Uma experiência de ensino de literatura
Nuances: Estudos sobre Educação, Presidente Prudente, v. 34, n. 00, e023015, 2023. e-ISSN: 2236-0441
DOI: https://doi.org/10.32930/nuances.v34i00.8472 14
pretendem voltar para essa mesma escola para lecionar, alguns visam escolas particulares, mas
é comum trazerem a crença na profissionalização em Letras pelos moldes do conhecimento
“técnico”, crença esta reforçada na formação que recebem.
O texto mencionado rejeita a perspectiva mecanicista do ensino de literatura e defende
o leitor como peça central na prática de leitura eficaz na escola. Utilizando dois filmes do diretor
franco-tunisiano Abdellatif Kechiche como exemplos ilustrativos, a autora reflete sobre o papel
tanto do professor quanto da literatura, chegando a uma conclusão:
É possível, sim, propor novos modos de questionamento do texto, capazes de
suscitar leituras singulares, de modo que os alunos se impliquem na leitura,
relacionando-a ao que está “fora da literatura”, transformando e fecundando a
vida, como nos filmes de Kechiche. Só desse modo, a partir de uma leitura
afetiva, implicada e pessoal, é possível construir um saber sobre a literatura,
construir em sala de aula uma ou mais interpretações e permitir aos alunos
leitores que percebam como elaboram um sentido para si em confronto ou
cooperação com a classe. E, quiçá, poderão estabelecer pontes entre as leituras
“comuns” e obras clássicas (REZENDE, 2017, p. 1).
Penso que a autora indica uma direção importante para as considerações expostas aqui.
A prática da leitura do texto literário que privilegie o leitor e reverbere na vida abre um caminho
na formação do professor que chegará à escola. Mais do que nunca, a constatação de que um
curso de Licenciatura em Letras deve incluir a experiência de leitura do aluno em seu conteúdo
para que esta seja uma realidade na sua futura prática profissional. Não que a solução esteja
pronta, pois o aluno que nos chega é herdeiro de uma “cultura escolar” e espera, às vezes cobra,
um conteúdo convencional e extenso.
Pode parecer para alguns deles que discutir a leitura de uma obra literária de forma
aberta e subjetiva seja perda de tempo e dinheiro, mesmo que o hábito da leitura não faça parte
da sua vida. De qualquer forma, é um fato incontornável, na construção da identidade desse
futuro professor, a necessidade de “instituir o aluno sujeito leitor”, conforme explica Annie
Rouxel (2013, p. 20) em “Aspectos metodológicos do ensino da literatura”:
Isso significa, em primeiro lugar, tanto para o professor quanto para o aluno,
renunciar à imposição de um sentido convencionado, imutável, a ser
transmitido. A tarefa, para ambos, é mais complexa, mais difícil e mais
exultante. Trata-se de partir da recepção do aluno, de convidá-lo à aventura
interpretativa com seus riscos, reforçando suas competências pela aquisição
de saberes e de savoir-faire. O paradoxo da leitura literária em sala se atém ao
fato que, lugar de estudos e de aquisição de saberes, ela, de fato, não é mais
apenas uma leitura. Como fazer para que ela o seja? Como desenvolver, em
proveito da leitura – quer dizer, sem prejuízo para o investimento do leitor – a