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Nuances Est. Sobre Educ.
, Presidente Prudente, v. 33, e022021, jan./dez. 2022. e-ISSN: 2236-0441
DOI:
https://doi.org/10.32930/nuances.v33i00.9630
1
POLÍTICA PÚBLICA DE ASSISTÊNCIA ESTUDANTIL NO ENSINO SUPERIOR
BRASILEIRO COMO UM INSTRUMENTO PARA NOVOS
HABITUS
NAS
UNIVERSIDADES
POLÍTICA PÚBLICA DE ATENCIÓN ESTUDIANTIL EN LA EDUCACIÓN
SUPERIOR BRASILEÑA COMO INSTRUMENTO PARA NUEVOS HÁBITOS EN LAS
UNIVERSIDADES
PUBLIC POLICY OF STUDENT ASSISTANCE IN BRAZILIAN HIGHER EDUCATION
AS AN INSTRUMENT FOR NEW HABITS IN UNIVERSITIES
Adriana Carla Teixeira da Costa BRITO
1
Ana Karoliny Teixeira da COSTA
2
Kellcia Rezende SOUZA
3
RESUMO
: Este artigo traz os resultados de uma pesquisa inserida no campo das discussões
sobre as políticas de assistência estudantil na educação superior no Brasil e adota como eixo
analítico as concepções de acesso e permanência na universidade pública. Ao tomar como
base as discussões do sociólogo francês Pierre Bourdieu, busca-se refletir sobre a influência
da política de assistência estudantil no ensino superior como um instrumento para a formação
de novos
habitus
nas universidades brasileiras. Para tanto, mediante abordagem qualitativa,
foi realizado uma pesquisa bibliográfica e documental. Além dos dados da literatura da área,
foram coletados dados do Censo da Educação Superior/Inep do ano de 2020. Esses materiais
foram problematizados a partir da análise de conteúdo. O estudo permite apontar que as
políticas públicas educacionais voltadas para a garantia do acesso e da permanência no ensino
superior são cruciais para a superação da desigualdade educacional e, também, para a
mudança do
habitus
elitizado estabelecido, historicamente, nas universidades do país, uma
vez que empenhadas na inserção de benefícios às camadas populares é possível propiciar as
condições para democratizar o capital simbólico educacional, conforme se faz observar nas
discussões em Pierre Bourdieu.
PALAVRAS-CHAVE
:
Assistência estudantil. Capital cultural. Ensino superior. Habitus
.
Políticas educacionais.
1
Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD), Dourados – MS – Brasil. Doutoranda no Programa de
Pós-Graduação em Educação. ORCID: https://orcid.org/0000-0002-3356-0456. E-mail:
adrianacarlacosta@gmail.com
2
Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD), Dourados – MS – Brasil. Doutoranda no Programa de
Pós-Graduação em Educação. ORCID: https://orcid.org/0000-0001-8604-6621. E-mail:
karoliny_costa@hotmail.com
3
Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD), Dourados – MS – Brasil. Professora do Programa de Pós-
Graduação em Educação e no Programa de Pós-Graduação em Administração Pública. Doutorado em Educação
Escolar (UNESP). ORCID: https://orcid.org/0000-0002-8663-4615. E-mail: kellcia@hotmail.com
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, Presidente Prudente, v. 33, e022021, jan./dez. 2022. e-ISSN: 2236-0441
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RESUMEN
: Este artículo presenta los resultados de una investigación inserta en el campo
de las discusiones sobre las políticas de atención a los estudiantes en la educación superior
en Brasil y adopta como eje de análisis los conceptos de acceso y permanencia en las
universidades públicas. A partir de las discusiones del sociólogo francés Pierre Bourdieu,
busca reflexionar sobre la influencia de la política de asistencia a los estudiantes en la
educación superior como instrumento para la formación de nuevos habitus en las
universidades brasileñas. Por ello, a través de un enfoque cualitativo, se realizó una
investigación bibliográfica y documental. Además de los datos de la literatura en el área, se
recolectaron datos del Censo de Educación Superior/Inep 2020. Estos materiales fueron
problematizados a partir del análisis de contenido. El estudio permite señalar que las
políticas educativas públicas dirigidas a garantizar el acceso y la permanencia en la
educación superior son cruciales para superar la desigualdad educativa y también para
cambiar el habitus elitista históricamente establecido en las universidades del país, ya que,
apuestan por la inserción de beneficios a las clases populares, es posible brindarles las
condiciones para democratizar el capital simbólico educativo, como puede verse en las
discusiones en Pierre Bourdieu.
PALABRAS CLAVE
: Asistencia al estudiante. Capital cultural. Enseñanza superior.
Habitus. Políticas educativas.
ABSTRACT
: This article presents the results of a research inserted in the field of discussions
on student assistance policies in higher education in Brazil and adopts as an analytical axis
the concepts of access and permanence in public universities. Based on the discussions of
French sociologist Pierre Bourdieu, it seeks to reflect on the influence of student assistance
policy in higher education as an instrument for the formation of new habitus in Brazilian
universities. Therefore, through a qualitative approach, a bibliographic and documentary
research was carried out. In addition to data from the literature in the area, data from the
2020 Higher Education Census/Inep were collected. These materials were problematized
from the content analysis. The study makes it possible to point out that public educational
policies aimed at guaranteeing access and permanence in higher education are crucial for
overcoming educational inequality and also for changing the elitist habitus historically
established in the country's universities, since that, committed to the insertion of benefits to
the popular classes, it is possible to provide the conditions to democratize the educational
symbolic capital, as can be seen in the discussions in Pierre Bourdieu.
KEYWORDS
: Student assistance. Cultural capital. Higher education. Habitus. Educational
policies.
Introdução
Nas sociedades modernas, a educação superior desempenha um papel central no
processo de hierarquia e mobilidade social. Indivíduos com diplomas de ensino superior têm
chances muito maiores de conseguir os melhores empregos em termos de salários e condições
de trabalho do que as pessoas que não completaram a educação superior.
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A influência das condições familiares sobre o itinerário formativos das proles
repercute no êxito ou fracasso escolar como mostra os estudos de Pierre Bourdieu, pois a
“desigualdade de oportunidades educacionais influencia a reprodução intergeracional das
desigualdades sociais, por ser a educação importante meio de ascensão social e econômica”
(MENDES; COSTA, 2015, p. 72). Nessa vertente, os autores alegam que almejar posições
ocupacionais e de
status
mais valorizadas do que as dos pais se tornou possível, entre outros
fatores, graças às possibilidades asseguradas para acesso aos capitais culturais de distinção a
partir dos graus de escolarização. Assim sendo, o ensino superior, tornou-se, portanto,
símbolo da igualdade de oportunidades.
Segundo Bourdieu (1983), a educação nas sociedades modernas está entrelaçada a
aspectos relevantes sobre a relação entre herança familiar, sobretudo, cultural, e desempenho
escolar; além de se estabelecer uma considerável relação entre o papel da escola e a
reprodução e legitimação das desigualdades sociais no contexto do capitalismo. Para o autor,
os estudantes de classe média ou da alta burguesia, pela proximidade com a cultura “erudita”
e, também, pelas práticas culturais ou linguísticas de seu meio familiar, teriam maior
probabilidade de obter o sucesso escolar. Fato este que Bourdieu procurou demonstrar, a
partir de pesquisas realizadas na França, que existe relação entre a cultura e as desigualdades
escolares. Assim sendo, o elitismo presente nas universidades resultou na formação de um
habitus
de seletividade, ou seja, um capital simbólico de distinção entre as classes sociais.
Pode-se dizer que no Brasil não é diferente, pois, historicamente, o acesso ao Ensino
Superior “tem sido fator importante de diferenciação de
status
ou de classe, pois influencia as
possibilidades ocupacionais, que, por sua vez, determinarão o estrato socioeconômico de
destino” (MENDES; COSTA, 2015, p. 72). Muito embora haja a presença de políticas
públicas de acesso e permanência na educação superior, o fato de estar no ambiente
universitário ainda é um privilégio para poucos (OLIVEIRA, 2007). E é, nesse sentido, que as
ações, as políticas e os programas de governo têm se afirmado, a fim de atender aos interesses
políticos e econômicos de uma classe social dominante.
Nessa direção, o estudo objetiva a partir do referencial sociológico de capital
simbólico de Pierre Bourdieu, compreender as relações de poder estabelecidas na garantia das
políticas públicas de assistência estudantil voltadas para o acesso e permanência no ensino
superior. Para tanto, mediante abordagem qualitativa, foi realizada uma pesquisa bibliográfica
e documental. Além dos dados da literatura da área que tratam de temática, foram coletados
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dados do Censo da Educação Superior/Inep do ano de 2020. A análise dos achados foi
conduzida pela reflexão atinente ao conteúdo.
O capital simbólico na educação
A educação tem papel fundamental na sociedade, porém, nem sempre a escola
propicia ao indivíduo oportunidade e uniformidade no ensino. Até meados do século XX, os
estudos sobre as Ciências Sociais tinham uma visão bastante otimista sobre o conceito de
educação, atribuindo à escolarização um papel central no processo de superação do atraso
econômico, do privilégio de classes e do autoritarismo. Conferia-se, assim, à educação
expectativas acerca da formação de uma nova sociedade, justa, meritocrática, moderna, ou
seja, centrada na razão e nos conhecimentos científicos, além de ser democrática,
fundamentada na autonomia individual (ALMEIDA, 2007).
Consonante a este pensamento, com a criação de escolas públicas e gratuitas,
acreditava-se que, conforme Almeida (2007), o problema do acesso à educação estaria
resolvido e, assim, garantida, em princípio, a igualdade de oportunidades entre todos os
cidadãos - mediante a disponibilidade de vagas para atender a toda camada social. Nesta
mesma linha, pressupunha-se que os indivíduos competiriam dentro do sistema de ensino em
condições de igualdade. Assim, aqueles que se destacassem aos estudos seriam contemplados,
por uma questão de justiça, com o progresso nos anos escolares e, posteriormente, com a
ocupação de um
status
privilegiado na hierarquia social.
Ocorre que, em meados da década de 1960, os olhares sobre a educação e suas
concepções dos sistemas foram reinterpretados, abandonando-se a ideia de que o desempenho
escolar dependia tão simplesmente dos dons individuais; e passando a adotar uma
compreensão que relaciona o desempenho à origem social dos alunos.
Segundo Bourdieu, a educação perde o papel de instância transformadora e de
democratizadora das sociedades e passa a ser vista, principalmente, como uma das principais
instituições em que são legitimados os privilégios sociais através do capital simbólico. Para o
autor, a instituição escolar trata o descompasso social como natural, pois a escola privilegia
aqueles jovens que já têm uma bagagem cultural oriunda de suas famílias.
O capital simbólico é poder simbólico/invisível que intervém nas relações de força
fundamentais da ordem social, assim, "[...] é o poder atribuído àqueles que obtiveram
reconhecimento suficiente para ter condição de impor o reconhecimento" (BOURDIEU;
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PASSERON, 2014, p. 167). Essa prática é transmitida pela convivência familiar e pelo
sistema escolar e pode ser observado sob três formas: incorporado, objetivado e
institucionalizado.
Cada uma dessas formas tem seus sentidos relacionados ao capital cultural inerente a
ela. Trata-se do capital incorporado às disposições do corpo, ou seja, à maneira de se sentar,
comer, caminhar, falar, entre outros exemplos. Já o estado objetivado é a materialização do
bem cultural, tal como a posse de livros, quadros, entre outros. E, por fim, a
institucionalização do capital cultural ocorre por meio de títulos escolares e diplomas
universitários (BOURDIEU, 1990).
Adicionalmente, segundo Bourdieu (1990), o agente absorve igualmente da
fenomenologia o processo de construção do fato social como objeto e a ideia de que são os
agentes sociais que constroem a realidade social, embora sustente que o princípio desta
constituição é estrutural. Bourdieu (1996) desenvolveu um modelo em que as relações sociais
se dão em um espaço social que é, simultaneamente, um espaço simbólico. Neste modelo, um
agente social (um grupo qualquer), historicamente situado em uma sociedade, ocupa um
conjunto de posições sociais, vinculado por uma relação de homologia a um conjunto de
atividades ou de bens, também definidos de forma relacional. Este modelo é a condição para a
análise das relações entre as posições sociais, as disposições (
habitus
) e tomadas de posição
(escolhas) feitas pelos agentes sociais nos diferentes domínios da prática.
Desta forma, Bourdieu e Passeron (2009) observa que a ação das estruturas sociais
sobre o comportamento individual se dá de dentro para fora e não o inverso. Tal ação se dá, a
princípio, no ambiente social e familiar, evidenciando uma posição específica na estrutura
social. Neste cenário, os indivíduos incorporam um conjunto de práticas para a ação típica
dessa posição, típico de um
habitus
familiar ou de classe e, posteriormente, passam a conduzi-
los ao longo do tempo e nos diversos ambientes de ação. Segundo esse ponto de vista, as
ações, os comportamentos, as escolhas e/ou as aspirações individuais não derivam de cálculos
ou planejamentos, pois são, antes, produtos da relação entre um
habitus
e as pressões e
estímulos de uma conjuntura.
[...] O campo social determina o comportamento dos agentes sociais,
fazendo com que suas atitudes, seus modos de agir, socialmente explicáveis,
socialmente construídos, não passem pela consciência de quem age. É o que
o sociólogo francês denomina
habitus
, ou seja, quando não há necessidade
de raciocinar para se orientar de maneira racional num determinado campo
(CRUVINEL; TAVARES NETO, 2020, p. 404).
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Nesse sentido, para Bourdieu e Passeron (2014), o acúmulo de práticas familiares
inclui certos componentes que passam a fazer parte da própria subjetividade do indivíduo,
sobretudo, o capital cultural na sua forma incorporada. Segundo Bourdieu, o capital cultural
constitui, especialmente, na sua forma incorporada o elemento da bagagem familiar, a qual
teria maior impacto na definição do destino escolar.
A educação formal adquiriu crescente importância nas sociedades modernas,
seja no âmbito da socialização, seja na determinação dos papéis sociais dos
indivíduos. Se assim acontece, e tendo-se em vista que a escola não é o
primeiro nem o único ambiente de socialização frequentado pelos
indivíduos, há, ainda, fatores exteriores à escola que auxiliam na
determinação da trajetória escolar. [...] Diversos são os fatores externos à
escola ou ao próprio sistema educacional que condicionam, influenciam ou
limitam o alcance educacional de diferentes grupos sociais. Os Recursos
Familiares e o estrato ocupacional original dos pais dos indivíduos são
comumente apontados como fatores relevantes na determinação da
longevidade educacional (MENDES; COSTA, 2015, p. 73-74).
Então, pode-se entender que o fato de o agente escolher fazer parte de um sistema de
ensino é estar à frente de sua decisão. Para o sociólogo, o ensino não é transmitido da mesma
forma para todos os alunos, assim como as instituições fazem parecer. Segundo o autor, os
alunos pertencentes às classes sociais mais favorecidas trazem de berço uma herança, da qual
ele chamou de capital cultural. Para ele, a cultura são os valores e significados que orientam e
dão personalidade a um grupo social. Logo, capital cultural é uma metáfora criada por
Bourdieu para explicar como a cultura em uma sociedade dividida em classes se transforma
em uma espécie de moeda, a qual é utilizada pelas classes sociais dominantes para acentuar as
diferenças. Assim, a cultura se transforma em um instrumento de dominação, uma vez que as
classes dominantes impõem às classes dominadas a sua própria cultura.
De acordo com Bourdieu e Passeron (2014), a sociedade é o constructo de um
conjunto relacional ligado às hierarquias de capital, sendo que esse capital está dividido, em
especial, no âmago das relações econômicas, relacionadas ao capital econômico; das relações
simbólicas que estão ligadas ao capital simbólico; das relações sociais, ao capital social e, por
fim, das relações culturais, ao capital cultural dos agentes – privilegiando, assim, em grande
parte, indivíduos que pertencem a grupos que comungam de um grande volume de capital.
Assim, o acúmulo de bens simbólicos, dentre eles a educação, concentram-se nas estruturas
do pensamento dos indivíduos, bem como nas manifestações externalizadas por suas ações
(BOURDIEU, 1983).
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Dentro das análises feitas no campo das políticas educacionais, os conceitos de
habitus
, campo e poder simbólico, ambos de Bourdieu (2003); possibilitam uma melhor
compreensão dos mecanismos de conservação e reprodução que operam nas atividades
humanas e nos diferentes espaços sociais, visto que somos agentes quando atuamos e
escolhemos os princípios geradores e organizadores das nossas práticas, ações, representações
e pensamentos.
Habitus
surge então como um conceito capaz de conciliar a oposição
aparente entre a realidade exterior e as realidades individuais. Capaz de
expressar o diálogo, a troca constante e recíproca entre o mundo objetivo e o
mundo subjetivo das individualidades.
Habitus
é então concebido como um
sistema de esquemas individuais, socialmente constituído de disposições
estruturadas (no social) e estruturantes (nas mentes), adquirido nas e pelas
experiências práticas (em condições sociais específicas de existência),
constantemente orientado para funções e ações do agir cotidiano (SETTON,
2002 p. 63).
À medida em que o indivíduo contribui para a formação das estruturas sociais, tais
estruturas interferem na vida do indivíduo. Bourdieu tenta decifrar como a sociedade
consegue reproduzir nos indivíduos as suas estruturas políticas, morais e éticas. E defende
que, muitas vezes, a reprodução acontece sem se perceber, a partir de uma incorporação
inconsciente das estruturas, o que é possível perceber nas diferentes maneiras de agir, de
acordo com o meio ao qual se permanece inserido. Para o autor, o mundo social é objeto de
três modos de conhecimento teórico, são eles: fenomenológico, objetivista e o praxiológico.
Eles são assim definidos:
[O fenomenológico considera] a verdade da experiência primeira do mundo
social, isto é, a relação de
familiaridade
com o meio familiar, apreensão do
mundo social como mundo natural e evidente, sobre o qual, por definição,
não se pensa, e que exclui a questão de suas próprias condições de
possibilidade. O conhecimento que podemos chamar de
objetivista
(de que a
hermenêutica estruturalista é um caso particular) (que) constrói relações
objetivas (isto é, econômicas e lingüísticas [sic]), que estruturam as práticas
e as representações práticas ao preço de uma ruptura com esse conhecimento
primeiro e, portanto, com os pressupostos tacitamente assumidos que
conferem ao mundo social seucaráter de evidência e natural [...] Enfim, o
conhecimento que podemos chamar de
praxiológico
(que) tem como objeto
não somente o sistema das relações objetivas que o modo de conhecimento
objetivista constrói, mas também as relações
dialéticas
entre essas estruturas
e as
disposições
estruturadas nas quais elas se atualizam e que tendem a
reproduzi-las, isto é, o duplo processo de interiorização da exterioridade e
exteriorização da interioridade (BOURDIEU, 1983, p. 46-47).
Pensar a relação entre indivíduo e sociedade com base na categoria
habitus
implica em
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afirmar que o individual, o pessoal e o subjetivo são, simultaneamente, sociais e
coletivamente orquestrados. De certa forma, a contribuição de Bourdieu à educação se aplica
à quebra de paradigmas do senso comum, em contrapartida, legitima a ideia de que os
mecanismos sociais são dotados de construções e estruturações que objetivam manter a
herança cultural. No campo simbólico, a educação se concentra em estabelecer a dominação
de uma classe social sobre a outra.
Políticas de acesso e permanência no ensino superior no Brasil: por um novo
habitus
nas
universidades
Desde o início da história da educação no Brasil, o que se observa são estudantes das
camadas sociais privilegiadas com acesso às escolas bem-conceituadas, as quais tinham
melhores condições de preparar os sujeitos para o ingresso em universidades públicas ou em
universidades privadas de prestígio. Assim, com base em Bourdieu, torna-se possível
constatar que esses estudantes estão no ambiente legítimo de perpetuação da ordem simbólica,
ou seja, da cultura dominante.
De acordo com Nogueira (2000), o fato de a burguesia entrar na universidade já faz
parte de seu destino escolar, uma vez que, o
habitus
desses jovens está condicionado ao
ingresso no ensino superior. Ao lado disso, Bourdieu (2012), ao tratar de temas sobre as elites
econômicas e culturais, mostra como são ofertadas a esses indivíduos maiores condições de
usufruir de ambientes escolares, em especial, isto se deve ao fato de que o sucesso escolar,
para essas famílias é tido como algo natural, que não depende de um grande esforço de
mobilização familiar. Além disso, deve-se considerar que as condições objetivas estabelecidas
fazem parte de um volume expressivo de capitais econômicos, sociais e culturais, tornando o
fracasso escolar bastante improvável.
O sistema teórico, segundo Bourdieu (1983), tem como fundamento mostrar de que
modo as condições de participações sociais dos indivíduos são baseadas em suas heranças
sociais, que são reproduzidas constantemente em uma determinada sociedade - a qual ele
chama de estrutura estruturante. Ou seja, a sociedade seria uma estrutura estruturante na
medida em que suas mais profundas relações estão sendo constantemente reestruturadas a
partir das ações dos seus indivíduos. Assim, o acúmulo dos bens simbólicos, dentre eles a
educação, concentra-se nas estruturas do pensamento dos indivíduos, além disso, nas
manifestações externalizadas por suas ações.
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Para Bourdieu (2013), o
problema das classes sociais oferece uma oportunidade
particularmente favorável para captar a oposição entre duas perspectivas, isto é, desnuda o
antagonismo aparente entre aqueles que querem provar e aqueles que querem negar a
existência de classes. Tal antagonismo revela, assim, que as classificações são objeto de luta,
capazes de esconder uma oposição mais importante, concernente à teoria do conhecimento do
mundo social.
Desse modo, ao se tratar especialmente da educação superior, observa-se que o espaço
universitário, enquanto instituição, possui uma ambivalência peculiar: ao mesmo tempo em
que se propõe universal, tradicionalmente, é uma instituição voltada a uma parte da sociedade,
uma elite do ponto de vista econômico ou intelectual.
Assim sendo, indivíduos das camadas sociais populares, os quais fizeram parte de
escolas públicas, têm outro caminho a ser trilhado em meio às disparidades educacionais, uma
vez que esses estudantes estão condicionados às práticas escolares e ao mercado de trabalho
para garantir a sobrevivência financeira.
No início do século XXI, na história da educação brasileira, a partir de um processo de
expansão da educação superior, verificou-se uma necessidade de pensar em estratégias para
uma efetiva democratização da educação, que incluísse a ampliação do acesso e o
fortalecimento do ensino público, além de políticas que possibilitassem a permanência dos
estudantes no sistema educacional superior (BRITO; SOUZA; ALMEIDA, 2021).
Nesse contexto, aliado ao processo de expansão, surgiram discussões sobre políticas
de assistência estudantil, ainda que sob expectativas neoliberais, impostas pela lógica do
capitalismo e com influência dos organismos internacionais, que indicavam a educação
superior como alavanca de desenvolvimento econômico. Nesse contexto, as políticas
expansionistas do período proporcionaram a ampliação do ingresso à universidade de uma
parcela da sociedade, anteriormente, impedida de frequentar as instituições de ensino, devido
à baixa condição socioeconômica (ALMEIDA, 2007). Tais políticas contribuíram para a
diversificação do público ingressante na educação superior e propiciaram a constituição de
espaços de embates e demandas a favor do papel do Estado no desenvolvimento de políticas
de assistência como direito dos estudantes.
Um dos maiores reflexos da forma como essas políticas impactam a (re)organização
desses espaços pode ser observado, por exemplo, no percentual de acadêmicos matriculados
em universidades públicas brasileiras, considerados pertencentes a grupos menores, no ano de
2019.
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No Gráfico 1, abaixo, é possível observar uma coleta de dados feita, com base no
Censo da Educação Superior de 2020, sobre a forma como as vagas ocupadas por alunos do
ensino superior já trazem uma importante diversidade étnico-racial, com base em um estudo
que toma como categorias cor/raça na educação superior, conforme autodeclaração dos
alunos; o que nos revelam, assim, uma presença, ainda que pequena, desses grupos menores
no acesso aos bancos acadêmicos.
Gráfico 1 –
Percentual de declarações relativas à variável cor/raça do aluno (em relação à
matrícula) – Brasil – 2019
Fonte: Elaborado por Deed/Inep com base nos dados do Censo da Educação Superior (INEP, 2020)
Ao tomar como base o gráfico acima, composto por informações coletadas a partir de
declarações entregues no ato da matrícula em cursos de graduação no Brasil referentes ao
Censo do ano de 2020, verifica-se que ainda representam o maior percentual, com 42,6%, o
número de acadêmicos que se autodeclaram de cor branca. Entretanto, considerando a
vigência de políticas de cotas, observa-se um cenário modificado nesses espaços, com a
presença nas universidades públicas brasileiras de 31,1% de pessoas que se autodeclaram de
cor parda, ao lado dessas, são 7,1% de pessoas que se autodeclaram de cor preta, ou ainda, são
1,7% de pessoas que se autodeclaram da cor amarela e, por fim, são 0,7% que se
autodeclaram indígenas. Também há neste grupo um total de 16,8% que não se
autodeclararam pertencentes a algum desses grupos.
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Destaca-se que, nas universidades federais, houve mudanças significativas advindas de
um conjunto de políticas educacionais, sobretudo, após os anos 2000. Registra-se, dentre elas,
o Decreto n° 6.096 de 2007, referente ao Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e
Expansão das Universidades Federais (REUNI). Esse programa representou uma fase
expansionista das universidades e resultou na criação de nove universidades federais, além da
consolidação ou instalação de 41 campis, principalmente, no interior do país (BRITO;
SOUZA; ALMEIDA, 2021).
Por esse viés, além das políticas de expansão no setor público, houve a preocupação
com a inclusão, ou ainda, segundo Veloso e Maciel (2015), com um “discurso de inclusão”;
que diz respeito à preocupação com o acesso e a permanência de estudantes com
vulnerabilidade sócio-econômica na educação superior.
Cruvinel e Tavares Neto (2020) salientam que a universidade brasileira sempre esteve
na contramão para o caminho dos excluídos, mas como o advento das políticas públicas de
inclusão social, sobretudo, as voltadas para a assistência estudantil, o ensino superior tornou-
se um pouco mais acessível para as camadas historicamente marginalizadas. Assim, a
democratização do acesso e as oportunidades de condições de permanência desencadearam
uma gradativa transformação do
habitus
da universidade brasileira.
Para os referidos autores, a histórica desigualdade social brasileira que a atinge,
principalmente, a população preta e parda repercutiu, diretamente, na predominância dos
assentos brancos nas universidades do país. Essa realidade passou a legitimar o
habitus
de
distinção ao longo da história no qual era natural o acesso da elite branca ao ambiente
acadêmico. Esse capital simbólico oriundo da chancela do diploma em nível superior consiste
em uma das dimensões da exclusão social, no qual a universidade representava um espaço de
segregação.
As universidades brasileiras, principalmente, as públicas, tornaram-se ao longo da
história um reduto do elitismo do país. Consequentemente, quando todos os agentes de
determinado campo social compartilham a mesma origem societária é inevitável que não se
legitime
habitus
de distinção entre as classes sociais. Cruvinel e Tavares Neto (2020, p. 402)
apontam que o campo social é um “fator determinante para o comportamento dos agentes
sociais, fazendo com que suas atitudes, seus modos de agir, socialmente explicáveis,
socialmente construídas, não passem pela consciência de quem age”. Logo, as universidades
se constituíram no Brasil como “um campo social no qual os seus agentes compartilham o
mesmo
habitus”
.
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, Presidente Prudente, v. 33, e022021, jan./dez. 2022. e-ISSN: 2236-0441
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Os condicionamentos associados a uma classe particular de condições de
existência produzem habitus, sistemas de disposições duráveis e
transponíveis, estruturas estruturadas predispostas a funcionar como
estruturas estruturantes, ou seja, como princípios geradores e organizadores
de práticas e de representações que podem ser objetivamente adaptadas ao
seu objetivo sem supor a interação consciente de fins e o domínio expresso
das operações necessárias para alcançálos, objetivamente “reguladas” e
“regulares” sem em nada ser o produto da obediência a algumas regras e,
sendo tudo isso, coletivamente orquestradas sem ser o produto da ação
organizadora de um maestro (BOURDIEU, 2009, p. 87).
Nessa vertente, denota-se que a democratização da universidade proporciona uma
ascensão social e simbólica aos indivíduos historicamente marginalizados, bem como amplia
a diversidade da universidade em toda sociedade. As distinções de classes, legitimadas pela
ideia deformada de meritocracia são revistas em virtude da defesa da justiça social e da
democratização do ensino superior, como narrativa de contestação a naturalização do habitus
histórico de elitização nas universidades (CRUVINEL; TAVARES NETO, 2020).
Assim, a
s políticas de inclusão iniciaram com o Programa Universidade para Todos
(Prouni), instituído pela Lei nº 11.096/2005; bem como, com o Fundo de Financiamento
Estudantil (Fies), existente desde 2001, que confere financiamento aos estudantes para cursar
o ensino superior em instituições privadas. Tais políticas priorizam o ingresso e podem
favorecer a permanência dos alunos que desejam realizar os seus cursos em IES privadas.
Já no setor público, o Programa Nacional de Assistência Estudantil (PNAES),
instituído pelo Decreto nº 7.234/2010, que oferece apoio financeiro e auxílio ao estudante; é
um dos elementos que favorece a continuidade dos estudos na educação superior, ou seja,
contribui para a sua permanência. Assim sendo, segundo Brito, Costa e Almeida (2019, p.
1865), a assistência perpassa todas as áreas dos direitos sociais e “compreende ações que
proporcionam condições de saúde, instrumentos pedagógicos necessários e recursos mínimos
para a sobrevivência, tais como, moradia, transporte, alimentação, cultura, lazer e outros”.
Paralelo a essas políticas, Calbino, Xavier e Sabino (2020) evidenciam à adoção de
ações afirmativas diversas, que contribui, em especial, para a entrada de jovens pretos e
pardos no ensino superior, por meio da Lei de Cotas, a Lei n° 12.711/2012, sendo possível
observar esses dados no Gráfico 2, a seguir:
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Gráfico 2 –
Proporção de ingressantes em cursos de graduação, por tipo de reserva de vagas –
Brasil – 2019
Fonte: Elaborado por Deed/Inep com base nos dados do Censo da Educação Superior (INEP, 2020)
O Gráfico 2 apresenta a proporção de ingressantes em cursos de graduação no Brasil
no ano de 2019, considerando-se o tipo de reserva de vagas. Em ordem decrescente,
predomina o ingressante por escola pública (87,5%), seguido do ingressante por programa
étnico (8,5%), programa social/renda familiar (2,1%), outros (1,4%) e ingressantes com
deficiência (0,5%).
Com base nesses dados do Gráfico 2, pode-se dizer que, à medida que se amplia o
acesso de discentes advindos de escolas públicas e daqueles considerados em situação de
vulnerabilidade socioeconômica, faz-se necessária a manutenção e ampliação da
implementação de políticas que possibilitem o acesso e a permanência desses universitários,
entendendo-se que essas duas condições são partes indissociáveis e fundamentais de um
processo contínuo de formação.
Mesmo com o ingresso da pauta da assistência estudantil de forma mais incisiva a
partir dos anos 2000 no Brasil, são percebidos alguns desafios enfrentados por essa política
educacional democrática, como é o caso, por exemplo, da evasão escolar. Muitas vezes, a
evasão acontece não só em razão da insuficiência de recursos financeiros destinados ao
ensino, mas, pela falta de apoio pedagógico institucional que possibilite a superação das
deficiências trazidas do ensino médio público. É neste espaço que as políticas educacionais,
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responsáveis por criar condições para a efetiva permanência desses acadêmicos assumem um
importante papel de atuar junto aos cursos para que esse público-alvo não abandone seus
estudos.
A assistência estudantil, mesmo que para alunos/as da rede pública, é extremamente
necessária, pois permanecer no ensino superior demanda de gastos financeiros, como
moradia, alimentação, recursos para aquisição de materiais didático-pedagógicos, dentre
outros. Sendo assim, além da ausência do capital simbólico legitimado pelo
habitus
elitizado
nas universidades, os estudantes de classes vulneráveis também dispõem de limitações do
capital material. Por isso, estar e permanecer no ensino superior são condições cruciais para
contrapor a cultura estabelecida nesse campo por conta do volume de capital (econômico,
social e cultural) daqueles que já pertencem a esse espaço (BOURDIEU, 2004).
Dito isso, tem-se que a assistência estudantil é composta por uma variedade de eixos
de atuação e adota como proposta a articulação de diferentes áreas dos direitos humanos, das
quais são resultados de distintas políticas sociais, de modo a garantir um padrão de proteção
social amplo. Essas áreas compreendem ações que envolvem ideais, condições de saúde,
acesso aos instrumentos pedagógicos para formação profissional, acompanhamento das
necessidades educativas especiais, além de necessidades básicas dos estudantes, tais como
moradia, alimentação, transporte e recursos financeiros.
Face as discussões de democratização do acesso e da permanência, a educação
superior é tema de destaque nos espaços acadêmicos, social, político e midiático como,
também, na agenda oficial dos governos do período. O ingresso destes grupos – egressos de
escola pública, camadas populares, pretos, pardos, indígenas e pessoas com deficiência –
gerou debates e reforçou a necessidade de programas de assistência estudantil voltadas para a
permanência dos estudantes nas instituições até a conclusão de seus cursos.
Em geral, eles [os estudantes] apontam dificuldades de ordem material, mas
também ressaltam os desafios diante da percepção de que a vida transita
entre dois mundos, em universos simbólicos diferentes. Por isso, ao mesmo
tempo em que o acesso à universidade é comemorado e concebido como
grande possibilidade de a percepção da alteridade pode se apresentar como
um desafio (MONGIM, 2017, p. 151).
Estudos como o de Cordeiro e Cordeiro (2015) enfatizam que a evasão universitária
diminuiu diante da implementação de políticas de assistência estudantil para combater não só
as vulnerabilidades econômicas, mas, também, o baixo capital cultural de escolaridade
universitária proveniente de suas origens.
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Nessa direção, por meio das políticas públicas, assegurarem o alcance do acesso e da
permanência desse grupo de discentes no ensino superior passou a ser elemento fundamental
de garantias de conclusão de formação universitária e de aquisição de capital simbólico, uma
vez que o acesso, por si só, não se mostrava suficiente para propiciar tal condição. Assim, as
principais características desses programas de políticas educacionais tomam como base ações
voltadas tanto para o acesso (ingresso), quanto para a permanência de estudantes nesse nível
formativo.
Diante do exposto, conhecer os elementos que interferem no acesso e na permanência
dos/as estudantes é uma demanda que deve ser compreendia para além da esfera individual e
econômica. Como Bourdieu evidencia, a educação superior é compreendida como campo
científico, “um espaço de relações em constante luta pelas posições dominantes, pela
distribuição de capital específico e pela disputa de estratégias e chances objetivas dos agentes
universitários” (MATTOS; FERNANDES, 2019, p. 162).
Logo, os/as discentes oriundos de classes vulneráveis tendem a ter o desafio da
vivência do ensino superior com influência do
habitus
acadêmicos distinto do seu capital
cultural de origem. Essa realidade faz com que a demanda por políticas de assistência
estudantil no ensino superior seja necessária para contrapor o
habitus
excludente,
historicamente, presente nas universidades brasileiras.
É possível inferir, portanto, que as políticas de inclusão nas universidades voltadas
para o acesso e a permanência tendem a impactar no
habitus
estabelecido, historicamente, no
âmbito da academia. Isso demonstra que apesar de enraizado, um
habitus
pré-determinado
não é durável eternamente. Desse modo, o diploma universitário passa a ser um status não
mais restrito apenas a elite, mas, também, a outras camadas da população brasileira.
Considerações finais
Para Pierre Bourdieu (2012), a educação tem limitações entrelaçadas a aspectos da
relação entre herança familiar, cultural e desempenho escolar. Assim, esta educação
estabelece uma importante relação entre o papel da escola, a reprodução e legitimação das
desigualdades sociais no contexto do capitalista. Encontramos nas obras do autor um
pensamento sobre o espaço social na integração das representações coletivas e na autonomia
das formas culturais, resultantes da dialética entre o papel dos sujeitos ativos, marcados pela
distribuição do capital simbólico.
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Ainda com base em Bourdieu, a universidade é vista, historicamente, como um espaço
para ratificar os mecanismos sociais que são dotados de construções e estruturações que visam
manter o
habitus
da herança cultural dominante. Assim, para que a composição social da
universidade seja efetivamente alterada, de modo a garantir que os estudantes tenham o
direito à educação – abrangendo as suas múltiplas dificuldades, que incluem questões
distributivas e de reconhecimento –, é preciso debater a função social da universidade e
possibilitar o acesso e a permanência de camadas sociais menos favorecidas como um
instrumento para construção de um novo
habitus
universitário, no qual a inclusão, a
diversidade social e a democracia sejam pilares de uma formação voltada para a emancipação
e cidadania.
Além disso, destaca-se que a busca de redução das desigualdades socioeconômicas faz
parte do processo de democratização das universidades e da sociedade. Entretanto, essa
democratização não pode se efetivar somente através do acesso à educação superior pública.
Torna-se indispensável criar mecanismos que garantam a permanência de alunos dos
segmentos sociais mais pauperizados, os quais apresentam dificuldades concretas em concluir
sua graduação.
Ao mesmo tempo, pensar a presença de novos agentes no espaço universitário requer
de seus gestores novas problematizações e compreensões de questões que garantam a
permanência desses acadêmicos no espaço escolar. Nesta perspectiva, refletir sobre a
permanência estudantil significa trazer para o primeiro plano a responsabilidade social da
universidade como instituição, a qual se propõe a planejar e indicar soluções para as
desigualdades socioeducacionais do país.
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Como referenciar este artigo
BRITO, A. C. T. C.; COSTA, A. K. T.; SOUZA, K. R. Política pública de assistência
estudantil no ensino superior brasileiro como um instrumento para novos habitus nas
universidades.
Nuances Est. Sobre Educ.
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2022. e-ISSN: 2236-0441. DOI: https://doi.org/10.32930/nuances.v33i00.9630
Submetido em
: 10/06/2022
Revisões requeridas
: 21/07/2021
Aprovado em
: 17/08/2022
Publicado em
: 30/09/2022
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PUBLIC POLICY OF STUDENT ASSISTANCE IN BRAZILIAN HIGHER
EDUCATION AS AN INSTRUMENT FOR NEW HABITS IN UNIVERSITIES
POLÍTICA PÚBLICA DE ASSISTÊNCIA ESTUDANTIL NO ENSINO SUPERIOR
BRASILEIRO COMO UM INSTRUMENTO PARA NOVOS HABITUS NAS
UNIVERSIDADES
POLÍTICA PÚBLICA DE ATENCIÓN ESTUDIANTIL EN LA EDUCACIÓN
SUPERIOR BRASILEÑA COMO INSTRUMENTO PARA NUEVOS HÁBITOS EN LAS
UNIVERSIDADES
Adriana Carla Teixeira da Costa BRITO
1
Ana Karoliny Teixeira da COSTA
2
Kellcia Rezende SOUZA
3
ABSTRACT
: This article presents the results of a research inserted in the field of discussions
on student assistance policies in higher education in Brazil and adopts as an analytical axis the
concepts of access and permanence in public universities. Based on the discussions of French
sociologist Pierre Bourdieu, it seeks to reflect on the influence of student assistance policy in
higher education as an instrument for the formation of new habitus in Brazilian universities.
Therefore, through a qualitative approach, a bibliographic and documentary research was
carried out. In addition to data from the literature in the area, data from the 2020 Higher
Education Census/Inep were collected. These materials were problematized from the content
analysis. The study makes it possible to point out that public educational policies aimed at
guaranteeing access and permanence in higher education are crucial for overcoming
educational inequality and also for changing the elitist habitus historically established in the
country's universities, since that, committed to the insertion of benefits to the popular classes,
it is possible to provide the conditions to democratize the educational symbolic capital, as can
be seen in the discussions in Pierre Bourdieu.
KEYWORDS
: Student assistance. Cultural capital. Higher education. Habitus. Educational
policies.
1
Federal University of Grande Dourados (UFGD), Dourados – MS – Brazil. Doctoral student in the Graduate
Program in Education. ORCID: https://orcid.org/0000-0002-3356-0456. E-mail: adrianacarlacosta@gmail.com
2
Federal University of Grande Dourados (UFGD), Dourados – MS – Brazil. Doctoral student in the Graduate
Program in Education. ORCID: https://orcid.org/0000-0001-8604-6621. E-mail: karoliny_costa@hotmail.com
3
Federal University of Grande Dourados (UFGD), Dourados – MS – Brazil. Professor in the Graduate Program
in Education and in the Graduate Program in Public Administration. Doctorate in School Education (UNESP).
ORCID: https://orcid.org/0000-0002-8663-4615. E-mail: kellcia@hotmail.com
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DOI:
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2
RESUMO
: Este artigo traz os resultados de uma pesquisa inserida no campo das discussões
sobre as políticas de assistência estudantil na educação superior no Brasil e adota como eixo
analítico as concepções de acesso e permanência na universidade pública. Ao tomar como
base as discussões do sociólogo francês Pierre Bourdieu, busca-se refletir sobre a influência
da política de assistência estudantil no ensino superior como um instrumento para a
formação de novos habitus nas universidades brasileiras. Para tanto, mediante abordagem
qualitativa, foi realizado uma pesquisa bibliográfica e documental. Além dos dados da
literatura da área, foram coletados dados do Censo da Educação Superior/Inep do ano de
2020. Esses materiais foram problematizados a partir da análise de conteúdo. O estudo
permite apontar que as políticas públicas educacionais voltadas para a garantia do acesso e
da permanência no ensino superior são cruciais para a superação da desigualdade
educacional e, também, para a mudança do habitus elitizado estabelecido, historicamente,
nas universidades do país, uma vez que empenhadas na inserção de benefícios às camadas
populares é possível propiciar as condições para democratizar o capital simbólico
educacional, conforme se faz observar nas discussões em Pierre Bourdieu.
PALAVRAS-CHAVE
:
Assistência estudantil. Capital cultural. Ensino superior. Habitus.
Políticas educacionais.
RESUMEN
: Este artículo presenta los resultados de una investigación inserta en el campo
de las discusiones sobre las políticas de atención a los estudiantes en la educación superior
en Brasil y adopta como eje de análisis los conceptos de acceso y permanencia en las
universidades públicas. A partir de las discusiones del sociólogo francés Pierre Bourdieu,
busca reflexionar sobre la influencia de la política de asistencia a los estudiantes en la
educación superior como instrumento para la formación de nuevos habitus en las
universidades brasileñas. Por ello, a través de un enfoque cualitativo, se realizó una
investigación bibliográfica y documental. Además de los datos de la literatura en el área, se
recolectaron datos del Censo de Educación Superior/Inep 2020. Estos materiales fueron
problematizados a partir del análisis de contenido. El estudio permite señalar que las
políticas educativas públicas dirigidas a garantizar el acceso y la permanencia en la
educación superior son cruciales para superar la desigualdad educativa y también para
cambiar el habitus elitista históricamente establecido en las universidades del país, ya que,
apuestan por la inserción de beneficios a las clases populares, es posible brindarles las
condiciones para democratizar el capital simbólico educativo, como puede verse en las
discusiones en Pierre Bourdieu.
PALABRAS CLAVE
: Asistencia al estudiante. Capital cultural. Enseñanza superior.
Habitus. Políticas educativas.
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3
Introduction
In modern societies, higher education plays a central role in the process of hierarchy
and social mobility. Individuals with higher education degrees are much more likely to get the
best jobs in terms of wages and working conditions than people who have not completed
higher education.
The influence of family conditions on the formative itinerary of the offspring has
repercussions on school success or failure, as shown in the studies of Pierre Bourdieu, since
the “inequality of educational opportunities influences the intergenerational reproduction of
social inequalities, as education is an important means of social and social ascension”.
economic” (MENDES; COSTA, 2015, p. 72, our translation). In this regard, the authors claim
that aiming for more valued occupational and status positions than those of parents has
become possible, among other factors, thanks to the assured possibilities for access to cultural
capital of distinction based on educational levels. Therefore, higher education has become,
therefore, a symbol of equal opportunities.
According to Bourdieu (1983), education in modern societies is intertwined with
relevant aspects of the relationship between family heritage, especially cultural, and school
performance; in addition to establishing a considerable relationship between the role of the
school and the reproduction and legitimation of social inequalities in the context of
capitalism. For the author, middle-class or upper-bourgeois students, due to their proximity to
“erudite” culture and also due to the cultural or linguistic practices of their family
environment, would be more likely to succeed in school. This is what Bourdieu sought to
demonstrate, based on research carried out in France, that there is a relationship between
culture and school inequalities. Therefore, the elitism present in universities resulted in the
formation of a selectivity habitus, that is, a symbolic capital of distinction between social
classes.
It can be said that in Brazil it is no different, since, historically, access to Higher
Education “has been an important factor of status or class differentiation, as it influences
occupational possibilities, which, in turn, will determine the socioeconomic stratum of
destination” (MENDES; COSTA, 2015, p. 72, our translation). Despite the presence of public
policies for access and permanence in higher education, the fact of being in the university
environment is still a privilege for few (OLIVEIRA, 2007). And it is in this sense that
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government actions, policies and programs have asserted themselves in order to meet the
political and economic interests of a dominant social class.
In this direction, the study aims, from the sociological framework of symbolic capital
of Pierre Bourdieu, to understand the power relations established in the guarantee of public
policies of student assistance aimed at access and permanence in higher education. Therefore,
through a qualitative approach, a bibliographic and documentary research was carried out. In
addition to data from the literature on the subject, data were collected from the Census of
Higher Education/Inep for the year 2020. The analysis of the findings was conducted through
reflection on the content.
The symbolic capital in education
Education has a fundamental role in society, however, the school does not always
provide the individual with opportunity and uniformity in teaching. Until the mid-twentieth
century, studies on the Social Sciences had a very optimistic view of the concept of education,
attributing a central role to schooling in the process of overcoming economic backwardness,
class privilege and authoritarianism. Thus, education was given expectations about the
formation of a new, fair, meritocratic, modern society, that is, centered on reason and
scientific knowledge, in addition to being democratic, based on individual autonomy
(ALMEIDA, 2007).
In line with this thought, with the creation of free public schools, it was believed that,
according to Almeida (2007), the problem of access to education would be solved and, thus,
guaranteed, in principle, equal opportunities for all citizens. - through the availability of
vacancies to serve all social strata. Along these same lines, it was assumed that individuals
would compete within the education system on an equal footing. Thus, those who excelled in
their studies would be awarded, as a matter of justice, with progress in the school years and,
later, with the occupation of a privileged status in the social hierarchy.
It so happens that, in the mid-1960s, views on education and their conceptions of
systems were reinterpreted, abandoning the idea that school performance simply depended on
individual gifts; and moving to an understanding that relates performance to students' social
background.
According to Bourdieu, education loses the role of transforming and democratizing
societies and starts to be seen, mainly, as one of the main institutions in which social
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privileges are legitimized through symbolic capital. For the author, the school institution
treats the social mismatch as natural, because the school privileges those young people who
already have a cultural background from their families.
Symbolic capital is symbolic/invisible power that intervenes in the fundamental power
relations of the social order, thus, "[...] it is the power attributed to those who have obtained
sufficient recognition to be able to impose recognition" (BOURDIEU; PASSERON, 2014, p.
167, our translation). This practice is transmitted through family life and the school system
and can be observed in three ways: incorporated, objectified and institutionalized.
Each of these forms has its meanings related to the cultural capital inherent to it. It is
the capital incorporated into the dispositions of the body, that is, the way of sitting, eating,
walking, talking, among other examples. The objectified state, on the other hand, is the
materialization of the cultural asset, such as the possession of books, paintings, among others.
And, finally, the institutionalization of cultural capital occurs through school titles and
university degrees (BOURDIEU, 1990).
Additionally, according to Bourdieu (1990), the agent also absorbs from
phenomenology the process of construction of the social fact as an object and the idea that
social agents build social reality, although he maintains that the principle of this constitution
is structural. Bourdieu (1996) developed a model in which social relations take place in a
social space that is, at the same time, a symbolic space. In this model, a social agent (any
group), historically situated in a society, occupies a set of social positions, linked by a
homology relationship to a set of activities or goods, also defined in a relational way. This
model is the condition for the analysis of the relationships between social positions,
dispositions (habitus) and positions taken (choices) made by social agents in different
domains of practice.
In this way, Bourdieu and Passeron (2009) observe that the action of social structures
on individual behavior occurs from the inside out and not the other way around. Such action
takes place, at first, in the social and family environment, evidencing a specific position in the
social structure. In this scenario, individuals incorporate a set of practices for the typical
action of this position, typical of a family or class habitus, and, later, they start to lead them
over time and in the different environments of action. From this point of view, actions,
behaviors, choices and/or individual aspirations do not derive from calculations or planning,
as they are, rather, products of the relationship between a habitus and the pressures and
stimuli of a conjuncture.
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[...] The social field determines the behavior of social agents, so that their
attitudes, their ways of acting, socially explainable, socially constructed, do
not pass through the conscience of those who act. This is what the French
sociologist calls habitus, that is, when there is no need to reason in order to
orient oneself in a rational way in a given field (CRUVINEL; TAVARES
NETO, 2020, p. 404, our translation).
In this sense, for Bourdieu and Passeron (2014), the accumulation of family practices
includes certain components that become part of the individual's own subjectivity, above all,
cultural capital in its incorporated form. According to Bourdieu, cultural capital constitutes,
especially, in its incorporated form, the element of family baggage, which would have the
greatest impact on the definition of the school destination.
Formal education has acquired increasing importance in modern societies,
whether in terms of socialization or in determining the social roles of
individuals. If this happens, and considering that the school is not the first
nor the only socialization environment attended by individuals, there are also
factors outside the school that help to determine the school trajectory. [...]
There are several factors external to the school or to the educational system
itself that condition, influence or limit the educational reach of different
social groups. Family Resources and the original occupational stratum of
individuals' parents are commonly identified as relevant factors in
determining educational longevity (MENDES; COSTA, 2015, p. 73-74, our
translation).
So, it can be understood that the fact that the agent chooses to be part of an education
system is to be ahead of its decision. For the sociologist, teaching is not transmitted in the
same way to all students, as institutions make it seem. According to the author, students
belonging to the most favored social classes bring from birth a heritage, which he called
cultural capital. For him, culture is the values and meanings that guide and give personality to
a social group. Therefore, cultural capital is a metaphor created by Bourdieu to explain how
culture in a society divided into classes becomes a kind of currency, which is used by
dominant social classes to accentuate differences. Thus, culture becomes an instrument of
domination, since the dominant classes impose their own culture on the dominated classes.
According to Bourdieu and Passeron (2014), society is the construct of a relational set
linked to capital hierarchies, and this capital is divided, in particular, at the heart of economic
relations, related to economic capital; the symbolic relationships that are linked to symbolic
capital; from social relations, to social capital and, finally, from cultural relations, to the
cultural capital of the agents – thus privileging, to a large extent, individuals who belong to
groups that share a large volume of capital. Thus, the accumulation of symbolic goods,
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including education, is concentrated in the structures of individuals' thoughts, as well as in the
manifestations externalized by their actions (BOURDIEU, 1983).
Within the analyzes carried out in the field of educational policies, the concepts of
habitus, field and symbolic power, both by Bourdieu (2003); enable a better understanding of
the conservation and reproduction mechanisms that operate in human activities and in
different social spaces, since we are agents when we act and choose the principles that
generate and organize our practices, actions, representations and thoughts.
Habitus then emerges as a concept capable of reconciling the apparent
opposition between external reality and individual realities. Capable of
expressing dialogue, the constant and reciprocal exchange between the
objective world and the subjective world of individualities. Habitus is then
conceived as a system of individual schemes, socially constituted of
structured (in the social) and structuring (in minds) dispositions, acquired in
and through practical experiences (in specific social conditions of existence),
constantly oriented towards functions and actions of acting daily
(SETTON,
2002 p. 63, our translation).
As the individual contributes to the formation of social structures, such structures
interfere in the individual's life. Bourdieu tries to decipher how society manages to reproduce
its political, moral and ethical structures in individuals. And he argues that, many times,
reproduction happens without realizing it, from an unconscious incorporation of structures,
which is possible to perceive in the different ways of acting, according to the environment in
which one remains inserted. For the author, the social world is the object of three modes of
theoretical knowledge, namely: phenomenological, objectivist and praxiological. They are
defined as follows:
[The phenomenological considers] the truth of the first experience of the
social world, that is, the relationship of familiarity with the family
environment, apprehension of the social world as a natural and evident
world, about which, by definition, one does not think, and which excludes
the question of its own conditions of possibility. The knowledge that we can
call objectivist (of which structuralist hermeneutics is a particular case)
(which) constructs objective relations (that is, economic and linguistic [sic]),
which structure practices and practical representations at the price of a
rupture with this knowledge first and, therefore, with the tacitly assumed
assumptions that give the social world its evident and natural character [...]
Finally, the knowledge that we can call praxiological (which) has as its
object not only the system of objective relations the objectivist mode of
knowledge builds, but also the dialectical relations between these structures
and the structured dispositions in which they are actualized and which tend
to reproduce them, that is, the double process of interiorization of exteriority
and exteriorization of interiority (BOURDIEU, 1983, p. 46-47, our
translation).
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Thinking about the relationship between individual and society based on the category
habitus implies affirming that the individual, the personal and the subjective are,
simultaneously, socially and collectively orchestrated. In a way, Bourdieu's contribution to
education applies to breaking common-sense paradigms, on the other hand, it legitimizes the
idea that social mechanisms are endowed with constructions and structuring that aim to
maintain the cultural heritage. In the symbolic field, education focuses on establishing the
domination of one social class over another.
Policies of access and permanence in higher education in Brazil: for a new habitus in
universities
Since the beginning of the history of education in Brazil, what has been observed are
students from privileged social strata with access to well-regarded schools, which were better
able to prepare subjects for admission to public universities or prestigious private universities.
Thus, based on Bourdieu, it becomes possible to verify that these students are in the
legitimate environment of perpetuation of the symbolic order, that is, of the dominant culture.
According to Nogueira (2000), the fact that the bourgeoisie enter the university is
already part of their school destiny, since the habitus of these young people is conditioned to
their entry into higher education. In addition, Bourdieu (2012), when dealing with themes
about economic and cultural elites, shows how these individuals are offered greater conditions
to enjoy school environments, in particular, this is due to the fact that school success, for
these families is seen as something natural, which does not depend on a great effort of family
mobilization. In addition, it must be considered that the objective conditions established are
part of a significant volume of economic, social and cultural capital, making school failure
quite unlikely.
The theoretical system, according to Bourdieu (1983), is based on showing how the
conditions of social participation of individuals are based on their social inheritance, which is
constantly reproduced in a given society - which he calls the structuring structure. In other
words, society would be a structuring structure insofar as its deepest relationships are
constantly being restructured based on the actions of its individuals. Thus, the accumulation
of symbolic goods, including education, focuses on the thought structures of individuals, in
addition, on the manifestations externalized by their actions.
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For Bourdieu (2013), the problem of social classes offers a particularly favorable
opportunity to capture the opposition between two perspectives, that is, it lays bare the
apparent antagonism between those who want to prove and those who want to deny the
existence of classes. Such antagonism thus reveals that classifications are an object of
struggle, capable of hiding a more important opposition, concerning the theory of knowledge
of the social world.
Thus, when dealing especially with higher education, it is observed that the university
space, as an institution, has a peculiar ambivalence: at the same time that it proposes to be
universal, traditionally, it is an institution aimed at a part of society, an elite from an economic
or intellectual point of view.
Therefore, individuals from the popular social strata, who were part of public schools,
have another way to go amid educational disparities, since these students are conditioned to
school practices and the job market to ensure financial survival.
At the beginning of the 21st century, in the history of Brazilian education, from a
process of expansion of higher education, there was a need to think of strategies for an
effective democratization of education, which included the expansion of access and the
strengthening of teaching. public education, in addition to policies that allow students to
remain in the higher education system (BRITO; SOUZA; ALMEIDA, 2021).
In this context, together with the expansion process, discussions about student
assistance policies emerged, albeit under neoliberal expectations, imposed by the logic of
capitalism and with the influence of international organizations, which indicated higher
education as a lever for economic development. In this context, the expansionist policies of
the period provided the expansion of admission to university for a portion of society,
previously prevented from attending educational institutions, due to low socioeconomic status
(ALMEIDA, 2007). Such policies contributed to the diversification of the public entering
higher education and provided the creation of spaces for clashes and demands in favor of the
role of the State in the development of assistance policies as a right of students.
One of the biggest reflections of the way these policies impact the (re)organization of
these spaces can be observed, for example, in the percentage of academics enrolled in
Brazilian public universities, considered to belong to smaller groups, in 2019.
In Graph 1, below, it is possible to observe a data collection made, based on the 2020
Higher Education Census, on how the vacancies occupied by higher education students
already bring an important ethnic-racial diversity, based on a study that takes color/race as
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categories in higher education, according to students' self-declaration; which thus reveals a
presence, albeit small, of these smaller groups in accessing academic banks.
Graph 1
– Percentage of statements related to the student's color/race variable (in relation to
enrollment) - Brazil – 2019
Source: Prepared by Deed/Inep based on data from the Higher Education Census (INEP, 2020)
Based on the graph above, composed of information collected from statements
delivered at the time of enrollment in undergraduate courses in Brazil referring to the 2020
Census, it appears that they still represent the highest percentage, with 42.6% , the number of
academics who declare themselves as white. However, considering the validity of quota
policies, a modified scenario is observed in these spaces, with the presence in Brazilian public
universities of 31.1% of people who declare themselves as brown, alongside these, there are
7.1% of people who self-declare as black, or 1.7% of people who self-declare as yellow and,
finally, 0.7% are self-declared indigenous. There is also in this group a total of 16.8% who did
not declare themselves belonging to any of these groups.
It is noteworthy that, in federal universities, there were significant changes arising
from a set of educational policies, especially after the 2000s. Among them, Decree No. 6,096
of 2007, referring to the Support Program Restructuring and Expansion of Federal
Universities (REUNI). This program represented an expansionist phase of universities and
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resulted in the creation of nine federal universities, in addition to the consolidation or
installation of 41 campuses, mainly in the countryside (BRITO; SOUZA; ALMEIDA, 2021).
From this perspective, in addition to expansion policies in the public sector, there was
a concern with inclusion, or even, according to Veloso and Maciel (2015), with an “inclusion
discourse”; with regard to the concern with the access and permanence of students with socio-
economic vulnerability in higher education.
Cruvinel and Tavares Neto (2020) point out that the Brazilian university has always
been against the path of the excluded, but with the advent of public policies for social
inclusion, especially those aimed at student assistance, higher education has become
somewhat more accessible to the historically marginalized layers. Thus, the democratization
of access and opportunities for conditions of permanence triggered a gradual transformation
of the habitus of the Brazilian university.
For the aforementioned authors, the historical Brazilian social inequality that affects,
mainly, the black and brown population had direct repercussions on the predominance of
white seats in the country's universities. This reality began to legitimize the habitus of
distinction throughout history in which the white elite's access to the academic environment
was natural. This symbolic capital arising from the seal of the diploma at a higher level
consists of one of the dimensions of social exclusion, in which the university represented a
space of segregation.
Brazilian universities, especially public ones, have become throughout history a
stronghold of the country's elitism. Consequently, when all agents in a given social field share
the same societal origin, it is inevitable that the habitus of distinction between social classes
will not be legitimized. Cruvinel and Tavares Neto (2020, p. 402, our translation) point out
that the social field is a “determining factor for the behavior of social agents, making their
attitudes, their ways of acting, socially explainable, socially constructed, not pass through the
consciousness of who acts”. Soon, universities were constituted in Brazil as “a social field in
which their agents share the same habitus”.
The conditionings associated with a particular class of conditions of
existence produce habitus, systems of durable and transposable dispositions,
structured structures predisposed to function as structuring structures, that is,
as generative and organizing principles of practices and representations that
can be objectively adapted to their own needs. objective without
presupposing the conscious interaction of ends and the express mastery of
the operations necessary to achieve them, objectively "regulated" and
"regular" without being in any way the product of obedience to some rules
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and, being all this, collectively orchestrated without being the product of
organizing action of a conductor (BOURDIEU, 2009, p. 87, our translation).
In this aspect, it is noted that the democratization of the university provides a social
and symbolic rise to historically marginalized individuals, as well as expands the diversity of
the university throughout society. Class distinctions, legitimized by the deformed idea of
meritocracy, are reviewed due to the defense of social justice and the democratization of
higher education, as a narrative of contestation of the naturalization of the historical habitus of
elitization in universities (CRUVINEL; TAVARES NETO, 2020).
Thus, inclusion policies started with the University for All Program (Prouni),
established by Law nº 11.096/2005; as well as with the Student Financing Fund (Fies), in
existence since 2001, which provides funding to students to attend higher education in private
institutions. Such policies prioritize admission and may favor the permanence of students who
wish to take their courses at private HEIs.
In the public sector, the National Student Assistance Program (PNAES), established
by Decree No. 7.234/2010, which offers financial support and assistance to students; it is one
of the elements that favors the continuity of studies in higher education, that is, it contributes
to its permanence. Therefore, according to Brito, Costa and Almeida (2019, p. 1865),
assistance permeates all areas of social rights and “comprises actions that provide health
conditions, necessary pedagogical tools and minimum resources for survival, such as housing
, transport, food, culture, leisure and others”.
Parallel to these policies, Calbino, Xavier and Sabino (2020) show the adoption of
different affirmative actions, which contributes, in particular, to the entry of black and brown
young people into higher education, through the Quota Law, Law no. 12,711/2012, and it is
possible to observe these data in Graph 2, below:
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Graph 2 –
Proportion of new entrants to undergraduate courses, by type of vacancy
reservation - Brazil – 2019
Source: Prepared by Deed/Inep based on data from the Higher Education Census (INEP, 2020)
Graph 2 shows the proportion of new entrants to undergraduate courses in Brazil in
2019, considering the type of vacancy reservation. In descending order, those entering public
schools predominate (87.5%), followed by those entering an ethnic program (8.5%),
social/family income program (2.1%), others (1.4%) and students with disabilities (0.5%).
Based on these data in Graph 2, it can be said that, as the access of students from
public schools and those considered to be in a situation of socioeconomic vulnerability
increases, it is necessary to maintain and expand the implementation of policies that enable
the access and permanence of these university students, understanding that these two
conditions are inseparable and fundamental parts of a continuous training process.
Even with the introduction of the student assistance agenda in a more incisive way
from the 2000s onwards in Brazil, some challenges faced by this democratic educational
policy are perceived, as is the case, for example, of school dropout. Often, dropout occurs not
only because of insufficient financial resources for teaching, but also because of the lack of
institutional pedagogical support that makes it possible to overcome the deficiencies brought
about by public high school. It is in this space that educational policies, responsible for
creating conditions for the effective permanence of these academics, assume an important role
in working with the courses so that this target audience does not abandon their studies.
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Student assistance, even for public school students, is extremely necessary, since
staying in higher education demands financial expenses, such as housing, food, resources for
the acquisition of didactic-pedagogical materials, among others. Thus, in addition to the
absence of symbolic capital legitimized by the elitist habitus in universities, students from
vulnerable classes also have material capital limitations. Therefore, being and staying in
higher education are crucial conditions to counter the culture established in this field due to
the volume of capital (economic, social and cultural) of those who already belong to this
space (BOURDIEU, 2004).
That said, student assistance is composed of a variety of axes of action and adopts as a
proposal the articulation of different areas of human rights, which are the result of different
social policies, in order to guarantee a standard of social protection. wide. These areas include
actions that involve ideals, health conditions, access to pedagogical tools for professional
training, monitoring of special educational needs, as well as basic needs of students, such as
housing, food, transportation and financial resources.
In view of the discussions on the democratization of access and permanence, higher
education is a prominent theme in academic, social, political and media spaces, as well as in
the official agenda of the governments of the period. The entry of these groups – public
school graduates, lower classes, blacks, browns, indigenous peoples and people with
disabilities – generated debates and reinforced the need for student assistance programs aimed
at the permanence of students in institutions until the conclusion of their courses.
In general, they [students] point out material difficulties, but also highlight
the challenges facing the perception that life transits between two worlds, in
different symbolic universes. Therefore, at the same time that access to the
university is celebrated and conceived as a great possibility for the
perception of otherness, it can present itself as a challenge (MONGIM, 2017,
p. 151, our translation).
Studies such as the one by Cordeiro and Cordeiro (2015) emphasize that university
dropout decreased due to the implementation of student assistance policies to combat not only
economic vulnerabilities, but also the low cultural capital of university education from their
origins.
In this direction, through public policies, ensuring the reach of access and permanence
of this group of students in higher education has become a fundamental element of guarantees
of completion of university education and acquisition of symbolic capital, since access,
through in itself, was not sufficient to provide such a condition. Thus, the main characteristics
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of these educational policy programs are based on actions aimed both at access (entry) and at
the permanence of students at this training level.
Given the above, knowing the elements that interfere in the access and permanence of
students is a demand that must be understood beyond the individual and economic sphere. As
Bourdieu shows, higher education is understood as a scientific field, “a space of relationships
in constant struggle for dominant positions, for the distribution of specific capital and for the
dispute over strategies and objective chances of university agents” (MATTOS;
FERNANDES, 2019, p. 162, our translation).
Therefore, students from vulnerable classes tend to face the challenge of experiencing
higher education with the influence of academic habitus distinct from their cultural capital of
origin. This reality makes the demand for student assistance policies in higher education
necessary to counter the excluding habitus, historically, present in Brazilian universities.
It is possible to infer, therefore, that inclusion policies in universities aimed at access
and permanence tend to impact the habitus historically established within the academy. This
demonstrates that, despite being rooted, a predetermined habitus is not eternally durable. In
this way, the university degree becomes a status no longer restricted to the elite, but also to
other layers of the Brazilian population.
Final considerations
For Pierre Bourdieu (2012), education has limitations intertwined with aspects of the
relationship between family and cultural heritage and school performance. Thus, this
education establishes an important relationship between the role of the school, the
reproduction and legitimation of social inequalities in the capitalist context. We find in the
author's works a thought about social space in the integration of collective representations and
in the autonomy of cultural forms, resulting from the dialectic between the role of active
subjects, marked by the distribution of symbolic capital.
Still based on Bourdieu, the university is historically seen as a space to ratify the social
mechanisms that are endowed with constructions and structures that aim to maintain the
habitus of the dominant cultural heritage. Thus, for the social composition of the university to
be effectively changed, in order to guarantee that students have the right to education –
covering its multiple difficulties, which include distributive and recognition issues –, it is
necessary to debate the social function of the university and to enable the access and
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permanence of less favored social strata as an instrument for building a new university
habitus, in which inclusion, social diversity and democracy are pillars of training aimed at
emancipation and citizenship.
In addition, it is highlighted that the search to reduce socioeconomic inequalities is
part of the process of democratization of universities and society. However, this
democratization cannot be effected only through access to public higher education. It is
essential to create mechanisms that guarantee the permanence of students from the most
impoverished social segments, who have real difficulties in completing their graduation.
At the same time, thinking about the presence of new agents in the university space
requires from its managers new problematizations and understandings of issues that guarantee
the permanence of these academics in the school space. In this perspective, reflecting on
student permanence means bringing to the fore the social responsibility of the university as an
institution, which proposes to plan and indicate solutions for the socio-educational
inequalities in the country.
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Submitted
: 10/06/2022
Revisions required
: 21/07/2021
Approved
: 17/08/2022
Published
: 30/09/2022