image/svg+xmlNuances Est. Sobre Educ., Presidente Prudente, v. 33, e022006, jan./dez. 2022. e-ISSN: 2236-0441 DOI: https://doi.org/10.32930/nuances.v33i00.94841 PEDAGOGIA ANCESTRAL: UMA INVESTIGAÇÃO SOBRE EXISTÊNCIA E RESISTÊNCIA DA IDENTIDADE DA COMUNIDADE QUILOMBOLA DE ALTO DO CAPIM, QUIXABEIRA-BA PEDAGOGÍA ANCESTRAL: UNA INVESTIGACIÓN SOBRE LA EXISTENCIA Y RESISTENCIA DE LA IDENTIDAD DE LA COMUNIDAD QUILOMBOLA DE ALTO DO CAPIM, QUIXABEIRA-BAHIAANCESTRAL PEDAGOGY: AN INVESTIGATION INTO THE EXISTENCE AND RESISTANCE OF THE IDENTITY OF THE QUILOMBOLA COMMUNITY OF ALTO DO CAPIM, QUIXABEIRA-BAHIA Brenna NASCIMENTO1Éden de CASTRO2Paulo BRAZÃO3RESUMO: Este trabalho é fruto de uma pesquisa de natureza etnográfica realizada na comunidade Quilombola de Alto do Capim que buscou investigar: Como a pedagogia ancestral contribui para a preservação da identidade da Comunidade Quilombola de Alto do Capim, em Quixabeira-BA? Para esta investigação foi necessário compreender como a pedagogia ancestral contribui para a existência e resistência da identidade da Comunidade Quilombola de Alto do Capim, em Quixabeira-BA; compreender as relações entre pedagogia e ancestralidade; estabelecer a importância da pedagogia ancestral para a preservação da identidade das comunidades quilombolas; Conhecer a história da Comunidade Quilombola de Alto do Capim e discutir sobre os elementos que fomentam a pedagogia ancestral na comunidade quilombola de Alto do Capim. Portanto conclui-se que em se tratando da Comunidade Quilombola de Alto do Capim, os processos de educação informal possuem fragilidades históricas e culturais, uma vez que há pouco autorreconhecimento da ancestralidade na comunidade. PALAVRAS-CHAVE: Pedagogia. Ancestralidade. Pedagogia ancestral. 1Faculdade de Ciências Educacionais Capim Grosso (FCG), Capim Grosso BA Brasil. Graduada em Pedagogia. ORCID: https://orcid.org/0000-0003-4650-3183. E-mail: be.aruiva13@gmail.com 2Secretaria de Educação do Estado da Bahia (SEC), Quixabeira BA Brasil. Coordenador Pedagógico. Membro Fundador e vice-diretor da Academia Quixabeirense de Pedagogia (AQPED). Doutorando em Educação (UNR). ORCID: https://orcid.org/0000-0002-3601-4899. E-mail: edendecastro@live.com 3Universidade da Madeira (UMa), Funchal Portugal. Pesquisador do Centro de Investigação em Educação (CIE-UMa). Doutorado em Educação (UMa). Pós-doutorado em Educação (UFS). ORCID: https://orcid.org/0000-0003-3575-4366. E-mail: jbrazão@staff.uma.pt
image/svg+xmlNuances Est. Sobre Educ., Presidente Prudente, v. 33, e022006, jan./dez. 2022. e-ISSN: 2236-0441 DOI: https://doi.org/10.32930/nuances.v33i00.94842 RESUMEN: Este trabajo es el resultado de una investigación etnográfica realizada en la comunidad quilombola de Alto do Capim que buscó investigar: ¿Cómo contribuye la pedagogía ancestral a la preservación de la identidad de la comunidad quilombola de Alto do Capim, en Quixabeira-BA? Para esta investigación fue necesario comprender cómo la pedagogía ancestral contribuye a la existencia y resistencia de la identidad de la Comunidad Quilombola de Alto do Capim, en Quixabeira-BA; comprender las relaciones entre pedagogía y ascendencia; establecer la importancia de la pedagogía ancestral para la preservación de la identidad de las comunidades quilombolas; Conocer la historia de la Comunidad Quilombola de Alto do Capim y discutir los elementos que fomentan la pedagogía ancestral en la comunidad quilombola de Alto do Capim. Por lo tanto, se concluye que en el caso de la Comunidad Quilombola de Alto do Capim, los procesos de educación informal tienen debilidades históricas y culturales, ya que hay poco autorreconocimiento de la ascendencia en la comunidad. PALABRAS CLAVE: Pedagogía. Ancestralidad. Pedagogía ancestral. ABSTRACT: This article is the result of an ethnographic research carried out in the Quilombola community of Alto do Capim that sought to investigate: How does an ancestral pedagogy contribute to the preservation of the identity of the Quilombola Community of Alto do Capim, in Quixabeira-BA? For this investigation it was necessary to understand how an ancestral pedagogy contributed to the existence and resistance of the identity of the Quilombola Community of Alto do Capim, in Quixabeira-BA; understand the relationships between pedagogy and ancestry; establish the importance of ancestral pedagogy for the preservation of the identity of quilombola communities; Get to know the history of the Quilombola Community of Alto do Capim and challenge the elements that foster ancestral pedagogy in the Quilombola community of Alto do Capim. Therefore, it is concluded that this is the Quilombola Community of Alto do Capim, the informal education processes have historical and cultural documents, since there is little self-recognition of ancestry in the community. KEYWORDS: Pedagogy. Ancestry. Ancestral pedagogy. Introdução A necessidade da realização desta pesquisa surgiu com a intenção de esclarecer informações, buscar a inserção de memórias, fatos, histórias e perspectivas vistas de um campo que é pouco estudado. Para a realização da mesma escolheu-se como local a cidade de Quixabeira, situada no interior da Bahia, mais precisamente a comunidade Quilombola de Alto do Capim. O problema que norteia este trabalho é: Como a pedagogia ancestral contribui para a preservação da identidade da Comunidade Quilombola de Alto do Capim, Quixabeira-BA? Para a resposta desse problema foi necessário investigar como a pedagogia ancestral contribui para a existência e resistência da identidade da Comunidade Quilombola de Alto do Capim,
image/svg+xmlNuances Est. Sobre Educ., Presidente Prudente, v. 33, e022006, jan./dez. 2022. e-ISSN: 2236-0441 DOI: https://doi.org/10.32930/nuances.v33i00.94843 em Quixabeira-BA; compreender as relações entre pedagogia e ancestralidade; estabelecer a importância da pedagogia ancestral para a preservação da identidade das comunidades quilombolas; Conhecer a história da Comunidade e discutir sobre os elementos que fomentam a pedagogia ancestral na comunidade quilombola de Alto do Capim. Para a realização da pesquisa optou-se por um estudo de natureza etnográfica através da observação participante e entrevistas no formato de conversa guiada. Pedagogia ancestral O estudo sistemático das práxis educativas que acontecem em sociedade de acordo os processos fundamentais da condição humana é o que explica a existência da pedagogia. Logo, a pedagogia baseia-se na experiência humana e suas realizações e execuções, que veio para estudar esses processos importantes e essenciais que acontecem em diferentes contextos e campos do saberes, e esse estudo analisa juntamente a idealização desses métodos e problemáticas, configurando a pedagogia como a ciência da educação. A grade de conhecimentos que abrange a pedagogia não está destinada apenas a centralizar na escola, mas também em todos os ambientes em que os indivíduos estejam executando a sua existência, seguindo a ideia de que a educação está em todas as atividades realizadas pela sociedade como um todo, desde a maneira institucionalizada, em diferentes níveis, etapas e modalidades, até os saberes informais, onde a educação há de existir. Logo, todos os espaços são espaços que possuem ações constantemente pedagógicas. Sendo assim, o processo de ensinar e aprender acontece desde o período pré-histórico, em um processo de educação informal através do qual se dá a disseminação e a ampliação dos saberes de um povo. Diante disso, muitos pesquisadores analisam a sociedade atual, contemporânea, como uma sociedade de conhecimento, mas muitas vezes não se percebe que as ações pedagógicas que antecederam as evoluções tecnológicas, como, por exemplo, a caça, a pesca, a domesticação dos animais e tantos outros pontos que aconteceram antes mesmo de pensarmos em ter um professor como guia de aprendizado também podem ser consideradas como práticas reflexivas sobre a realidade e, portanto, consideradas como práticas pedagógicas que funcionaram como forma de educação entre si. A educação pode ocorrer de diferentes formas e em diferentes locais e é um campo vasto e sob diferentes modalidades. A prática educativa é um dos componentes da integridade
image/svg+xmlNuances Est. Sobre Educ., Presidente Prudente, v. 33, e022006, jan./dez. 2022. e-ISSN: 2236-0441 DOI: https://doi.org/10.32930/nuances.v33i00.94844 humana e da vivencia em sociedade. O pedagogo alemão Schmied-Kowarzik (1983) relata sobre: A educação é uma função parcial integrante da produção e reprodução da vida social, que é determinada por meio da tarefa natural e, ao mesmo tempo, cunhada socialmente da regeneração de sujeitos humanos, sem os quais não existiria nenhuma práxis social. A história do progresso social é simultaneamente também um desenvolvimento dos indivíduos em suas capacidades espirituais e corporais e em suas relações mútuas. A sociedade depende tanto da formação e da evolução dos indivíduos que as constituem, quanto estes não podem se desenvolver fora das relações sociais. A sociedade e a pedagogia andam atreladas antropologicamente e seguem sendo processos simultaneamente construtores, sendo necessário, portanto, que na atualidade se reconheça a importância da existência dessa indissociação entre pedagogia e práticas sociais possibilitando assim a compreensão de que, mesmo fora da escola, as histórias das pessoas estão sendo construídas pedagogicamente. Os processos formativos continuam sendo executados em meio ao intercâmbio e da comunicação das experiências humanas, logos os saberes e modo de agir de um povo são construídos e acumulados com base em suas experiências informais. Todavia, a educação favorece o desenvolvimento dos indivíduos de uma forma sociocultural. E o funcionamento da sociedade na qual fazemos parte se baseia no fenômeno de práticas sociais educativas, que estão sendo guiadas indiretamente pelo próprio povo de forma fluída que, inconscientemente produz material educativo de si, sobre si e para si, num campo didático formador. É uma prática social que atua na configuração da existência humana individual e grupal, para realizar nos sujeitos humanos as características de “ser humano”. Numa sociedade em que as relações sociais baseiam-se em relações de antagonismo, em relações de exploração de uns sobre os outros, a educação só pode ter cunho emancipatório, pois a humanização plena implica a transformação dessas relações (LIBÂNEO, 1998, p. 7). Sabendo que a pedagogia, ao se colocar no mundo, necessita de um vínculo com a prática, com a crítica ao pensamento e com a consciência de seu espaço, deve ela, ao refletir sobre a construção das relações humanas educativas do passado, alinhá-las não somente a ações humanas atreladas ao domínio de aptidões físicas, mas também e, sobretudo, sobre a maneira como esses conhecimentos foram passados pelas gerações, compreendendo assim que todas as práticas humanas antropologicamente construídas foram também práticas pedagógicas.
image/svg+xmlNuances Est. Sobre Educ., Presidente Prudente, v. 33, e022006, jan./dez. 2022. e-ISSN: 2236-0441 DOI: https://doi.org/10.32930/nuances.v33i00.94845 Então o que sabemos que é a pedagogia? É a relação entre ação humana e as práticas educativas, onde ambas não são isoladas, e que a educação é um fenômeno social, que acontece em diferentes meios e espaços. A gestão da prática pedagógica é que precisamente está ligada aos processos educativos envolvidos pela sociedade. Mas para que a pedagogia seja exercida de maneira em que tenha o teor científico atrelado ao viés de aprendizado, consciente, organizado, intencional e formal há uma necessidade de ser vista como uma ciência, que não apenas analisa, mas sim que participa da prática teórica e da execução da teoria em meio à prática. Todas essas estruturas pedagógicas formais passam por processos e estudos que as detém como saberes importantes para que sejam passados para ao povo. Há determinações de que inúmeros fatos históricos fossem tidos como importantes para a estrutura educacional. E através dessa linha de estudo, é possível perceber que a educação formal, as práticas pedagógicas, e o currículo, possuem uma herança antropológica através da qual foram formados, ou seja, toda a estrutura da educação formal foi feita através da necessidade de aprendizados específicos, pautados nos antepassados e em suas experiências empíricas. O conceito de ancestralidade se aproxima das ideias de história, raça e etnia, o que de fato confirma uma conexão existente entre o que os povos carregam, as raízes, culturas, hábitos, e isso é de maneira muito especifica: ancestralidade. A ancestralidade é basicamente a resistência do passado do povo e as raízes que foram deixadas por longos anos por baixo da terra, e que tem sido buscada para que não fiquem submersas e escondidas por mais tempo ainda. Para contextualizar sobre a pedagogia ancestral, numa cultura foge do padrão eurocêntrico, é necessário estabelecer a conexão entre a vivência de um povo e o ensino informal ali existente, pois, esse ensino necessita serem instaurado com base na experiência de vida de cada indivíduo, e a sua maneira de ser protagonista e executor do seu espaço. A pedagogia ancestral apresenta um estudo etnocêntrico da importância de estudar a ciência dos antepassados de povos que tiveram suas raízes desvalorizadas e segregadas, mas que carregaram de maneira informal e perpassaram todos esses ensinamentos, através de suas gerações.
image/svg+xmlNuances Est. Sobre Educ., Presidente Prudente, v. 33, e022006, jan./dez. 2022. e-ISSN: 2236-0441 DOI: https://doi.org/10.32930/nuances.v33i00.94846 Pedagogia ancestral em comunidades quilombolas A história do Brasil traz consigo o comércio e o tráfico dos negros que vinham de inúmeras partes da África e foi o país que mais importou negros e o último que legalmente aboliu a escravidão. Por volta de 40% dos africanos escravizados vieram para o Brasil, e mais da metade, especificamente 65% da população negra da América, são brasileiros. Por conta disso, de todo esse processo de exploração e dominação, o povo brasileiro teve sua história contada durante anos pelo olhar eurocêntrico, o que ainda continua acontecendo ativamente nas escolas, e isso traz variáveis de pensamentos e reflexões. O povo africano, sob a visão dominadora e colonizadora, não teve a possibilidade de construir uma valorização de si. Com o declínio dos sistemas açucareiros os grandes proprietários começaram a fazer as doações de terras como meio de recompensa, junto a pouca autonomia de alguns outros proprietários os escravos foram tomando posse desses territórios e fazendo deles a sua própria morada, Almeida destaca que “nesse quadro, o processo de acamponesamento ou de formação de uma camada de pequenos produtores familiares tende a se expandir e consolidar” (ALMEIDA, 2002, p. 59). Desse modo todos esses processos territoriais de mudança que eram denominados de quilombo, estavam acrescentando ali um espaço não apenas físico, mas de expansão e imensurável tamanho de ampliação de cultura. Nisso, os quilombos foram basicamente a insubordinação desse povo negro que estava vivendo em um país com uma distinta cultura da qual estavam habituados em seu territorial original. Eles foram a busca de espaços para a sobrevivência se desvinculando do regime escravocrata em que estavam inseridos. Enfatiza o autor Haesbaert: [...] mais do que a perda ou o desaparecimento dos territórios, propomos discutir a complexidade dos processos de (re)territorialização em que estamos envolvidos, construindo territórios muito mais múltiplos ou, de forma mais adequada, tornando muito mais complexa nossa multiterritorialidade. Assim, a desterritorialização seria [...] incapaz de reconhecer o caráter imanente da (multi)territorialização na vida dos indivíduos e dos grupos sociais. [...] Estes processos de (multi)territorialização precisam ser compreendidos especialmente pelo potencial de perspectivas políticas inovadoras que eles implicam (HAESBAERT, 2004, p. 1). Com a formação dos quilombos e as libertações dos escravizados depois de longos séculos foi a iniciação de uma era em que os africanos começariam a vivenciar em um novo território seus aprendizados e hierarquias, agregando aqui ao Brasil, a construção de nossas
image/svg+xmlNuances Est. Sobre Educ., Presidente Prudente, v. 33, e022006, jan./dez. 2022. e-ISSN: 2236-0441 DOI: https://doi.org/10.32930/nuances.v33i00.94847 raízes, crenças e culturas. E assim, remanescendo até os dias atuais, comunidades quilombolas que abrigaram escravos e abrigam até hoje descentes dos mesmos. Havendo uma necessidade de definição e denominação de quilombo de caráter científico a Associação Brasileira de Antropologia traz um documento com a seguinte definição: [...] não se refere a resíduos ou resquícios arqueológicos de ocupação temporal ou de comprovação biológica. Também não se trata de grupos isolados ou de uma população estritamente homogênea. Da mesma forma nem sempre foram constituídos a partir de uma referência histórica comum, construída a partir de vivências e valores partilhados (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ANTROPOLOGIA, 1994, p. 81-82). Todavia, aconteceram inúmeras mudanças e redefinições desde a época, sabendo que hoje temos como definição: Comunidades quilombolas são grupos com trajetória histórica própria, cuja origem se refere a diferentes situações, a exemplo de doações de terras realizadas a partir da desagregação de monoculturas; compra de terras pelos próprios sujeitos, com o fim do sistema escravista; terras obtidas em troca da prestação de serviços; ou áreas ocupadas no processo de resistência ao sistema escravista (BRASIL, 2013). Neste sentido, a pedagogia ancestral em comunidades quilombolas objetiva o estudo do povo negro e a valorização da cultura e vivência desse mesmo povo tentando inserir um olhar de criticidade e cientificidade como um fator determinante para o não esquecimento da história, memória e cultura do povo negro e assim poder ampliar essa disseminação de aprendizado e estudo desse povo, utilizando a pedagogia da ancestralidade como um meio de valorização da comunidade quilombola. A pedagogia da ancestralidade tem como objetivo romper com esse padrão eurocêntrico da história, memória e cultura brasileira e valorizar todos os conhecimentos que são passados pelos antepassados de um povo, tornando suas crenças, hábitos, costumes, histórias e experiências, fundamentos importantes para os aprendizados da coletividade, fazendo com que esses aprendizados se tornem construtores dos conhecimentos formadores dos indivíduos. Sendo assim, a própria existência desse povo fará com que a educação dos mesmos seja guiada pela forma de viver, individualmente e em sociedade. Logo, a necessidade de analisar esses artefatos históricos e culturais de maneira científica, dá aos mesmos a real importância como fonte de estudo e de conhecimento. Quando pontuamos nossa vivência de maneira antropológica, percebemos que todas as nossas
image/svg+xmlNuances Est. Sobre Educ., Presidente Prudente, v. 33, e022006, jan./dez. 2022. e-ISSN: 2236-0441 DOI: https://doi.org/10.32930/nuances.v33i00.94848 culturas são ensinamentos que vieram do passado e que vão se transformando no decorrer do tempo.Os conhecimentos ancestrais são considerados como elementos-chaves nesse processo de aprendizado do que seria uma Pedagogia Ancestral, tendo em vista que os elementos dos antepassados como músicas, histórias de vida, memórias, poemas, culinária, receitas, e tudo aquilo que seja repassado de geração em geração, serve como meio de estudo para essa pedagogia. É importante pensar sobre isso, pois conforme a educação foi se formalizando, esses elementos foram parcamente tratado como importantes, desconsiderados dos currículos tradicionais e oficiais e, guiados por ideais eurocêntricos. As realidades culturais de povos e comunidades negras, por exemplo, foram historicamente abandonadas pelos currículos e pelos estudos científicos, sendo tratados muitas vezes como de pouca relevância e de pouco protagonismo. As comunidades quilombolas são símbolos de resistência do povo negro. Sabendo que essas comunidades foram formadas pelo fato de que os escravizados fugitivos precisavam se recolher em algum local para fugir das cruéis circunstâncias nas quais eram submetidos, os mesmos encontravam locais que os faziam sentir-se seguros e ali começavam a vivenciar o pouco conhecimento de uma utópica liberdade que poderiam viver a partir dali. Após a abolição da escravidão, essas comunidades passaram a alocar mais pessoas, e através dali iniciaram uma ressignificação de vida e um processo de adaptação naquela nova realidade, podendo exercer sua cultura, crenças, alimentação e raízes, e começaram a desenvolver e reviver ali naqueles espaços um trecho de sua existência antes de serem cruelmente arrancados de sua terra natal. As comunidades quilombolas são espaços, não apenas territorialmente ou geograficamente falando, mas também espaços culturais e formativos, que ressignificam grandemente a ciência de estudos do passado e a importância de preservação da história e da memória. Através disso, a atualidade carrega consigo inúmeros aspectos, materiais e imateriais que foram deixados pelos escravos e suas famílias, construídas em cima da nova realidade criadas por eles. Quando remetemos à ancestralidade, logo é possível associar a importância de valorização das culturas que são deixadas pelos nossos antepassados, à pedagogia da ancestralidade, que pontua a importância da ciência estudar esses fatos e poder trazê-los à realidade da formação dos indivíduos, estudando as memórias deixadas pelas comunidades
image/svg+xmlNuances Est. Sobre Educ., Presidente Prudente, v. 33, e022006, jan./dez. 2022. e-ISSN: 2236-0441 DOI: https://doi.org/10.32930/nuances.v33i00.94849 quilombolas e fazendo com que sejam trazidas formalmente à realidade da sociedade que pouco conhece sobre si e suas raízes. Muitos historiadores passaram a ver que as fontes que documentam o passado não se resumem aos documentos escritos. As manifestações artísticas, a oralidade, a cultura material e outros vestígios podem contribuir para o entendimento do passado (ABUD, 1997). Neste sentido, podemos considerar como herança deixada pelos povos dos quilombos a alimentação, artesanatos, religiosidade, vestuário, maneiras de criação e educação dos filhos. Claramente, todos esses elementos são cultuados de maneira hereditária e que vão transcendendo, mas ao abordarmos uma comunidade remanescente dos quilombos, podemos perceber que, talvez, seja uma cultura que tenha sido e ainda venha sendo interrompida por inúmeros fatores. [...] nosso próprio cotidiano apresenta a importância da cultura material para as sociedades. Os objetos que compõem nossa casa, nosso vestuário, os meios de transporte que utilizamos, os diferentes instrumentos utilizados para higiene, comunicação, trabalho, registro e proteção, entre tantos outros, dão mostra não só da dinâmica individual de nossas vidas como também os meios sociais nos quais transitamos cotidianamente. Os artefatos concebidos e utilizados pelos seres humanos constituem importante meio de preservar a memória, reconstruir a História e proporcionar às gerações que se sucedem apossibilidade de construir consciência da trajetória histórica de sua sociedade (ABUD; SILVA; ALVES, 2013, p. 111). Atualmente, temos as comunidades remanescentes dos quilombos, como território que culturalmente carregam todo o conceito do que se passou e o que os escravizados tiveram de sobra de si, e de seu povo após a abolição da escravidão. Quando passaram a viver em liberdade, puderam juntamente exercer a oportunidade de diariamente serem quem nasceram pra ser, podendo fazer suas alimentações, remédios, brincadeiras, rituais, ter a própria fé e tantos outros pontos que a escravidão lhes havia roubado. Aos poucos essas terras passaram a oferecer a quem ali habitava suas raízes, e fazendo com que pudessem colocar em prática tudo aquilo que acreditavam que deviam e que de fato fazia sentido para eles naquele momento, em meio a todo o peso que estavam carregando há tanto tempo. Os conflitos históricos perpetuados nas comunidades remanescentes de quilombos tem dificultado a implementação de políticas públicas destinadas as tais. Considerando que é majoritário o número de comunidades que não possuem escolas, ou seja, não há nos territórios quilombolas escolas situadas neles, levando os quilombolas a frequentarem escolas fora de sua origem. Sabendo que o acesso a essas escolas é difícil, que o
image/svg+xmlNuances Est. Sobre Educ., Presidente Prudente, v. 33, e022006, jan./dez. 2022. e-ISSN: 2236-0441 DOI: https://doi.org/10.32930/nuances.v33i00.948410 governo não disponibiliza transportes e que as escolas que terão de frequentar localizadas fora das comunidades não possuem um currículo compatível com sua realidade histórica e cultural. As dimensões educacionais, culturais e políticas possuem particularidades tanto no contexto histórico como no geográfico brasileiro. Pensando nisso, foi homologada a Resolução CNE 08/2012 (BRASIL, 2012), em que define as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Escolar Quilombola na Educação Básica. Essa diretriz discorre o fato de que a Educação Escolar Quilombola necessita da especificidade de uma pedagogia que respeite as questões étnico-raciais e culturais de cada comunidade, que em seu quadro docente haja formação específica no quadro docente, materiais didáticos e paradidáticos. Quando há a necessidade de uma formação capacitada para que seja possível dentro do currículo ser fornecida uma educação contextualizada, dentro da realidade de cada indivíduo, fomenta a ideia da necessidade da abordagem da pedagogia ancestral. É fundamental para uma educação dentro das nossas diretrizes permear e falar sobre a ancestralidade, principalmente quando há alunos frequentes que residem em comunidades quilombolas, sabendo que nem todas as comunidades possuem escolas e que há alunos estudando em outras localidades próximas. Para a população negra uma pedagogia ancestral, além de interligar suas gerações ao contemporâneo, consegue efetivar um currículo permeado de saberes reais, que transita entre a realidade do alunado até seus antepassados. Fazendo assim a execução de um currículo inclusivo, havendo o cumprimento das leis que certificam e garantem uma educação básica de qualidade, contendo acesso a cultura, e suas origens, podendo ser exercido a cidadania. O art. 205 da Constituição Federal estabelece que A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho (BRASIL, 1988). Se a educação é um direito assegurado a todos, a pedagogia da ancestralidade assegura de maneira bastante objetiva os ensinamentos que foram perpassados e que ainda necessitam serem passados para a sociedade como um todo. A ancestralidade ligada ao pedagógico, garante aos quilombolas a valorização de suas memórias, inserindo-as a ciência da educação, utilizando-as como fonte de material didático a ser oferecido e trabalhado sobre si e para si mesmos. As filosofias trazem para as práticas ancestrais, além de acolhimento, remete também uma educação libertadora, inclusiva e que valoriza as comunidades quilombolas e seus
image/svg+xmlNuances Est. Sobre Educ., Presidente Prudente, v. 33, e022006, jan./dez. 2022. e-ISSN: 2236-0441 DOI: https://doi.org/10.32930/nuances.v33i00.948411 indivíduos, podendo assim fazê-los perceber-se na sociedade com base em suas origens e das de seus antepassados. Metodologia A etnopesquisa baseia-se no estudo de um povo e a compressão da construção de sua identidade, tendo em vista todo o processo de história deste mesmo povo para que se chegue a uma determinada situação, sendo adentrado às ciências sociais. Assim, intimidade, autorização, explicitação compreensiva e negociação, implicando lutas por significantes, definições de situação, construção de pontos de vista, inflexão de sentidos históricos e reflexões sobre o próprio conhecimento formativo (metaformação), estão nas bases constitutivas do que concebemos como uma etnopesquisa crítica e multirreferencial ou de uma etnopesquisa‐formação (MACEDO, 2000, p. 207). Para esta pesquisa de natureza etnográfica, foi realizada inicialmente a revisão bibliográfica com a intenção de, ao adentrar no campo da pesquisa, ter uma visão já abastecida de informações para que a coleta das mesmas pudesse ser facilitada. Também foram realizadas observações participantes com a intenção de conhecer o espaço e o povo ali pertencentes. Vale lembrar que a “observação possibilita um contato pessoal estreito do pesquisador com o fenômeno pesquisado” (LÜDKE; ANDRÉ, 1986, p. 26) e assim coleta de informações acontece de acordo ao real ali vivido. Para esta pesquisa foram feitas também entrevistas do tipo conversa guiada com representantes da comunidade, buscando compreender de que maneira a pedagogia ancestral contribui para a memória e cultura da comunidade Quilombola de Alto do Capim. Após, com a análise dos dados coletados será possível salientar os resultados adquiridos com todos os levantamentos conquistados, podendo assim chegar a uma perspectiva de conclusão, conforme diz Gil:
image/svg+xmlNuances Est. Sobre Educ., Presidente Prudente, v. 33, e022006, jan./dez. 2022. e-ISSN: 2236-0441 DOI: https://doi.org/10.32930/nuances.v33i00.948412 A análise tem como objetivo organizar e sumariar os dados de tal forma que possibilitem o fornecimento de respostas ao problema proposto para investigação. Já a interpretação tem como objetivo a procura do sentido mais amplo das respostas, o que é feito mediante sua ligação a outros conhecimentos anteriormente obtidos (GIL, 1999, p. 168). A comunidade quilombola de Alto do Capim, situada em Quixabeira Bahia, necessitava ser o objeto deste estudo, pois a estrutura histórica que esse ambiente apresenta tem um potencial imenso de aprendizado, conhecimentos e vivências que correm o risco de serem apagadas com os anos, com as possíveis mudanças de geração e pelos atos que surgirão na história, caso não haja o devido registro de todo o seu processo. Este levantamento de dados e análise dos mesmos tem como pretensão fazer com que a comunidade seja apresentada e ou relembrada ao máximo de alcance possível, trazendo a possibilidade de possíveis dados seja um gerador de ideias, curiosidades, ações, que remetam a valorização desse povo. Sendo assim, com este estudo, pretende-se que a pedagogia da ancestralidade tenha a função de auxiliar a manutenção de manter vivas as histórias, vivências, contos, e experiências que perpassaram gerações, que têm o empirismo como forma de compartilhamento de conhecimentos, que através do mesmo, passe de maneira crítica as novas gerações e assim possam se perceber em seu meio atual e ancestral. Análise e discussão dos dados Por meio de relatos de Dona Maria Madalena, sua filha Edeltrudez, e a ex-vereadora de Quixabeira, Dona Isaura, foi possível coletar informações a respeito da origem do povoado de Alto do Capim, conforme o que foi ensinado e perpassado para o povo. Logo, a pouca documentação existente referente ao povoado faz com que as entrevistas se tornem uma das fontes de informações possíveis para fazermos os questionamentos necessários e levantamento de dados referente à origem do povoado. Nesse sentido, afirma Alessandro Portelli (1997, p. 31): [...] Entrevistas sempre revelam eventos desconhecidos ou aspectos desconhecidos de eventos conhecidos: elas sempre lançam nova luz sobre áreas inexploradas da vida diária das classes não hegemônicas [...]. Ao ser questionada sobre o fato de porque ainda não ter sido feito de maneira formal um documento referente as informações pontuadas pelos moradores mais antigos do povoados, Dona Isaura responde (em entrevista no dia 15 de maio de 2022) que são poucas as
image/svg+xmlNuances Est. Sobre Educ., Presidente Prudente, v. 33, e022006, jan./dez. 2022. e-ISSN: 2236-0441 DOI: https://doi.org/10.32930/nuances.v33i00.948413 pessoas que se interessam pela história do local, tanto os que são de fora quanto os próprios moradores. Nesse sentido, fica o questionamento: porque a origem de um povo não é ponto de interesse a ele mesmo? Existem pouquíssimos moradores vivos, no ano dessa pesquisa, capazes de contar as origens do povo e da sua localidade. Pessoas que passam de seus 70 anos em média e que parcamente contam esses fatos para seus netos e filhos. Segundo Dona Edeltrudez, 69 anos e moradora de Alto do Capim: “eles não têm interesse em saber de nada do que a gente sabe, ficam tudo no celular”. A contemporaneidade de fato tem surgido com poucos interesses sobre a nossa ancestralidade e sobre as memórias que partem do passado. Por isso, questiona-se se de fato o que pouco se estimula é o fato de não interessar todo o contexto do passado, ou apenas o passado que não foi exposto ao eurocentrismo. A pedagogia da ancestralidade remete justamente a importância de valorizar e manter a resistência desses fatos, que não fazem parte do currículo escolar atual, mas que contém uma riqueza absurda sobre a origem dos povos que hoje residem ou que já residiram essa região. Para Dona Maria Madalena, de 95 anos, moradora e neta da Escrava Nazaria, tudo que ela aprendeu foi com sua mãe e sua avó. Afirma: Minha filha, ela raspava palha de licuri pra fazer plástico e linha com o algodão que dava, ensinou eu a fazer beiju de tapioca, que cessava a mandioca ralada, pra deixar assentar e assim a gente comer, e eu fazia tudo que ela ensinava, pra gente poder comer enquanto minha mãe fazia pra poder vender, na cidade” (Depoimento colhido dia 29/05/2021 de Dona Maria Madalena, 95 anos) Por mais que a mesma não tenha participado de aulas formais, dentro de uma escola, ela carrega consigo informações históricas com um potencial de ensino absoluto sobre variados assuntos, desde a economia do local, até a culinária, por exemplo. Já que segundo o relato acima demonstra que a mesma aprendeu com a avó como fazer beijú, alimento que conhecido em todo o Brasil, porém da culinária típica da Bahia. Essa informação se encaixaria perfeitamente num ensino de uma aula de Geografia, História, Artes, ou qualquer outra disciplina prezando um currículo multidisciplinar. O que a pedagogia ancestral exemplifica é que essas informações, relatos, memórias, necessitam de uma análise cientifica que inclua no currículo educacional, informações referentes às origens e raízes de um determinado povo.
image/svg+xmlNuances Est. Sobre Educ., Presidente Prudente, v. 33, e022006, jan./dez. 2022. e-ISSN: 2236-0441 DOI: https://doi.org/10.32930/nuances.v33i00.948414 Dona Isaura, ex-vereadora da cidade de Quixabeira-Bahia que estudou até seus 50 e poucos anos, e concluiu o ensino médio, afirma: [...] Nunca vi nem ouvi ninguém falar a respeito da comunidade quilombola na escola, as pessoas nem sabe que são, eu mesma acho que sou morena e um pé meio índia, mas quando cheguei aqui conheci uma neta da escrava, mas aqui tem sim muita gente quilombola”Mesmo sendo decretado pela Fundação Cultural Palmares, no ano de 2011, como comunidade remanescente dos quilombos, os moradores do povoado de Alto do Capim, não compreendem o que é, e o valor que isso tem e agrega a eles como sociedade. A importância da pedagogia ancestral é poder dar a esse povo a libertação de encaixar-se socialmente em ambientes que eles não fizeram parte historicamente, é fazê-los enxerga-se dentro de uma origem, de uma história, de uma realidade, é fazer parte do ser e do exercer sob o mundo. Todavia, os processos educativos discorrem de diferentes formas e baseados na maneira de percepção de importância de uma sociedade como um todo. Mas levantam-se os questionamentos: O que de fato seria importante para a história? De que maneira podemos deixar de ensinar que as culturas afrodescendentes não são de fato interessantes pedagogicamente? Ao conversar com Dona Isaura, a mesma relatou informações de que o processo de construção do povoado de Alto do Capim foi com a ajuda dos moradores e da igreja católica. Considerando esse fator, percebe-se que a cultura local foi guiada por um conceito formador religioso, que a igreja esteve completamente inserida na formação da sociedade desse povoado. Atualmente esses moradores da Comunidade Quilombola de Alto do Capim, não se sentem pertencentes às raízes culturais dos escravizados, pois quando questionados sobre serem quilombolas, poucos deles afirmam de maneira concreta e realizada que de fato são. Alguns ao afirmarem que sim, falam que são, mas não sabem o que de fato significa e que ninguém explicou quem eram as pessoas que residiram ali no povoado anteriormente. Por fim, através desses levantamentos, foi perceptível que os moradores apesar de terem memórias e relatos de histórias das vivências dos antepassados, pouco se identificam e pouco há a curiosidade de conhecimento sobre suas origens e local de pertencimento.
image/svg+xmlNuances Est. Sobre Educ., Presidente Prudente, v. 33, e022006, jan./dez. 2022. e-ISSN: 2236-0441 DOI: https://doi.org/10.32930/nuances.v33i00.948415 Considerações finais A partir da pesquisa feita com o objetivo de apresentar a importância da pedagogia ancestral na preservação e valorização da comunidade quilombola de Alto do Capim, localizada em Quixabeira-Bahia, foi possível perceber que a pedagogia da ancestralidade tem como potencial demonstrar de maneira prática a importância de uma educação específica, que valorize a ancestralidade dos indivíduos, suas memórias, culturas e resistências. Porém foi perceptível também, que, em se tratando da Comunidade Quilombola de Alto do Capim, os processos de educação informal possuem fragilidades históricas e culturais, uma vez que há pouco autorreconhecimento da ancestralidade na comunidade. Por fim, fica evidente que a educação formal através da instituição escolar presente na comunidade, somada às demais instituições pertencentes ao movimento negro, juntem seus esforços para transformar a realidade curricular daquela comunidade em processos pedagógicos multiculturais que auxiliarão na promoção de uma educação pautada no reconhecimento da realidade de seu povo. REFERÊNCIAS ABUD, K. M. Temporalidade e didatica da historia. Revista Foruns contemporaneos de ensino de historia no Brasil, Campinas, p. 31-35, 1997. Disponivel: http://ojs.fe.unicamp.br/index.php/FEH/article/view/5025. Acesso em: 23 apr. 2021. ABUD, K. M.; SILVA, A. C. M.; ALVES, R. C. Ensino de Historia. São Paulo: Cengage Learning, 2013. ABA. Associação Brasileira de Antropologia. Documento do Grupo de Trabalho sobre Comunidades Negras Rurais. Rio de Janeiro: ABA, 1994. ALMEIDA, A. W. B. Os Quilombos e as Novas Etnias. In: O’DWYER, E. C. (org.). Quilombos:Identidade étnica e territorialidade. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2002. BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Brasília, DF: Presidência da República, 1988. BRASIL. Ministério da Educação. Conselho Nacional de Educação. Câmara de Educação Básica. Resolução n. 8, de 20 de novembro de 2012. Define Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Escolar Quilombola na Educação Básica. Brasília, DF: CNE, 2012. Disponível em: https://normativasconselhos.mec.gov.br/normativa/view/CNE_RES_CNECEBN82012.pdf?query=ensino%20m%C3%A9dio. Acesso em: 15 mar. 2020. BRASIL. Guia de Políticas Públicas para Comunidades Quilombolas. Brasília, DF: Programa Brasil Quilombola, 2013. Disponível em:
image/svg+xmlNuances Est. Sobre Educ., Presidente Prudente, v. 33, e022006, jan./dez. 2022. e-ISSN: 2236-0441 DOI: https://doi.org/10.32930/nuances.v33i00.948416 https://seppirhomologa.c3sl.ufpr.br/xmlui/bitstream/handle/123456789/1131/seppir%20guia%20de%20politicas%20publicas.pdf?sequence=-1&isallowed=y. Acesso em: 20 fev. 2021. GIL, A. C. Como elaborar projetos de pesquisa. 4. ed. São Paulo: Atlas, 1999. LÜDKE, M.; ANDRÉ, M. Pesquisa em educacao: Abordagens qualitativas. São Paulo: EPU, 1986. HAESBAERT, R. Dos múltiplos territórios à multiterritorialidade. Porto Alegre: UFRGS, 2004. LIBANEO, J. C. Pedagogia e pedagogos, para que?São Paulo: Cortez, 1998. MACEDO, R. S. Currículo e complexidade: A perspectiva crítico-multirreferencial e o currículo contemporâneo. 2. ed. Salvador: EDUFBA, 2000. PORTELLI, A. Ensaios de história oral. São Paulo: Letra e Voz, 1997. SCHIMIED-KOWARZIK, W. Pedagogia Dialetica. São Paulo: Brasiliense, 1983. Como referenciar este artigo NASCIMENTO, B.; CASTRO, E.; BRAZÃO, P. Pedagogia ancestral: Uma investigação sobre existência e resistência da identidade da comunidade quilombola de Alto do Capim, Quixabeira-BA. Nuances Est. Sobre Educ., Presidente Prudente, v. 33, e022006, jan./dez. 2022. e-ISSN: 2236-0441. DOI: https://doi.org/10.32930/nuances.v33i00.9484 Submetido em:05/09/2021 Aprovado em: 21/12/2021 Revisões requeridas: 07/02/2022 Publicado em: 31/03/2022
image/svg+xmlNuances Est. Sobre Educ., Presidente Prudente, v. 33, e022006, Jan./Dec. 2022. e-ISSN: 2236-0441 DOI: https://doi.org/10.32930/nuances.v33i00.94841 ANCESTRAL PEDAGOGY: AN INVESTIGATION INTO THE EXISTENCE AND RESISTANCE OF THE IDENTITY OF THE QUILOMBOLA COMMUNITY OF ALTO DO CAPIM, QUIXABEIRA-BAHIA PEDAGOGIA ANCESTRAL: UMA INVESTIGAÇÃO SOBRE EXISTÊNCIA E RESISTÊNCIA DA IDENTIDADE DA COMUNIDADE QUILOMBOLA DE ALTO DO CAPIM, QUIXABEIRA-BA PEDAGOGÍA ANCESTRAL: UNA INVESTIGACIÓN SOBRE LA EXISTENCIA Y RESISTENCIA DE LA IDENTIDAD DE LA COMUNIDAD QUILOMBOLA DE ALTO DO CAPIM, QUIXABEIRA-BAHIABrenna NASCIMENTO1Éden de CASTRO2Paulo BRAZÃO3ABSTRACT: This article is the result of an ethnographic research carried out in the Quilombola community of Alto do Capim that sought to investigate: How does an ancestral pedagogy contribute to the preservation of the identity of the Quilombola Community of Alto do Capim, in Quixabeira-BA? For this investigation it was necessary to understand how an ancestral pedagogy contributed to the existence and resistance of the identity of the Quilombola Community of Alto do Capim, in Quixabeira-BA; understand the relationships between pedagogy and ancestry; establish the importance of ancestral pedagogy for the preservation of the identity of quilombola communities; Get to know the history of the Quilombola Community of Alto do Capim and challenge the elements that foster ancestral pedagogy in the Quilombola community of Alto do Capim. Therefore, it is concluded that this is the Quilombola Community of Alto do Capim, the informal education processes have historical and cultural documents, since there is little self-recognition of ancestry in the community. KEYWORDS: Pedagogy. Ancestry. Ancestral pedagogy. 1Capim Grosso School of Educational Sciences (FCG), Capim Grosso BA Brazil. Graduated in Pedagogy. ORCID: https://orcid.org/0000-0003-4650-3183. E-mail: be.aruiva13@gmail.com 2Bahia State Department of Education (SEC), Quixabeira BA Brazil. Pedagogical Coordinator. Founding Member and Deputy Director of the Academy Quixabeirense Pedagogy (AQPED). PhD in Education (UNR). ORCID: https://orcid.org/0000-0002-3601-4899. E-mail: edendecastro@live.com 3University of Madeira (UMa), Funchal Portugal. Researcher at the Center for Research in Education (CIE-One). PhD in Education (UMa). Post-doctor in Education (UFS). ORCID: https://orcid.org/0000-0003-3575-4366. E-mail: jbrazão@staff.uma.pt
image/svg+xmlNuances Est. Sobre Educ., Presidente Prudente, v. 33, e022006, Jan./Dec. 2022. e-ISSN: 2236-0441 DOI: https://doi.org/10.32930/nuances.v33i00.94842 RESUMO: Este trabalho é fruto de uma pesquisa de natureza etnográfica realizada na comunidade Quilombola de Alto do Capim que buscou investigar: Como a pedagogia ancestral contribui para a preservação da identidade da Comunidade Quilombola de Alto do Capim, em Quixabeira-BA? Para esta investigação foi necessário compreender como a pedagogia ancestral contribui para a existência e resistência da identidade da Comunidade Quilombola de Alto do Capim, em Quixabeira-BA; compreender as relações entre pedagogia e ancestralidade; estabelecer a importância da pedagogia ancestral para a preservação da identidade das comunidades quilombolas; Conhecer a história da Comunidade Quilombola de Alto do Capim e discutir sobre os elementos que fomentam a pedagogia ancestral na comunidade quilombola de Alto do Capim. Portanto conclui-se que em se tratando da Comunidade Quilombola de Alto do Capim, os processos de educação informal possuem fragilidades históricas e culturais, uma vez que há pouco autorreconhecimento da ancestralidade na comunidade. PALAVRAS-CHAVE: Pedagogia. Ancestralidade. Pedagogia ancestral. RESUMEN: Este trabajo es el resultado de una investigación etnográfica realizada en la comunidad quilombola de Alto do Capim que buscó investigar: ¿Cómo contribuye la pedagogía ancestral a la preservación de la identidad de la comunidad quilombola de Alto do Capim, en Quixabeira-BA? Para esta investigación fue necesario comprender cómo la pedagogía ancestral contribuye a la existencia y resistencia de la identidad de la Comunidad Quilombola de Alto do Capim, en Quixabeira-BA; comprender las relaciones entre pedagogía y ascendencia; establecer la importancia de la pedagogía ancestral para la preservación de la identidad de las comunidades quilombolas; Conocer la historia de la Comunidad Quilombola de Alto do Capim y discutir los elementos que fomentan la pedagogía ancestral en la comunidad quilombola de Alto do Capim. Por lo tanto, se concluye que en el caso de la Comunidad Quilombola de Alto do Capim, los procesos de educación informal tienen debilidades históricas y culturales, ya que hay poco autorreconocimiento de la ascendencia en la comunidad. PALABRAS CLAVE:Pedagogía. Ancestralidad. Pedagogía ancestral. Introduction The need to carry out this research arose with the intention of clarifying information, seeking the insertion of memories, facts, stories and perspectives seen from a field that is not sufficiently studied. For the realization of the research a place the city of Quixabeira was chosen, located in the countryside of Bahia, more precisely the quilombola community of Alto do Capim. The problem that guides this work is: How does ancestral pedagogy contribute to the preservation of the identity of the Quilombola Community of Alto do Capim, Quixabeira-BA? To answer this problem, it was necessary to investigate how ancestral pedagogy contributes to the existence and resistance of the identity of the Quilombola Community of
image/svg+xmlNuances Est. Sobre Educ., Presidente Prudente, v. 33, e022006, Jan./Dec. 2022. e-ISSN: 2236-0441 DOI: https://doi.org/10.32930/nuances.v33i00.94843 Alto do Capim, in Quixabeira-BA; understand the relations between pedagogy and ancestry; establish the importance of ancestral pedagogy for the preservation of the identity of quilombola communities; To know the history of the Community and discuss the elements that foster ancestral pedagogy in the quilombola community of Alto do Capim. To carry out the research, we opted for an ethnographic study through participant observation and interviews in the format of guided conversation. Ancestral pedagogy The systematic study of educational praxis that take place in society according to the fundamental processes of the human condition is what explains the existence of pedagogy. Therefore, pedagogy is based on human experience and its achievements and executions, which came to study these important and essential processes that take place in different contexts and fields of knowledge, and this study analyzes together the idealization of these methods and problems, configuring pedagogy as the science of education. The knowledge grid that covers pedagogy is not only intended to centralize in school, but also in all environments in which individuals are performing their existence, following the idea that education is in all activities carried out by society as a whole, from the institutionalized way, at different levels, stages and modalities, even the informal knowledge, where education will exist. Therefore, all spaces are spaces that have constantly pedagogical actions. Thus, the process of teaching and learning takes place since the prehistoric period, in a process of informal education through which the dissemination and expansion of the knowledge of a people takes place. In view of this, many researchers analyze the current contemporary society as a knowledge society, but it is often not perceived that the pedagogical actions that preceded technological developments, such as hunting, fishing, the domestication of animals and so many other points that happened before we even thought about having a teacher as a learning guide can also be considered as reflexive practices about reality and, therefore, considered as pedagogical practices that functioned as a form of education among themselves. Education can take place in different ways and in different places and is a vast field and under different modalities. Educational practice is one of the components of human integrity and living in society. The German pedagogue Schmied-Kowarzik (1983) reports on:
image/svg+xmlNuances Est. Sobre Educ., Presidente Prudente, v. 33, e022006, Jan./Dec. 2022. e-ISSN: 2236-0441 DOI: https://doi.org/10.32930/nuances.v33i00.94844 Education is an integral function of the production and reproduction of social life, which is determined through the natural task and, at the same time, socially coined in the regeneration of human subjects, without whom there would be no social praxis. The history of social progress is simultaneously also a development of individuals in their spiritual and bodily capacities and in their mutual relationships. Society depends as much on the formation and evolution of the individuals who constitute them as they cannot develop outside social relations. Society and pedagogy are anthropologically linked and continue to be simultaneously constructor processes, and it is necessary, therefore, that nowadays the importance of the existence of this dissociation between pedagogy and social practices is recognized, thus enabling the understanding that, even outside the school, people's stories are being constructed pedagogically. Formative processes continue to be executed in the midst of the exchange and communication of human experiences, logos the knowledge and way of acting of a people are constructed and accumulated based on their informal experiences. However, education favors the development of individuals in a sociocultural way. And the functioning of the society in which we are part is based on the phenomenon of educational social practices, which are being guided indirectly by the people themselves in a fluid way that unconsciously produces educational material of themselves, about themselves and for themselves, in a formative didactic field. It is a social practice that acts in the configuration of individual and group human existence, to realize in human subjects the characteristics of "human beings". In a society in which social relations are based on relations of antagonism, on relations of exploitation of one another, education can only have an emancipatory nature, because full humanization implies the transformation of these relations (LIBÂNEO, 1998, p. 7). Knowing that pedagogy, when placing itself in the world, needs a bond with practice, with criticism of thought and with the awareness of its space, it must, when reflecting on the construction of human educational relations of the past, align them not only to human actions linked to the domain of physical abilities, but also and, above all, on the way in which this knowledge was passed down through the generations, thus understanding that all anthropologically constructed human practices were also pedagogical practices. So, what do we know is pedagogy? It is the relationship between human action and educational practices, where both are not isolated, and that education is a social phenomenon, which happens in different media and spaces. The management of pedagogical practice is precisely linked to the educational processes involved by society. But for pedagogy to be exercised in a way that has the scientific content tied to the learning bias, conscious,
image/svg+xmlNuances Est. Sobre Educ., Presidente Prudente, v. 33, e022006, Jan./Dec. 2022. e-ISSN: 2236-0441 DOI: https://doi.org/10.32930/nuances.v33i00.94845 organized, intentional and formal there is a need to be seen as a science, which not only analyzes, but that participates in theoretical practice and the execution of theory in the midst of practice. All these formal pedagogical structures go through processes and studies that hold them as important knowledge so that they are passed on to the people. There are determinations that numerous historical facts were considered important to the educational structure. And through this line of study, it is possible to realize that formal education, pedagogical practices, and curriculum have an anthropological heritage through which they were formed, that is, the entire structure of formal education was made through the need for specific learning, based on the ancestors and their empirical experiences. The concept of ancestry approaches the ideas of history, race and ethnicity, which in fact confirms an existing connection between what peoples carry, roots, cultures, habits, and this is very specific: ancestry. Ancestry is basically the resistance of the people's past and the roots that have been left for long years beneath the earth, and which have been sought so that they do not remain submerged and hidden for any longer. To contextualize about ancestral pedagogy, in a culture that runs away from the Eurocentric pattern, it is necessary to establish the connection between the experience of a people and the informal teaching there, because this teaching needs to be established based on the life experience of each individual, and his way of being the protagonist and executor of his space. Ancestral pedagogy presents an ethnocentric study of the importance of studying the science of the ancestors of peoples who had their roots devalued and segregated, but who carried them informally and permeated all these teachings through their generations.
image/svg+xmlNuances Est. Sobre Educ., Presidente Prudente, v. 33, e022006, Jan./Dec. 2022. e-ISSN: 2236-0441 DOI: https://doi.org/10.32930/nuances.v33i00.94846 Ancestral pedagogy in quilombola communities The history of Brazil brings with it the trade and trafficking of blacks who came from countless parts of Africa and was the country that imported most blacks and the last that legally abolished slavery. Around 40% of enslaved Africans came to Brazil, and more than half, specifically 65% of America's black population, are Brazilians. Because of this, of this whole process of exploration and domination, the Brazilian people had their history told for years by the Eurocentric look, which still continues to happen actively in schools, and this brings variables of thoughts and reflections. The African people, under the dominating and colonizing view, did not have the possibility to build an appreciation of themselves. With the decline of sugar systems, the large owners began to make donations of land as a means of reward, along with the little autonomy of some other owners the slaves were taking possession of these territories and making them their own abode, Almeida points out that "in this context, the process of acamponesamento or formation of a layer of small family producers tends to expand and consolidate" (ALMEIDA, 2002, p. 59). Thus, all these territorial processes of change that were called quilombo, were adding there a space not only physical, but expansion and immeasurable size of culture expansion. In this, the quilombos were basically the insubordination of this black people who were living in a country with a distinct culture of which they were accustomed in their original territorial. They were searching for spaces for survival by unlinking themselves from the slave regime in which they were inserted. Emphasizes the author Haesbaert: [...] more than the loss or disappearance of territories, we propose to discuss the complexity of the processes of (re)territorialization in which we are involved, building much more multiple territories or, more appropriately, making our multiterritoriality much more complex. Thus, deterritorialization would [...] be unable to recognize the immanent character of (multi)territorialization in the lives of individuals and social groups. [...] These (multi)territorialization processes need to be understood especially by the potential for innovative political perspectives that they imply (HAESBAERT, 2004, p. 1). With the formation of the quilombos and the liberations of the enslaved after long centuries it was the beginning of an era in which Africans would begin to experience in a new territory their learnings and hierarchies, adding here to Brazil, the construction of our roots, beliefs and cultures. And so, while still existing, quilombola communities that have housed slaves and still harbor descent from them.
image/svg+xmlNuances Est. Sobre Educ., Presidente Prudente, v. 33, e022006, Jan./Dec. 2022. e-ISSN: 2236-0441 DOI: https://doi.org/10.32930/nuances.v33i00.94847 If there is a need for definition and denomination of quilombo of a scientific nature, the Brazilian Association of Anthropology brings a document with the following definition: [...] it does not refer to archaeological waste or remnants of temporal occupation or biological proof. Nor are these isolated groups or a strictly homogeneous population. Similarly, they were not always constituted from a common historical reference, constructed from shared experiences and values (BRAZILIAN ANTHROPOLOGY ASSOCIATION, 1994, p. 81-82). However, there have been numerous changes and redefinitions since the time, knowing that today we have as a definition: Quilombola communities are groups with their own historical trajectory, whose origin refers to different situations, such as land donations made from the disaggregation of monocultures; purchase of land by the subjects themselves, with the end of the slave system; obtained in exchange for the provision of services; or areas occupied in the process of resistance to the slave system (BRASIL, 2013). In this sense, the ancestral pedagogy in quilombola communities aims at the study of black people and the valorization of the culture and experience of this same people trying to insert a look of criticality and scientificity as a determining factor for the non-forgetfulness of the history, memory and culture of the black people and thus be able to expand this dissemination of this people's dissemination and learning, using the pedagogy of ancestry as a means of valuing the quilombola community. The pedagogy of ancestry aims to break with this Eurocentric pattern of Brazilian history, memory and culture and value all the knowledge that is passed on by the ancestors of a people, making their beliefs, habits, customs, stories and experiences, important foundations for the learning of the collectivity, making these learnings become builders of the formator knowledge of individuals. Thus, the very existence of these people will make their education guided by the way they live, individually and in society. Therefore, the need to analyze these historical and cultural artifacts in a scientific way gives them real importance as a source of study and knowledge. When we point out our experience anthropologically, we realize that all our cultures are teachings that came from the past and that they are transformed over time.Ancestral knowledge is considered as key elements in this learning process of what would be an Ancestral Pedagogy, considering that the elements of ancestors such as music, life histories, memories, poems, cooking, recipes, and everything that is passed on from generation to generation, serves as a means of study for this pedagogy.
image/svg+xmlNuances Est. Sobre Educ., Presidente Prudente, v. 33, e022006, Jan./Dec. 2022. e-ISSN: 2236-0441 DOI: https://doi.org/10.32930/nuances.v33i00.94848 It is important to think about this, because as education was formalized, these elements were sparsely treated as important, disregarded from traditional and official curricula and guided by Eurocentric ideals. The cultural realities of black peoples and communities, for example, have historically been abandoned by curricula and scientific studies, and are often treated as small relevance and of small prominence. Quilombola communities are symbols of resistance of the black people. Knowing that these communities were formed by the fact that the enslaved fugitives needed to gather somewhere to escape the cruel circumstances in which they were subjected, they found places that made them feel safe and there began to experience the little knowledge of a utopian freedom that they could live from there. After the abolition of slavery, these communities began to allocate more people, and through there began a resignification of life and a process of adaptation in that new reality, being able to exercise their culture, beliefs, food and roots, and began to develop and revive there in those spaces a stretch of their existence before being cruelly torn from their homeland. Quilombola communities are spaces, not only territorially or geographically speaking, but also cultural and formative spaces, which greatly signify the science of past studies and the importance of preserving history and memory. Through this, the present day carries with it numerous aspects, material and immaterial that were left by the slaves and their families, built on top of the new reality created by them. When we refer to ancestry, it is soon possible to associate the importance of valuing the cultures that are left by our ancestors, with the pedagogy of ancestry, which points out the importance of science to study these facts and be able to bring them to the reality of the formation of individuals, studying the memories left by quilombola communities and causing them to be formally brought to the reality of society that knows little about itself and its roots. Many historians have come to see that the sources documenting the past are not limited to written documents. Artistic manifestations, orality, material culture and other traces can contribute to the understanding of the past (ABUD, 1997). In this sense, we can consider as inheritance left by the quilombos peoples the food, handicrafts, religiosity, clothing, ways of rearing and raising their children. Clearly, all these elements are worshiped in a hereditary way and that transcend, but when we approach a community remaining quilombos, we can realize that, perhaps, it is a culture that has been and still comes to be interrupted by numerous factors.
image/svg+xmlNuances Est. Sobre Educ., Presidente Prudente, v. 33, e022006, Jan./Dec. 2022. e-ISSN: 2236-0441 DOI: https://doi.org/10.32930/nuances.v33i00.94849 [...] our own daily lives present the importance of material culture for societies. The objects that make up our house, our clothing, the means of transport we use, the different instruments used for hygiene, communication, work, registration and protection, among many others, show not only the individual dynamics of our lives but also the social means in which we transit daily. The artifacts conceived and used by human beings are an important means of preserving memory, reconstructing history and providing the generations who succeed to build awareness of the historical trajectory of their society (ABUD; SILVA, U.S.; ALVES, 2013, p. 111). Today, we have the remaining quilombos communities as a territory that culturally carry the whole concept of what happened and what the enslaved had to spare themselves, and their people after the abolition of slavery. When they began to live in freedom, they were able together to exercise the opportunity to be who they were born to be, being able to make their food, medicine, games, rituals, have their own faith and so many other points that slavery had robbed them. Gradually these lands began to offer to those who inhabited their roots there, and making them able to put into practice everything they believed they owed and that in fact made sense to them at that time, amid all the weight they had been carrying for so long. The historical conflicts perpetuated in the remaining quilombos communities have made it difficult to implement public policies aimed at such. Considering that the number of communities that do not have schools is a major, that is, there are no schools located in the quilombola territories located in them, leading quilombolas to attend schools outside their origin. Knowing that access to these schools is difficult, that the government does not provide transport and that schools that will have to attend located outside the communities do not have a curriculum compatible with their historical and cultural reality. The educational, cultural and political dimensions have particularities both in the historical context and in the Brazilian geographic context. With this in mind, Cne Resolution 08/2012 (BRASIL, 2012) was approved, which defines the National Curriculum Guidelines for Quilombola School Education in Basic Education. This guideline discusses the fact that Quilombola School Education needs the specificity of a pedagogy that respects the ethnic-racial and cultural issues of each community, that in its teaching staff there is specific training in the teaching staff, teaching materials and paradidactic. When there is a need for a trained training so that it is possible within the curriculum to be provided a contextualized education, within the reality of each individual, it fosters the idea of the need for the approach of ancestral pedagogy.
image/svg+xmlNuances Est. Sobre Educ., Presidente Prudente, v. 33, e022006, Jan./Dec. 2022. e-ISSN: 2236-0441 DOI: https://doi.org/10.32930/nuances.v33i00.948410 It is essential for an education within our guidelines to permeate and talk about ancestry, especially when there are frequent students living in quilombola communities, knowing that not all communities have schools and that there are students studying in other nearby locations. For the black population, an ancestral pedagogy, in addition to interconnecting its generations with the contemporary, manages to affect a curriculum permeated with real knowledge, which transitions from the reality of the student to his ancestors. Thus, the execution of an inclusive curriculum, having compliance with the laws that certify and guarantee a basic quality education, containing access to culture, and its origins, and citizenship can be exercised. Article 205 of the Federal Constitution establishes that Education, the right of all and the duty of the State and the family, will be promoted and encouraged with the collaboration of society, aiming at the full development of the person, his preparation for the exercise of citizenship and his qualification for work (BRASIL, 1988). If education is a right guaranteed to all, the pedagogy of ancestry ensures in a very objective way the teachings that have been passed on and that still need to be passed on to society as a whole. The ancestry linked to the pedagogical, guarantees the quilombolas the valorization of their memories, inserting them the science of education, using them as a source of didactic material to be offered and worked on themselves and for themselves. Philosophies bring to ancestral practices, in addition to welcoming, it also refers to a liberating, inclusive education that values quilombola communities and their individuals, thus being able to make them perceive themselves in society based on their origins and those of their ancestors.
image/svg+xmlNuances Est. Sobre Educ., Presidente Prudente, v. 33, e022006, Jan./Dec. 2022. e-ISSN: 2236-0441 DOI: https://doi.org/10.32930/nuances.v33i00.948411 Methodology Ethnoresearch is based on the study of a people and the compression of the construction of their identity, in view of the whole process of history of this same people in order to reach a certain situation, being joined to the social sciences. Thus, intimacy, authorization, comprehensive explanation and negotiation, implying struggles for significant, definitions of situation, construction of points of view, inflection of historical senses and reflections on the formative knowledge itself (metaformation), are in the constitutive bases of what we conceive as a critical and multi-referential ethnoresearch or of an ethnoresearch‐formation (MACEDO, 2000, p. 207).For this research of an ethnographic nature, a literature review was initially carried out with the intention of, when entering the field of research, having an already stocked view of information so that the collection of them could be facilitated. Participant observations were also made with the intention of knowing the space and the people belonging there. It is worth remembering that "observation enables a close personal contact of the researcher with the researched phenomenon" (LÜDKE; ANDRÉ, 1986, p. 26) and thus information collection happens according to the real lived there. For this research, guided conversation interviews were also conducted with community representatives, seeking to understand how ancestral pedagogy contributes to the memory and culture of the Quilombola community of Alto do Capim. After, with the analysis of the collected data it will be possible to highlight the results obtained with all the surveys obtained, thus reaching a perspective of conclusion, as gil says: The analysis aims to organize and sum up the data in such a way that they allow the provision of answers to the problem proposed for investigation. The interpretation aims to search for the broader meaning of answers, which is done through its connection to other knowledge previously obtained (GIL, 1999, p. 168). The quilombola community of Alto do Capim, located in Quixabeira Bahia, needed to be the object of this study, because the historical structure that this environment presents has an immense potential for learning, knowledge and experiences that run the risk of being erased over the years, with the possible changes of generation and the acts that will arise in history, if there is no proper record of your entire process. This data collection and analysis of them aims to make the community be presented and or remembered to the maximum possible extent, bringing the possibility of possible data is a generator of ideas, curiosities, actions, which reconsider the valorization of this people.
image/svg+xmlNuances Est. Sobre Educ., Presidente Prudente, v. 33, e022006, Jan./Dec. 2022. e-ISSN: 2236-0441 DOI: https://doi.org/10.32930/nuances.v33i00.948412 Thus, with this study, it is intended that the pedagogy of ancestry has the function of helping to maintain alive the stories, experiences, tales, and experiences that have permeated generations, which have empiricism as a form of knowledge sharing, which through it, passes critically the new generations and thus can perceive themselves in their current and ancestral environment. Data analysis and discussion Through reports of Dona Maria Madalena, her daughter Edeltrudez, and the former councilwoman of Quixabeira, Dona Isaura, it was possible to collect information about the origin of the village of Alto do Capim, according to what was taught and passed on to the people. Therefore, the lack of existing documentation regarding the village makes the interviews become one of the possible sources of information to ask the necessary questions and data collection regarding the origin of the village. In this sense, says Alessandro Portelli (1997, p. 31): [...] Interviews always reveal unknown events or unknown aspects of known events: they always shed new light on unexplored areas of the daily life of non-hegemonic classes [...]. When asked about the fact that a document has not yet been formally made regarding the information punctuated by the oldest residents of the village, Ms. Isaura replies (in an interview on May 15, 2022) that there are few people who are interested in the history of the place, both those who are outside and the residents themselves. In this sense, the question remains: why is the origin of a people not a point of interest to itself? There are very few living residents, in the year of this research, able to tell the origins of the people and their locality. People who pass their 70s on average and who sparsely tell these facts to their grandchildren and children. According to Dona Edeltrudez, 69 years old and resident of Alto do Capim: "they have no interest in knowing anything that we know, everything is on the phone". Contemporaneity has indeed arisen with few interests about our ancestry and about the memories that start from the past. Therefore, it is questioned whether in fact what is not stimulated is the fact that it does not interest the whole context of the past, or just the past that has not been exposed to Eurocentrism. The pedagogy of ancestry refers precisely to the importance of valuing and maintaining the resistance of these facts, which are not part of the current school curriculum,
image/svg+xmlNuances Est. Sobre Educ., Presidente Prudente, v. 33, e022006, Jan./Dec. 2022. e-ISSN: 2236-0441 DOI: https://doi.org/10.32930/nuances.v33i00.948413 but which contains an absurd richness about the origin of the peoples who now reside or who have already resided in this region. For Dona Maria Magdalene, 95, a resident and granddaughter of The Nazaria Slave, all she learned was from her mother and grandmother. Claims: My daughter, she scraped licuri straw to make plastic and line with the cotton she gave, taught me to make tapioca beijÚ, which ceased the grated cassava, to let settle and so we eat, and I did everything she taught, so we could eat while my mother made to be able to sell, in the city" (Testimony collected on 29/05/2021 of Dona Maria Madalena, 95 years old) Although she has not participated in formal classes, within a school, she carries with her historical information with an absolute teaching potential on various subjects, from the local economy to cooking, for example. Since according to the above report, it shows that it learned from the grandmother how to make beijú, food that is known throughout Brazil, but from the typical cuisine of Bahia. This information would fit perfectly into a teaching of a geography, history, arts, or any other discipline valuing a multidisciplinary curriculum. What ancestral pedagogy exemplifies is that this information, reports, memories, requires a scientific analysis that includes in the educational curriculum, information referring to the origins and roots of a given people. Dona Isaura, a former city councilwoman from Quixabeira-Bahia who studied until her early 50s and finished high school, says: "[...] I've never seen or heard anyone talk about the quilombola community at school, people don't even know they are, I think I'm brunette myself and a half-Indian foot, but when I got here, I met a granddaughter of the slave, but here there are a lot of quilombola people". Even though it was decreed by the Palmares Cultural Foundation, in 2011, as the remaining community of quilombos, the residents of the village of Alto do Capim do not understand what it is, and the value it has and adds to them as a society. The importance of ancestral pedagogy is to be able to give this people the liberation of socially fitting into environments that they have not historically been part of, is to make them see themselves within an origin, a history, a reality, is to be part of being and exercising under the world. However, educational processes work in different ways and based on the way of perception of the importance of a society as a whole. But the questions arise: What would indeed be important for history? How can we fail to teach that Afro descendant cultures are not actually pedagogically interesting?
image/svg+xmlNuances Est. Sobre Educ., Presidente Prudente, v. 33, e022006, Jan./Dec. 2022. e-ISSN: 2236-0441 DOI: https://doi.org/10.32930/nuances.v33i00.948414 When talking with Dona Isaura, she reported information that the process of building the village of Alto do Capim was with the help of the residents and the Catholic church. Considering this factor, it is perceived that the local culture was guided by a religious formator concept, that the church was completely inserted in the formation of the society of this village. Currently these residents of the Quilombola Community of Alto do Capim do not feel belonging to the cultural roots of the enslaved, because when asked about being quilombolas, few of them affirm in a concrete and realized way that they really are. Some say yes, they say they are, but they don't know what it really means and that no one has explained who the people who lived there in the village before. Finally, through these surveys, it was noticeable that the residents, despite having memories and stories of the experiences of the ancestors, little identify themselves and there is little curiosity of knowledge about their origins and place of belonging. Final considerations From the research done with the objective of presenting the importance of ancestral pedagogy in the preservation and valorization of the quilombola community of Alto do Capim, located in Quixabeira-Bahia, it was possible to realize that the pedagogy of ancestry has the potential to demonstrate in a practical way the importance of a specific education, which values the ancestry of individuals, their memories, cultures and resistances. However, it was also noticeable that, in the case of the Quilombola Community of Alto do Capim, the processes of informal education have historical and cultural weaknesses, since there is little self-recognition of ancestry in the community. Finally, it is evident that formal education through the school institution present in the community, added to the other institutions belonging to the black movement, join their efforts to transform the curricular reality of that community into multicultural pedagogical processes that will help in the promotion of an education based on the recognition of the reality of its people.
image/svg+xmlNuances Est. Sobre Educ., Presidente Prudente, v. 33, e022006, Jan./Dec. 2022. e-ISSN: 2236-0441 DOI: https://doi.org/10.32930/nuances.v33i00.948415 REFERENCES ABUD, K. M. Temporalidade e didatica da historia. Revista Foruns contemporaneos de ensino de historia no Brasil, Campinas, p. 31-35, 1997. Available: http://ojs.fe.unicamp.br/index.php/FEH/article/view/5025. Access: 23 Apr. 2021. ABUD, K. M.; SILVA, A. C. M.; ALVES, R. C. Ensino de Historia.Sao Paulo: Cengage Learning, 2013. ABA. Associação Brasileira de Antropologia. Documento do Grupo de Trabalho sobre Comunidades Negras Rurais. Rio de Janeiro: ABA, 1994. ALMEIDA, A. W. B. Os Quilombos e as Novas Etnias. In: O’DWYER, E. C. (org.). Quilombos:Identidade étnica e territorialidade. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2002. BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Brasília, DF: Presidência da República, 1988. BRASIL. Ministério da Educação. Conselho Nacional de Educação. Câmara de Educação Básica. Resolução n. 8, de 20 de novembro de 2012. Define Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Escolar Quilombola na Educação Básica. Brasília, DF: CNE, 2012. Available: https://normativasconselhos.mec.gov.br/normativa/view/CNE_RES_CNECEBN82012.pdf?query=ensino%20m%C3%A9dio. Access: 15 Mar. 2020. BRASIL. Guia de Políticas Públicas para Comunidades Quilombolas. Brasília, DF: Programa Brasil Quilombola, 2013. Available: https://seppirhomologa.c3sl.ufpr.br/xmlui/bitstream/handle/123456789/1131/seppir%20guia%20de%20politicas%20publicas.pdf?sequence=-1&isallowed=y. Access: 20 Feb. 2021. GIL, A. C. Como elaborar projetos de pesquisa. 4. ed. São Paulo: Atlas, 1999. LUDKE, M.; ANDRE, M. Pesquisa em educacao: Abordagens qualitativas. Sao Paulo: EPU, 1986. HAESBAERT, R. Dos múltiplos territórios à multiterritorialidade. Porto Alegre: UFRGS, 2004. LIBANEO, J. C. Pedagogia e pedagogos, para que?Sao Paulo: Cortez, 1998. MACEDO, R. S. Currículo e complexidade: A perspectiva crítico-multirreferencial e o currículo contemporâneo. 2. ed. Salvador: EDUFBA, 2000. PORTELLI, A. Ensaios de história oral. São Paulo: Letra e Voz, 1997. SCHIMIED-KOWARZIK, W. Pedagogia Dialetica. Sao Paulo: Brasiliense, 1983.
image/svg+xmlNuances Est. Sobre Educ., Presidente Prudente, v. 33, e022006, Jan./Dec. 2022. e-ISSN: 2236-0441 DOI: https://doi.org/10.32930/nuances.v33i00.948416 How to reference this article NASCIMENTO, B.; CASTRO, E.; BRAZÃO, P. Ancestral pedagogy: an investigation into the existence and resistance of the identity of the quilombola community of Alto do Capim, Quixabeira-Bahia. Nuances Est. Sobre Educ., Presidente Prudente, v. 33, e022006, Jan./Dec. 2022. e-ISSN: 2236-0441. DOI: https://doi.org/10.32930/nuances.v33i00.9484 Submitted:05/09/2021 Approved: 21/12/2021 Revisions required: 07/02/2022 Published: 31/03/2022