Silva, Universidade de São Paulo, Instituto de Energia e Ambiente

Granduado e Comunicação social pela UFPB. Mestre em Desenvolvimento e Meio Ambiente pela UFPB. Doutor em Ciênciais Sociais pela PUC-SP. Pós Doutor pelo Instituto de Energia e Ambiente da USP.

Ana Paula Fracalanza, Universidade de São Paulo, Escola de Artes, Ciências e Humanidades

Professora Livre Docente na Escola de Artes, Ciências e Humanidades da USP (EACH), no Programa de Pós-Graduação em Mudança Social e Participação Política da USP (PROMUSPP/USP) e no Programa de Pós-Graduação em Ciência Ambiental do Instituto de Energia e Ambiente da USP (PROCAM/IEE/USP).

Referências

ABICONSINDICON. Panorama da participação privada no Saneamento 2018. Brasil. 2018. Disponível em https://www.abconsindcon.com.br/wp-content/uploads/2018/04/PANORAMA-PDF-FINAL.pdf. Acesso em 21 de dezembro de 2021.

ABICONSINDICON. Panorama da participação privada no Saneamento 2020. Brasil. 2020. Disponível em https://www.abconsindcon.com.br/wp-content/uploads/2021/07/PAN21-APRESENTACAO.pdf. Acesso em 09 de novembro de 2021.

AGUILAR, Raquel Gutiérrez. Los ritmos del Pachakut. La Paz: Textos Rebeldes. 2008.

BARLOW, Maude; CLARKE, Tony. Ouro azul. São Paulo: M Books Editora, 2003.

BAKKER, Karen. The “Commons” versus the “commodity”: Alter-globalization, Anti-privatization and the Human Right to Water in the Global South. Antipode: a radical jornal ofd geography. Canada. Volume 39. Issue 3. 2007. p. 430-455. https://doi.org/10.1111/j.1467-8330.2007.00534.x

BORJA, Patrícia Campos; RICARDO, Silveira Bernardes. Avaliação de políticas públicas de saneamento no Brasil. In HELLER, Leo; CASTRO, J. E. (Orgs.). Política pública e gestão de saneamento. Belo Horizonte: Editora UFMG; Editora Fiocruz. 2013. p. 525-541.

BRAADBAART, Okke. A transferência Norte-Sul do paradigma da água canalizada: o papel do setor público nos serviços de água canalizada. In HELLER, Leo; CASTRO, J. E. (Orgs.). Política pública e gestão de saneamento. Belo Horizonte: Editora UFMG; Editora Fiocruz. 2013. p.116.134.

BRITTO, Ana Lucia. Tarifas sociais e justiça social no acesso aos serviços de abastecimento de água e esgotamento sanitário no Brasil. In CASTRO, J. E; HELLER, LEO; MORAIS, Maria da Piedade. (Editores). Em O direito à água como política pública na América Latina: uma exploração teórica e empírica. Brasília; IPEA. 2015. p. 209-225.

https://www.ipea.gov.br/portal/images/stories/PDFs/livros/livros/150505_web_o_direito_a_agua.pdf

BRITTO, Ana Lucia; REZENDE, Sonaly Cristina. A política pública para os serviços de abastecimento de água e esgotamento sanitário no Brasil: financeirização, mercantilização e perspectivas de resistência. Em Cadernos Metrópole. São Paulo . V. 19. N. 39. maio/ago. 2017. p. 557-581. https://doi.org/10.1590/2236-9996.2017-3909.

BUCKERIDGE, Marcos.; RIBEIRO, Wagner Costa. Uma visão sistêmica das origens, consequências e perspectivas das crises hídricas na Região Metropolitana de São Paulo. Em Buckeridge, M. e Ribeiro, W. C. Em Livro Branco da água. A crise hídrica na Região metropolitana de São Paulo em 2013-2015: Origens, impactos e soluções. Instituto de Estudos Avançados - Universidade de São Paulo: São Paulo. 2018. p. 14 - 21. Acessível em http://www.iea.usp.br/publicacoes/ebooks/livro-branco-da-agua

CARVALHO, Alba Marinho Pino de; BAPTISTA, Maria Manuel; CARVALHO, Maria Michol Pinho de; GRAÇA, Irene Menezes. Estado e políticas Públicas Brasil e Portugal: novas configurações. Desafios do presente. . Revista de Políticas Públicas. São Luís. V. 14. 2012. p. 233-256. Acessível em http://www.periodicoseletronicos.ufma.br/index.php/rppublica/article/view/405/810

CASTRO, Jose Esteban. Políticas públicas de saneamento e condicionantes sistêmicos. In HELLER, Leo; CASTRO, Jose Esteban (Orgs.). Política pública e gestão de saneamento. Belo Horizonte: Editora UFMG; Editora Fiocruz. 2013. p. 53-75.

CHECCO. Guilherme Barbosa. Análise de gestão hídrica em São Paulo à luz do referencial de Joan Subirats. Revista de Políticas Públicas. V. 21 N. 2. p. 939-957. 2017. DOI: http://dx.doi.org/10.18764/2178-2865.v21n2p939-957

CORRÊA, Dora Shellard; ALVIM, Zuleika M. F. A água no olhar da história. Secretaria do Meio Ambiente. São Paulo. 1.999.

DOMINGUEZ, Ana; ACHKAR, Marcel; FERNANDEZ, Gabriela. As estratégias da sociedade frente aos processos de privatização da água: conquistas e desafios no Uruguai. In Castro, Jose Esteban.; Heller, Leo; Morais, Maria da Piedade. O direito à água como política pública na América Latina: uma exploração teórica e empírica. Brasília: IPEA. 2015 p. 193-208. Disponível em https://www.ipea.gov.br/portal/images/stories/PDFs/livros/livros/150505_web_o_direito_a_agua.pdf

FRACALANZA, Ana Paula; FREIRE, Thais Magalhães. Crise da água na região metropolitana de São Paulo: injustiça ambiental, privatização e mercantilização de um bem comum. Revista GeoUSP: espaço e tempo. Volume 19. Nº3. 2015. p. 468-478. http://orcid.org/0000-0001-9289-0028

HALL, David; LOBINA, E. Lobina. Políticas públicas e financiamento de sistemas de esgotos. In HELLER, Leo; CASTRO, Jose Esteban (Orgs.). Política pública e gestão de saneamento. Belo Horizonte: Editora UFMG; Editora Fiocruz. 2013. p. 156-178.

HELLER, Leo; CASTRO, Jose Esteban. Política pública de saneamento: apontamentos teórico-conceituais. Revista de Engenharia Sanitária e Ambiental. Vol. 12. Nº 3 jul/set.. 2007. p. 284-295. https://doi.org/10.1590/S1413-41522007000300008

HELLER, Leo et al. A experiência brasileira na organização dos serviços de saneamento básico. In HELLER, Leo; CASTRO, Jose Esteban (Orgs.). Política pública e gestão de saneamento. Belo Horizonte: Editora UFMG; Editora Fiocruz. 2013. p. 483-501.

HESPANHOL, Ivanildo. Água e saneamento básico: uma visão realista. Em REBOUÇAS, Aldo da cunha; Benedito, BRAGA; José Galizia, TUNDISI. Águas doces no Brasil: capital ecológico, uso e conservação. 2002. p. 429-304.

HUKKA, Jarmo J; KATKO, Tapio S. Paradigma alternativo: o papel das cooperativas e das autoridades locais. In HELLER, Leo; CASTRO, Jose Esteban (Orgs.). Política pública e gestão de saneamento. Belo Horizonte: Editora UFMG; Editora Fiocruz. 2013. p. 214-237.

IORIS, Antônio.: Desenvolvimento nacional e gestão de recursos hídricos no Brasil. Revista Crítica de Ciências Sociais. 2009. p. 23-41. https://doi.org/10.4000/rccs.329.

JOSÉ, Fabio; MORAES, Francisca Cândida Candeia de; HOLLNAGEL, Heloísa Candia. Políticas Públicas de Saneamento Básico no Estado de São Paulo. Revista Internacional de Debate da Administração Pública V. 3, N. 1. Jan. Dez. 2018. p. 104-121. Disponível em https://periodicos.unifesp.br/index.php/RIDAP/article/view/1293.

PAZ, Mariana Gutierres Arteiro da; FRACALANZA, Ana Paula; ALVES, Estela Macedo; SILVA, Flávio José Rocha da. Os conflitos das políticas da água e do esgotamento sanitário: que universalização buscamos? Estudos Avançados. V. 35 N. 102. May-Aug 2021. p. 193-208 DOI:https://doi.org/10.1590/s0103-4014.2021.35102.012

PEIXOTO, João Batista. Aspectos da gestão econômico-financeira dos serviços de saneamento básico no Brasil. In HELLER, Leo; CASTRO, Jose Esteban (Orgs.). Política pública e gestão de saneamento. Belo Horizonte: Editora UFMG; Editora Fiocruz. 2013. p. 502-524.

PEREIRA, Maria Isabel; MOGGI, Jair. Sabesp: rumo ao futuro. São Paulo; Pioneira. 2001.

ROUSE, Michael. Paradigma centrado no papel do setor privado In HELLER, Leo; CASTRO, Jose Esteban (Orgs.). Política pública e gestão de saneamento. Belo Horizonte: Editora UFMG; Editora Fiocruz. 2013. p. 196-213.

SABESP. Legados da crise hídrica. São Paulo: BB Editora. 2017.

SCHAPIRO, Mario Gomes; MARINHO, Sarah Morgana Matos. Conflito de interesses nas empresas estatais: uma análise dos casos Eletrobrás e Sabesp. Revista Direito & Praxis. Rio de Janeiro. Vol. 9, N. 3, 2018. p. 1424-1461. https://orcid.org/0000-0002-6762-2731.

SECRETARIA DO MEIO AMBIENTE DE SÃO PAULO. A água no olhar da história. São Paulo; Secretaria do Meio Ambiente. 1999.

SILVA, Jairo Bezerra; GUERRA, Lemuel Dourado; IORIS, Antônio; FERNANDES, Marcionila. A crise hídrica global e as propostas do Banco Mundial e da ONU para seu enfrentamento. Revista do Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais da UFRN – Cronos. V. 11 N. 2. 2010. p. 120-140. Acessível em https://periodicos.ufrn.br/cronos/article/view/2159

SILVA, Hélio. Comunicação, informação e a gestão do uso consciente da água. In Douwbor, L. e Tagnin, R. A. (Orgs). Administrando a água como se fosse importante: gestão ambiental e sustentabilidade. São Paulo: Editora Senac. 2005. p. 161-172.

SILVA, Flávio José Rocha da. De Collor a Temer: um breve itinerário da privatização da água no Brasil Revista Cronos, v. 20, n. 2, p. 71-87, 10 ago. 2019.

SIQUEIRA, José Eduardo de Campos. Ideologia da água e privatização dos serviços de saneamento. In Dowbor, L. e Tagnin, R. A. (Orgs). Administrando a água como se fosse importante: gestão ambiental e sustentabilidade. São Paulo: Editora Senac. 2005. p. 37-46.

SWYNGEDOUW, Erik. Privatizando H2O: transformando águas locais em dinheiro global. Revista Brasileira de Estudos urbanos e Regionais. V. 6, N.1. Maio. 2004. p. 33-53. https://doi.org/10.22296/2317-1529.2004v6n1p33

______. Águas revoltas. In Heller, L. e Castro, J. E. (Orgs.) Política pública e gestão de saneamento. Belo Horizonte: Editora UFMG; Editora Fiocruz. 2013. p. 76-97.

TUROLLA, Frederico A. Internacionalização das empresas de saneamento. In Oliveira, Gesner; SCAZUFCA, Pedro. A economia do saneamento no Brasil. Singular: São Paulo. 2009. p. 141-166.

VARGAS, Marcelo Coutinho. A “privatização” do saneamento básico no Brasil: riscos ou oportunidades? In Dowbor, L. e Tagnin, R. A. (Orgs). Administrando a água como se fosse importante: gestão ambiental e sustentabilidade . São Paulo: Editora Senac. 2005. p. 121-136.

Downloads

Publicado

2023-12-18

Como Citar

Rocha da Silva, F. J., & Fracalanza, A. P. (2023). PÚBLICA OU PRIVADA? : A SABESP em uma encruzilhada. Caderno Prudentino De Geografia, 3(45), 68–84. Recuperado de https://revista.fct.unesp.br/index.php/cpg/article/view/9443

Edição

Seção

Artigos/Articles/Artículos/Articles