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Nuances Est. Sobre Educ.
, Presidente Prudente, v. 33, e022021, jan./dez. 2022. e-ISSN: 2236-0441
DOI:
https://doi.org/10.32930/nuances.v33i00.9630
1
POLÍTICA PÚBLICA DE ASSISTÊNCIA ESTUDANTIL NO ENSINO SUPERIOR
BRASILEIRO COMO UM INSTRUMENTO PARA NOVOS
HABITUS
NAS
UNIVERSIDADES
POLÍTICA PÚBLICA DE ATENCIÓN ESTUDIANTIL EN LA EDUCACIÓN
SUPERIOR BRASILEÑA COMO INSTRUMENTO PARA NUEVOS HÁBITOS EN LAS
UNIVERSIDADES
PUBLIC POLICY OF STUDENT ASSISTANCE IN BRAZILIAN HIGHER EDUCATION
AS AN INSTRUMENT FOR NEW HABITS IN UNIVERSITIES
Adriana Carla Teixeira da Costa BRITO
1
Ana Karoliny Teixeira da COSTA
2
Kellcia Rezende SOUZA
3
RESUMO
: Este artigo traz os resultados de uma pesquisa inserida no campo das discussões
sobre as políticas de assistência estudantil na educação superior no Brasil e adota como eixo
analítico as concepções de acesso e permanência na universidade pública. Ao tomar como
base as discussões do sociólogo francês Pierre Bourdieu, busca-se refletir sobre a influência
da política de assistência estudantil no ensino superior como um instrumento para a formação
de novos
habitus
nas universidades brasileiras. Para tanto, mediante abordagem qualitativa,
foi realizado uma pesquisa bibliográfica e documental. Além dos dados da literatura da área,
foram coletados dados do Censo da Educação Superior/Inep do ano de 2020. Esses materiais
foram problematizados a partir da análise de conteúdo. O estudo permite apontar que as
políticas públicas educacionais voltadas para a garantia do acesso e da permanência no ensino
superior são cruciais para a superação da desigualdade educacional e, também, para a
mudança do
habitus
elitizado estabelecido, historicamente, nas universidades do país, uma
vez que empenhadas na inserção de benefícios às camadas populares é possível propiciar as
condições para democratizar o capital simbólico educacional, conforme se faz observar nas
discussões em Pierre Bourdieu.
PALAVRAS-CHAVE
:
Assistência estudantil. Capital cultural. Ensino superior. Habitus
.
Políticas educacionais.
1
Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD), Dourados – MS – Brasil. Doutoranda no Programa de
Pós-Graduação em Educação. ORCID: https://orcid.org/0000-0002-3356-0456. E-mail:
adrianacarlacosta@gmail.com
2
Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD), Dourados – MS – Brasil. Doutoranda no Programa de
Pós-Graduação em Educação. ORCID: https://orcid.org/0000-0001-8604-6621. E-mail:
karoliny_costa@hotmail.com
3
Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD), Dourados – MS – Brasil. Professora do Programa de Pós-
Graduação em Educação e no Programa de Pós-Graduação em Administração Pública. Doutorado em Educação
Escolar (UNESP). ORCID: https://orcid.org/0000-0002-8663-4615. E-mail: kellcia@hotmail.com
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, Presidente Prudente, v. 33, e022021, jan./dez. 2022. e-ISSN: 2236-0441
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RESUMEN
: Este artículo presenta los resultados de una investigación inserta en el campo
de las discusiones sobre las políticas de atención a los estudiantes en la educación superior
en Brasil y adopta como eje de análisis los conceptos de acceso y permanencia en las
universidades públicas. A partir de las discusiones del sociólogo francés Pierre Bourdieu,
busca reflexionar sobre la influencia de la política de asistencia a los estudiantes en la
educación superior como instrumento para la formación de nuevos habitus en las
universidades brasileñas. Por ello, a través de un enfoque cualitativo, se realizó una
investigación bibliográfica y documental. Además de los datos de la literatura en el área, se
recolectaron datos del Censo de Educación Superior/Inep 2020. Estos materiales fueron
problematizados a partir del análisis de contenido. El estudio permite señalar que las
políticas educativas públicas dirigidas a garantizar el acceso y la permanencia en la
educación superior son cruciales para superar la desigualdad educativa y también para
cambiar el habitus elitista históricamente establecido en las universidades del país, ya que,
apuestan por la inserción de beneficios a las clases populares, es posible brindarles las
condiciones para democratizar el capital simbólico educativo, como puede verse en las
discusiones en Pierre Bourdieu.
PALABRAS CLAVE
: Asistencia al estudiante. Capital cultural. Enseñanza superior.
Habitus. Políticas educativas.
ABSTRACT
: This article presents the results of a research inserted in the field of discussions
on student assistance policies in higher education in Brazil and adopts as an analytical axis
the concepts of access and permanence in public universities. Based on the discussions of
French sociologist Pierre Bourdieu, it seeks to reflect on the influence of student assistance
policy in higher education as an instrument for the formation of new habitus in Brazilian
universities. Therefore, through a qualitative approach, a bibliographic and documentary
research was carried out. In addition to data from the literature in the area, data from the
2020 Higher Education Census/Inep were collected. These materials were problematized
from the content analysis. The study makes it possible to point out that public educational
policies aimed at guaranteeing access and permanence in higher education are crucial for
overcoming educational inequality and also for changing the elitist habitus historically
established in the country's universities, since that, committed to the insertion of benefits to
the popular classes, it is possible to provide the conditions to democratize the educational
symbolic capital, as can be seen in the discussions in Pierre Bourdieu.
KEYWORDS
: Student assistance. Cultural capital. Higher education. Habitus. Educational
policies.
Introdução
Nas sociedades modernas, a educação superior desempenha um papel central no
processo de hierarquia e mobilidade social. Indivíduos com diplomas de ensino superior têm
chances muito maiores de conseguir os melhores empregos em termos de salários e condições
de trabalho do que as pessoas que não completaram a educação superior.
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A influência das condições familiares sobre o itinerário formativos das proles
repercute no êxito ou fracasso escolar como mostra os estudos de Pierre Bourdieu, pois a
“desigualdade de oportunidades educacionais influencia a reprodução intergeracional das
desigualdades sociais, por ser a educação importante meio de ascensão social e econômica”
(MENDES; COSTA, 2015, p. 72). Nessa vertente, os autores alegam que almejar posições
ocupacionais e de
status
mais valorizadas do que as dos pais se tornou possível, entre outros
fatores, graças às possibilidades asseguradas para acesso aos capitais culturais de distinção a
partir dos graus de escolarização. Assim sendo, o ensino superior, tornou-se, portanto,
símbolo da igualdade de oportunidades.
Segundo Bourdieu (1983), a educação nas sociedades modernas está entrelaçada a
aspectos relevantes sobre a relação entre herança familiar, sobretudo, cultural, e desempenho
escolar; além de se estabelecer uma considerável relação entre o papel da escola e a
reprodução e legitimação das desigualdades sociais no contexto do capitalismo. Para o autor,
os estudantes de classe média ou da alta burguesia, pela proximidade com a cultura “erudita”
e, também, pelas práticas culturais ou linguísticas de seu meio familiar, teriam maior
probabilidade de obter o sucesso escolar. Fato este que Bourdieu procurou demonstrar, a
partir de pesquisas realizadas na França, que existe relação entre a cultura e as desigualdades
escolares. Assim sendo, o elitismo presente nas universidades resultou na formação de um
habitus
de seletividade, ou seja, um capital simbólico de distinção entre as classes sociais.
Pode-se dizer que no Brasil não é diferente, pois, historicamente, o acesso ao Ensino
Superior “tem sido fator importante de diferenciação de
status
ou de classe, pois influencia as
possibilidades ocupacionais, que, por sua vez, determinarão o estrato socioeconômico de
destino” (MENDES; COSTA, 2015, p. 72). Muito embora haja a presença de políticas
públicas de acesso e permanência na educação superior, o fato de estar no ambiente
universitário ainda é um privilégio para poucos (OLIVEIRA, 2007). E é, nesse sentido, que as
ações, as políticas e os programas de governo têm se afirmado, a fim de atender aos interesses
políticos e econômicos de uma classe social dominante.
Nessa direção, o estudo objetiva a partir do referencial sociológico de capital
simbólico de Pierre Bourdieu, compreender as relações de poder estabelecidas na garantia das
políticas públicas de assistência estudantil voltadas para o acesso e permanência no ensino
superior. Para tanto, mediante abordagem qualitativa, foi realizada uma pesquisa bibliográfica
e documental. Além dos dados da literatura da área que tratam de temática, foram coletados
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dados do Censo da Educação Superior/Inep do ano de 2020. A análise dos achados foi
conduzida pela reflexão atinente ao conteúdo.
O capital simbólico na educação
A educação tem papel fundamental na sociedade, porém, nem sempre a escola
propicia ao indivíduo oportunidade e uniformidade no ensino. Até meados do século XX, os
estudos sobre as Ciências Sociais tinham uma visão bastante otimista sobre o conceito de
educação, atribuindo à escolarização um papel central no processo de superação do atraso
econômico, do privilégio de classes e do autoritarismo. Conferia-se, assim, à educação
expectativas acerca da formação de uma nova sociedade, justa, meritocrática, moderna, ou
seja, centrada na razão e nos conhecimentos científicos, além de ser democrática,
fundamentada na autonomia individual (ALMEIDA, 2007).
Consonante a este pensamento, com a criação de escolas públicas e gratuitas,
acreditava-se que, conforme Almeida (2007), o problema do acesso à educação estaria
resolvido e, assim, garantida, em princípio, a igualdade de oportunidades entre todos os
cidadãos - mediante a disponibilidade de vagas para atender a toda camada social. Nesta
mesma linha, pressupunha-se que os indivíduos competiriam dentro do sistema de ensino em
condições de igualdade. Assim, aqueles que se destacassem aos estudos seriam contemplados,
por uma questão de justiça, com o progresso nos anos escolares e, posteriormente, com a
ocupação de um
status
privilegiado na hierarquia social.
Ocorre que, em meados da década de 1960, os olhares sobre a educação e suas
concepções dos sistemas foram reinterpretados, abandonando-se a ideia de que o desempenho
escolar dependia tão simplesmente dos dons individuais; e passando a adotar uma
compreensão que relaciona o desempenho à origem social dos alunos.
Segundo Bourdieu, a educação perde o papel de instância transformadora e de
democratizadora das sociedades e passa a ser vista, principalmente, como uma das principais
instituições em que são legitimados os privilégios sociais através do capital simbólico. Para o
autor, a instituição escolar trata o descompasso social como natural, pois a escola privilegia
aqueles jovens que já têm uma bagagem cultural oriunda de suas famílias.
O capital simbólico é poder simbólico/invisível que intervém nas relações de força
fundamentais da ordem social, assim, "[...] é o poder atribuído àqueles que obtiveram
reconhecimento suficiente para ter condição de impor o reconhecimento" (BOURDIEU;
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PASSERON, 2014, p. 167). Essa prática é transmitida pela convivência familiar e pelo
sistema escolar e pode ser observado sob três formas: incorporado, objetivado e
institucionalizado.
Cada uma dessas formas tem seus sentidos relacionados ao capital cultural inerente a
ela. Trata-se do capital incorporado às disposições do corpo, ou seja, à maneira de se sentar,
comer, caminhar, falar, entre outros exemplos. Já o estado objetivado é a materialização do
bem cultural, tal como a posse de livros, quadros, entre outros. E, por fim, a
institucionalização do capital cultural ocorre por meio de títulos escolares e diplomas
universitários (BOURDIEU, 1990).
Adicionalmente, segundo Bourdieu (1990), o agente absorve igualmente da
fenomenologia o processo de construção do fato social como objeto e a ideia de que são os
agentes sociais que constroem a realidade social, embora sustente que o princípio desta
constituição é estrutural. Bourdieu (1996) desenvolveu um modelo em que as relações sociais
se dão em um espaço social que é, simultaneamente, um espaço simbólico. Neste modelo, um
agente social (um grupo qualquer), historicamente situado em uma sociedade, ocupa um
conjunto de posições sociais, vinculado por uma relação de homologia a um conjunto de
atividades ou de bens, também definidos de forma relacional. Este modelo é a condição para a
análise das relações entre as posições sociais, as disposições (
habitus
) e tomadas de posição
(escolhas) feitas pelos agentes sociais nos diferentes domínios da prática.
Desta forma, Bourdieu e Passeron (2009) observa que a ação das estruturas sociais
sobre o comportamento individual se dá de dentro para fora e não o inverso. Tal ação se dá, a
princípio, no ambiente social e familiar, evidenciando uma posição específica na estrutura
social. Neste cenário, os indivíduos incorporam um conjunto de práticas para a ação típica
dessa posição, típico de um
habitus
familiar ou de classe e, posteriormente, passam a conduzi-
los ao longo do tempo e nos diversos ambientes de ação. Segundo esse ponto de vista, as
ações, os comportamentos, as escolhas e/ou as aspirações individuais não derivam de cálculos
ou planejamentos, pois são, antes, produtos da relação entre um
habitus
e as pressões e
estímulos de uma conjuntura.
[...] O campo social determina o comportamento dos agentes sociais,
fazendo com que suas atitudes, seus modos de agir, socialmente explicáveis,
socialmente construídos, não passem pela consciência de quem age. É o que
o sociólogo francês denomina
habitus
, ou seja, quando não há necessidade
de raciocinar para se orientar de maneira racional num determinado campo
(CRUVINEL; TAVARES NETO, 2020, p. 404).
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Nesse sentido, para Bourdieu e Passeron (2014), o acúmulo de práticas familiares
inclui certos componentes que passam a fazer parte da própria subjetividade do indivíduo,
sobretudo, o capital cultural na sua forma incorporada. Segundo Bourdieu, o capital cultural
constitui, especialmente, na sua forma incorporada o elemento da bagagem familiar, a qual
teria maior impacto na definição do destino escolar.
A educação formal adquiriu crescente importância nas sociedades modernas,
seja no âmbito da socialização, seja na determinação dos papéis sociais dos
indivíduos. Se assim acontece, e tendo-se em vista que a escola não é o
primeiro nem o único ambiente de socialização frequentado pelos
indivíduos, há, ainda, fatores exteriores à escola que auxiliam na
determinação da trajetória escolar. [...] Diversos são os fatores externos à
escola ou ao próprio sistema educacional que condicionam, influenciam ou
limitam o alcance educacional de diferentes grupos sociais. Os Recursos
Familiares e o estrato ocupacional original dos pais dos indivíduos são
comumente apontados como fatores relevantes na determinação da
longevidade educacional (MENDES; COSTA, 2015, p. 73-74).
Então, pode-se entender que o fato de o agente escolher fazer parte de um sistema de
ensino é estar à frente de sua decisão. Para o sociólogo, o ensino não é transmitido da mesma
forma para todos os alunos, assim como as instituições fazem parecer. Segundo o autor, os
alunos pertencentes às classes sociais mais favorecidas trazem de berço uma herança, da qual
ele chamou de capital cultural. Para ele, a cultura são os valores e significados que orientam e
dão personalidade a um grupo social. Logo, capital cultural é uma metáfora criada por
Bourdieu para explicar como a cultura em uma sociedade dividida em classes se transforma
em uma espécie de moeda, a qual é utilizada pelas classes sociais dominantes para acentuar as
diferenças. Assim, a cultura se transforma em um instrumento de dominação, uma vez que as
classes dominantes impõem às classes dominadas a sua própria cultura.
De acordo com Bourdieu e Passeron (2014), a sociedade é o constructo de um
conjunto relacional ligado às hierarquias de capital, sendo que esse capital está dividido, em
especial, no âmago das relações econômicas, relacionadas ao capital econômico; das relações
simbólicas que estão ligadas ao capital simbólico; das relações sociais, ao capital social e, por
fim, das relações culturais, ao capital cultural dos agentes – privilegiando, assim, em grande
parte, indivíduos que pertencem a grupos que comungam de um grande volume de capital.
Assim, o acúmulo de bens simbólicos, dentre eles a educação, concentram-se nas estruturas
do pensamento dos indivíduos, bem como nas manifestações externalizadas por suas ações
(BOURDIEU, 1983).
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Dentro das análises feitas no campo das políticas educacionais, os conceitos de
habitus
, campo e poder simbólico, ambos de Bourdieu (2003); possibilitam uma melhor
compreensão dos mecanismos de conservação e reprodução que operam nas atividades
humanas e nos diferentes espaços sociais, visto que somos agentes quando atuamos e
escolhemos os princípios geradores e organizadores das nossas práticas, ações, representações
e pensamentos.
Habitus
surge então como um conceito capaz de conciliar a oposição
aparente entre a realidade exterior e as realidades individuais. Capaz de
expressar o diálogo, a troca constante e recíproca entre o mundo objetivo e o
mundo subjetivo das individualidades.
Habitus
é então concebido como um
sistema de esquemas individuais, socialmente constituído de disposições
estruturadas (no social) e estruturantes (nas mentes), adquirido nas e pelas
experiências práticas (em condições sociais específicas de existência),
constantemente orientado para funções e ações do agir cotidiano (SETTON,
2002 p. 63).
À medida em que o indivíduo contribui para a formação das estruturas sociais, tais
estruturas interferem na vida do indivíduo. Bourdieu tenta decifrar como a sociedade
consegue reproduzir nos indivíduos as suas estruturas políticas, morais e éticas. E defende
que, muitas vezes, a reprodução acontece sem se perceber, a partir de uma incorporação
inconsciente das estruturas, o que é possível perceber nas diferentes maneiras de agir, de
acordo com o meio ao qual se permanece inserido. Para o autor, o mundo social é objeto de
três modos de conhecimento teórico, são eles: fenomenológico, objetivista e o praxiológico.
Eles são assim definidos:
[O fenomenológico considera] a verdade da experiência primeira do mundo
social, isto é, a relação de
familiaridade
com o meio familiar, apreensão do
mundo social como mundo natural e evidente, sobre o qual, por definição,
não se pensa, e que exclui a questão de suas próprias condições de
possibilidade. O conhecimento que podemos chamar de
objetivista
(de que a
hermenêutica estruturalista é um caso particular) (que) constrói relações
objetivas (isto é, econômicas e lingüísticas [sic]), que estruturam as práticas
e as representações práticas ao preço de uma ruptura com esse conhecimento
primeiro e, portanto, com os pressupostos tacitamente assumidos que
conferem ao mundo social seucaráter de evidência e natural [...] Enfim, o
conhecimento que podemos chamar de
praxiológico
(que) tem como objeto
não somente o sistema das relações objetivas que o modo de conhecimento
objetivista constrói, mas também as relações
dialéticas
entre essas estruturas
e as
disposições
estruturadas nas quais elas se atualizam e que tendem a
reproduzi-las, isto é, o duplo processo de interiorização da exterioridade e
exteriorização da interioridade (BOURDIEU, 1983, p. 46-47).
Pensar a relação entre indivíduo e sociedade com base na categoria
habitus
implica em
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afirmar que o individual, o pessoal e o subjetivo são, simultaneamente, sociais e
coletivamente orquestrados. De certa forma, a contribuição de Bourdieu à educação se aplica
à quebra de paradigmas do senso comum, em contrapartida, legitima a ideia de que os
mecanismos sociais são dotados de construções e estruturações que objetivam manter a
herança cultural. No campo simbólico, a educação se concentra em estabelecer a dominação
de uma classe social sobre a outra.
Políticas de acesso e permanência no ensino superior no Brasil: por um novo
habitus
nas
universidades
Desde o início da história da educação no Brasil, o que se observa são estudantes das
camadas sociais privilegiadas com acesso às escolas bem-conceituadas, as quais tinham
melhores condições de preparar os sujeitos para o ingresso em universidades públicas ou em
universidades privadas de prestígio. Assim, com base em Bourdieu, torna-se possível
constatar que esses estudantes estão no ambiente legítimo de perpetuação da ordem simbólica,
ou seja, da cultura dominante.
De acordo com Nogueira (2000), o fato de a burguesia entrar na universidade já faz
parte de seu destino escolar, uma vez que, o
habitus
desses jovens está condicionado ao
ingresso no ensino superior. Ao lado disso, Bourdieu (2012), ao tratar de temas sobre as elites
econômicas e culturais, mostra como são ofertadas a esses indivíduos maiores condições de
usufruir de ambientes escolares, em especial, isto se deve ao fato de que o sucesso escolar,
para essas famílias é tido como algo natural, que não depende de um grande esforço de
mobilização familiar. Além disso, deve-se considerar que as condições objetivas estabelecidas
fazem parte de um volume expressivo de capitais econômicos, sociais e culturais, tornando o
fracasso escolar bastante improvável.
O sistema teórico, segundo Bourdieu (1983), tem como fundamento mostrar de que
modo as condições de participações sociais dos indivíduos são baseadas em suas heranças
sociais, que são reproduzidas constantemente em uma determinada sociedade - a qual ele
chama de estrutura estruturante. Ou seja, a sociedade seria uma estrutura estruturante na
medida em que suas mais profundas relações estão sendo constantemente reestruturadas a
partir das ações dos seus indivíduos. Assim, o acúmulo dos bens simbólicos, dentre eles a
educação, concentra-se nas estruturas do pensamento dos indivíduos, além disso, nas
manifestações externalizadas por suas ações.
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Para Bourdieu (2013), o
problema das classes sociais oferece uma oportunidade
particularmente favorável para captar a oposição entre duas perspectivas, isto é, desnuda o
antagonismo aparente entre aqueles que querem provar e aqueles que querem negar a
existência de classes. Tal antagonismo revela, assim, que as classificações são objeto de luta,
capazes de esconder uma oposição mais importante, concernente à teoria do conhecimento do
mundo social.
Desse modo, ao se tratar especialmente da educação superior, observa-se que o espaço
universitário, enquanto instituição, possui uma ambivalência peculiar: ao mesmo tempo em
que se propõe universal, tradicionalmente, é uma instituição voltada a uma parte da sociedade,
uma elite do ponto de vista econômico ou intelectual.
Assim sendo, indivíduos das camadas sociais populares, os quais fizeram parte de
escolas públicas, têm outro caminho a ser trilhado em meio às disparidades educacionais, uma
vez que esses estudantes estão condicionados às práticas escolares e ao mercado de trabalho
para garantir a sobrevivência financeira.
No início do século XXI, na história da educação brasileira, a partir de um processo de
expansão da educação superior, verificou-se uma necessidade de pensar em estratégias para
uma efetiva democratização da educação, que incluísse a ampliação do acesso e o
fortalecimento do ensino público, além de políticas que possibilitassem a permanência dos
estudantes no sistema educacional superior (BRITO; SOUZA; ALMEIDA, 2021).
Nesse contexto, aliado ao processo de expansão, surgiram discussões sobre políticas
de assistência estudantil, ainda que sob expectativas neoliberais, impostas pela lógica do
capitalismo e com influência dos organismos internacionais, que indicavam a educação
superior como alavanca de desenvolvimento econômico. Nesse contexto, as políticas
expansionistas do período proporcionaram a ampliação do ingresso à universidade de uma
parcela da sociedade, anteriormente, impedida de frequentar as instituições de ensino, devido
à baixa condição socioeconômica (ALMEIDA, 2007). Tais políticas contribuíram para a
diversificação do público ingressante na educação superior e propiciaram a constituição de
espaços de embates e demandas a favor do papel do Estado no desenvolvimento de políticas
de assistência como direito dos estudantes.
Um dos maiores reflexos da forma como essas políticas impactam a (re)organização
desses espaços pode ser observado, por exemplo, no percentual de acadêmicos matriculados
em universidades públicas brasileiras, considerados pertencentes a grupos menores, no ano de
2019.
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No Gráfico 1, abaixo, é possível observar uma coleta de dados feita, com base no
Censo da Educação Superior de 2020, sobre a forma como as vagas ocupadas por alunos do
ensino superior já trazem uma importante diversidade étnico-racial, com base em um estudo
que toma como categorias cor/raça na educação superior, conforme autodeclaração dos
alunos; o que nos revelam, assim, uma presença, ainda que pequena, desses grupos menores
no acesso aos bancos acadêmicos.
Gráfico 1 –
Percentual de declarações relativas à variável cor/raça do aluno (em relação à
matrícula) – Brasil – 2019
Fonte: Elaborado por Deed/Inep com base nos dados do Censo da Educação Superior (INEP, 2020)
Ao tomar como base o gráfico acima, composto por informações coletadas a partir de
declarações entregues no ato da matrícula em cursos de graduação no Brasil referentes ao
Censo do ano de 2020, verifica-se que ainda representam o maior percentual, com 42,6%, o
número de acadêmicos que se autodeclaram de cor branca. Entretanto, considerando a
vigência de políticas de cotas, observa-se um cenário modificado nesses espaços, com a
presença nas universidades públicas brasileiras de 31,1% de pessoas que se autodeclaram de
cor parda, ao lado dessas, são 7,1% de pessoas que se autodeclaram de cor preta, ou ainda, são
1,7% de pessoas que se autodeclaram da cor amarela e, por fim, são 0,7% que se
autodeclaram indígenas. Também há neste grupo um total de 16,8% que não se
autodeclararam pertencentes a algum desses grupos.
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Destaca-se que, nas universidades federais, houve mudanças significativas advindas de
um conjunto de políticas educacionais, sobretudo, após os anos 2000. Registra-se, dentre elas,
o Decreto n° 6.096 de 2007, referente ao Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e
Expansão das Universidades Federais (REUNI). Esse programa representou uma fase
expansionista das universidades e resultou na criação de nove universidades federais, além da
consolidação ou instalação de 41 campis, principalmente, no interior do país (BRITO;
SOUZA; ALMEIDA, 2021).
Por esse viés, além das políticas de expansão no setor público, houve a preocupação
com a inclusão, ou ainda, segundo Veloso e Maciel (2015), com um “discurso de inclusão”;
que diz respeito à preocupação com o acesso e a permanência de estudantes com
vulnerabilidade sócio-econômica na educação superior.
Cruvinel e Tavares Neto (2020) salientam que a universidade brasileira sempre esteve
na contramão para o caminho dos excluídos, mas como o advento das políticas públicas de
inclusão social, sobretudo, as voltadas para a assistência estudantil, o ensino superior tornou-
se um pouco mais acessível para as camadas historicamente marginalizadas. Assim, a
democratização do acesso e as oportunidades de condições de permanência desencadearam
uma gradativa transformação do
habitus
da universidade brasileira.
Para os referidos autores, a histórica desigualdade social brasileira que a atinge,
principalmente, a população preta e parda repercutiu, diretamente, na predominância dos
assentos brancos nas universidades do país. Essa realidade passou a legitimar o
habitus
de
distinção ao longo da história no qual era natural o acesso da elite branca ao ambiente
acadêmico. Esse capital simbólico oriundo da chancela do diploma em nível superior consiste
em uma das dimensões da exclusão social, no qual a universidade representava um espaço de
segregação.
As universidades brasileiras, principalmente, as públicas, tornaram-se ao longo da
história um reduto do elitismo do país. Consequentemente, quando todos os agentes de
determinado campo social compartilham a mesma origem societária é inevitável que não se
legitime
habitus
de distinção entre as classes sociais. Cruvinel e Tavares Neto (2020, p. 402)
apontam que o campo social é um “fator determinante para o comportamento dos agentes
sociais, fazendo com que suas atitudes, seus modos de agir, socialmente explicáveis,
socialmente construídas, não passem pela consciência de quem age”. Logo, as universidades
se constituíram no Brasil como “um campo social no qual os seus agentes compartilham o
mesmo
habitus”
.
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Nuances Est. Sobre Educ.
, Presidente Prudente, v. 33, e022021, jan./dez. 2022. e-ISSN: 2236-0441
DOI:
https://doi.org/10.32930/nuances.v33i00.9630
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Os condicionamentos associados a uma classe particular de condições de
existência produzem habitus, sistemas de disposições duráveis e
transponíveis, estruturas estruturadas predispostas a funcionar como
estruturas estruturantes, ou seja, como princípios geradores e organizadores
de práticas e de representações que podem ser objetivamente adaptadas ao
seu objetivo sem supor a interação consciente de fins e o domínio expresso
das operações necessárias para alcançálos, objetivamente “reguladas” e
“regulares” sem em nada ser o produto da obediência a algumas regras e,
sendo tudo isso, coletivamente orquestradas sem ser o produto da ação
organizadora de um maestro (BOURDIEU, 2009, p. 87).
Nessa vertente, denota-se que a democratização da universidade proporciona uma
ascensão social e simbólica aos indivíduos historicamente marginalizados, bem como amplia
a diversidade da universidade em toda sociedade. As distinções de classes, legitimadas pela
ideia deformada de meritocracia são revistas em virtude da defesa da justiça social e da
democratização do ensino superior, como narrativa de contestação a naturalização do habitus
histórico de elitização nas universidades (CRUVINEL; TAVARES NETO, 2020).
Assim, a
s políticas de inclusão iniciaram com o Programa Universidade para Todos
(Prouni), instituído pela Lei nº 11.096/2005; bem como, com o Fundo de Financiamento
Estudantil (Fies), existente desde 2001, que confere financiamento aos estudantes para cursar
o ensino superior em instituições privadas. Tais políticas priorizam o ingresso e podem
favorecer a permanência dos alunos que desejam realizar os seus cursos em IES privadas.
Já no setor público, o Programa Nacional de Assistência Estudantil (PNAES),
instituído pelo Decreto nº 7.234/2010, que oferece apoio financeiro e auxílio ao estudante; é
um dos elementos que favorece a continuidade dos estudos na educação superior, ou seja,
contribui para a sua permanência. Assim sendo, segundo Brito, Costa e Almeida (2019, p.
1865), a assistência perpassa todas as áreas dos direitos sociais e “compreende ações que
proporcionam condições de saúde, instrumentos pedagógicos necessários e recursos mínimos
para a sobrevivência, tais como, moradia, transporte, alimentação, cultura, lazer e outros”.
Paralelo a essas políticas, Calbino, Xavier e Sabino (2020) evidenciam à adoção de
ações afirmativas diversas, que contribui, em especial, para a entrada de jovens pretos e
pardos no ensino superior, por meio da Lei de Cotas, a Lei n° 12.711/2012, sendo possível
observar esses dados no Gráfico 2, a seguir:
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, Presidente Prudente, v. 33, e022021, jan./dez. 2022. e-ISSN: 2236-0441
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Gráfico 2 –
Proporção de ingressantes em cursos de graduação, por tipo de reserva de vagas –
Brasil – 2019
Fonte: Elaborado por Deed/Inep com base nos dados do Censo da Educação Superior (INEP, 2020)
O Gráfico 2 apresenta a proporção de ingressantes em cursos de graduação no Brasil
no ano de 2019, considerando-se o tipo de reserva de vagas. Em ordem decrescente,
predomina o ingressante por escola pública (87,5%), seguido do ingressante por programa
étnico (8,5%), programa social/renda familiar (2,1%), outros (1,4%) e ingressantes com
deficiência (0,5%).
Com base nesses dados do Gráfico 2, pode-se dizer que, à medida que se amplia o
acesso de discentes advindos de escolas públicas e daqueles considerados em situação de
vulnerabilidade socioeconômica, faz-se necessária a manutenção e ampliação da
implementação de políticas que possibilitem o acesso e a permanência desses universitários,
entendendo-se que essas duas condições são partes indissociáveis e fundamentais de um
processo contínuo de formação.
Mesmo com o ingresso da pauta da assistência estudantil de forma mais incisiva a
partir dos anos 2000 no Brasil, são percebidos alguns desafios enfrentados por essa política
educacional democrática, como é o caso, por exemplo, da evasão escolar. Muitas vezes, a
evasão acontece não só em razão da insuficiência de recursos financeiros destinados ao
ensino, mas, pela falta de apoio pedagógico institucional que possibilite a superação das
deficiências trazidas do ensino médio público. É neste espaço que as políticas educacionais,
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responsáveis por criar condições para a efetiva permanência desses acadêmicos assumem um
importante papel de atuar junto aos cursos para que esse público-alvo não abandone seus
estudos.
A assistência estudantil, mesmo que para alunos/as da rede pública, é extremamente
necessária, pois permanecer no ensino superior demanda de gastos financeiros, como
moradia, alimentação, recursos para aquisição de materiais didático-pedagógicos, dentre
outros. Sendo assim, além da ausência do capital simbólico legitimado pelo
habitus
elitizado
nas universidades, os estudantes de classes vulneráveis também dispõem de limitações do
capital material. Por isso, estar e permanecer no ensino superior são condições cruciais para
contrapor a cultura estabelecida nesse campo por conta do volume de capital (econômico,
social e cultural) daqueles que já pertencem a esse espaço (BOURDIEU, 2004).
Dito isso, tem-se que a assistência estudantil é composta por uma variedade de eixos
de atuação e adota como proposta a articulação de diferentes áreas dos direitos humanos, das
quais são resultados de distintas políticas sociais, de modo a garantir um padrão de proteção
social amplo. Essas áreas compreendem ações que envolvem ideais, condições de saúde,
acesso aos instrumentos pedagógicos para formação profissional, acompanhamento das
necessidades educativas especiais, além de necessidades básicas dos estudantes, tais como
moradia, alimentação, transporte e recursos financeiros.
Face as discussões de democratização do acesso e da permanência, a educação
superior é tema de destaque nos espaços acadêmicos, social, político e midiático como,
também, na agenda oficial dos governos do período. O ingresso destes grupos – egressos de
escola pública, camadas populares, pretos, pardos, indígenas e pessoas com deficiência –
gerou debates e reforçou a necessidade de programas de assistência estudantil voltadas para a
permanência dos estudantes nas instituições até a conclusão de seus cursos.
Em geral, eles [os estudantes] apontam dificuldades de ordem material, mas
também ressaltam os desafios diante da percepção de que a vida transita
entre dois mundos, em universos simbólicos diferentes. Por isso, ao mesmo
tempo em que o acesso à universidade é comemorado e concebido como
grande possibilidade de a percepção da alteridade pode se apresentar como
um desafio (MONGIM, 2017, p. 151).
Estudos como o de Cordeiro e Cordeiro (2015) enfatizam que a evasão universitária
diminuiu diante da implementação de políticas de assistência estudantil para combater não só
as vulnerabilidades econômicas, mas, também, o baixo capital cultural de escolaridade
universitária proveniente de suas origens.
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, Presidente Prudente, v. 33, e022021, jan./dez. 2022. e-ISSN: 2236-0441
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Nessa direção, por meio das políticas públicas, assegurarem o alcance do acesso e da
permanência desse grupo de discentes no ensino superior passou a ser elemento fundamental
de garantias de conclusão de formação universitária e de aquisição de capital simbólico, uma
vez que o acesso, por si só, não se mostrava suficiente para propiciar tal condição. Assim, as
principais características desses programas de políticas educacionais tomam como base ações
voltadas tanto para o acesso (ingresso), quanto para a permanência de estudantes nesse nível
formativo.
Diante do exposto, conhecer os elementos que interferem no acesso e na permanência
dos/as estudantes é uma demanda que deve ser compreendia para além da esfera individual e
econômica. Como Bourdieu evidencia, a educação superior é compreendida como campo
científico, “um espaço de relações em constante luta pelas posições dominantes, pela
distribuição de capital específico e pela disputa de estratégias e chances objetivas dos agentes
universitários” (MATTOS; FERNANDES, 2019, p. 162).
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