Nuances: Estudos sobre Educação, Presidente Prudente, v. 35, n. 00, e024008, 2024. e-ISSN: 2236-0441
DOI: https://doi.org/10.32930/nuances.v35i00.10460 1
NUANCES DOS PARADIGMAS DO ENSINO DA LITERATURA EM ESCOLAS
FEDERAIS BRASILEIRAS
MATICES DE LOS PARADIGMAS DE LA ENSEÑANZA DE LA LITERATURA EN
LAS ESCUELAS FEDERALES BRASILEÑAS
NUANCES OF THE PARADIGMS OF THE TEACHING OF LITERATURE IN
BRAZILIAN FEDERAL SCHOOLS
Dalva Ramos de Resende MATOS1
e-mail: dalva.matos@ifg.edu.br
María LÓPEZ-SÁNDEZ2
e-mail: maria.sandez@usc.es
Como referenciar este artigo:
MATOS, D. R. de R.; LÓPEZ-SÁNDEZ, M. Nuances dos
paradigmas do ensino da literatura em escolas federais brasileiras.
Nuances: Estudos sobre Educação, Presidente Prudente, v. 35, n.
00, e024008, 2024. e-ISSN: 2236-0441. DOI:
https://doi.org/10.32930/nuances.v35i00.10460
| Submetido em: 10/06/2024
| Revisões requeridas em: 01/07/2024
| Aprovado em: 10/07/2024
| Publicado em: 16/08/2024
Editores:
Profa. Dra. Rosiane de Fátima Ponce
Prof. Dr. Paulo César de Almeida Raboni
Editor Adjunto Executivo:
Prof. Dr. José Anderson Santos Cruz
1
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Goiás (IFG), Itumbiara GO Brasil. Professora de
Língua Portuguesa e Literatura, Departamento de Áreas Acadêmicas. Doutora em Educação (USC). Membra dos
grupos de pesquisa NuPEPE-IFG e LITER21-USC.
2
Universidade de Santiago de Compostela (USC), Santiago de Compostela A Corunha Espanha. Professora
da área de Didática da Língua e da Literatura, Departamento de Didáticas Aplicadas, Vice-decana da Faculdade
de Ciências da Educação. Doutora em Teoria da Literatura e Literatura Comparada. Membra do Grupo de
Investigação RODA-USC. Acadêmica de número da Real Academia Galega.
Nuances dos paradigmas do ensino da literatura em escolas federais brasileiras
Nuances: Estudos sobre Educação, Presidente Prudente, v. 35, n. 00, e024008, 2024. e-ISSN: 2236-0441
DOI: https://doi.org/10.32930/nuances.v35i00.10460 2
RESUMO: Este trabalho, na área da Didática da Literatura, aborda os paradigmas do ensino
da Literatura, dos modelos tradicionais aos inovadores. Os objetivos principais são apresentar
e discutir resultados referentes à descrição e à análise de percepções e práticas do professorado
de Literatura das escolas federais situadas em Goiás, bem como refletir sobre os atuais modelos
de ensino da literatura vigentes na realidade investigada e em outros contextos escolares. Trata-
se de uma investigação de enfoque metodológico misto, cujos dados foram obtidos por meio da
aplicação de um questionário a docentes de Língua Portuguesa e Literatura do Ensino Médio
de tais instituições. Em linhas gerais, os resultados revelam percepções e práticas docentes que
remetem a uma hibridização de elementos de paradigmas tradicionais, contemporâneos e
inovadores do ensino da literatura, com um leve predomínio do modelo social-identitário.
PALAVRAS-CHAVE: Ensino da Literatura. Paradigmas. Letramento literário. Educação
literária. Ensino Médio.
RESUMEN: Este trabajo, en el área de Didáctica de la Literatura, aborda los paradigmas de
la enseñanza de la Literatura, desde los modelos tradicionales hasta los innovadores. Los
objetivos principales son presentar y discutir resultados relacionados con la descripción y
análisis de las percepciones y prácticas del profesorado de Literatura de las escuelas federales
ubicadas en Goiás, así como reflexionar sobre los modelos actuales de enseñanza de literatura
vigentes en la realidad investigada y en otros contextos escolares. Se trata de una investigación
con abordaje metodológico mixto cuyos datos fueron obtenidos a través de la aplicación de un
cuestionario a profesores de Lengua y Literatura Portuguesas de la Educación Secundaria de
dichas instituciones. En general, los resultados revelan percepciones y prácticas docentes
caracterizadas por una hibridación de elementos de paradigmas tradicionales,
contemporáneos e innovadores de la enseñanza de la literatura, con un ligero predominio del
modelo socio-identitario.
PALABRAS CLAVE: Didáctica de la Literatura. Paradigmas. Literacidad literaria.
Educación literaria. Secundaria.
ABSTRACT: This work in Didactics of Literature explores the paradigms of literature
teaching, ranging from traditional to innovative models. The main objectives are to present and
discuss results related to the description and analysis of perceptions and practices of literature
teachers at federal schools in Goiás. Additionally, it reflects on the current literature teaching
models in the investigated context and other school environments. This investigation employs
a mixed-methods approach, collecting data through questionnaires administered to Portuguese
Language and Literature teachers at the high school level in these institutions. In general, the
results reveal perceptions and teaching practices that refer to the hybridization of elements of
traditional, contemporary, and innovative paradigms of the teaching of literature, with a slight
predominance of the social-identity model.
KEYWORDS: Teaching of Literature. Paradigms. Literary literacy. Literary education. High
School.
Dalva Ramos de Resende MATOS e María LÓPEZ-SÁNDEZ
Nuances: Estudos sobre Educação, Presidente Prudente, v. 35, n. 00, e024008, 2024. e-ISSN: 2236-0441
DOI: https://doi.org/10.32930/nuances.v35i00.10460 3
Introdução
Ao longo dos tempos, o ensino de literatura vem sofrendo mudanças que, segundo
Colomer (2010), são produzidas nos mecanismos de produção cultural e de coesão social dos
distintos momentos históricos. Nesse sentido, em diferentes e/ou concomitantes épocas, surgem
paradigmas de ensino que atribuem diferentes funções à literatura.
3
Todavia, para Cosson (2018), diferentemente da renovação ocorrida no ensino de língua
portuguesa (no qual se instaurou o modelo sociointeracionista), não há no Brasil, no campo da
literatura, um paradigma claramente consolidado que supere o ensino tradicional baseado na
historiografia dos períodos artístico-literários. Para esse pesquisador, em tal campo no contexto
brasileiro, diversos e contrastivos projetos e propostas que não se efetivam, porém, na prática
da sala de aula, levando à fragmentação e à desorganização da área. Assim, segundo ele, com
quem concordamos, são necessários mais trabalhos em prol de uma organização das abordagens
do ensino da literatura em paradigmas conceituais e metodológicos, bem como novas
investigações empíricas que contribuam efetivamente para uma mudança nesse panorama.
Diante dessa problemática, estabelecemos como pergunta norteadora: Que modelos de
ensino da literatura imperam atualmente nas salas de aulas do ensino médio das escolas federais
brasileiras? Para responder tal questão, desenvolvemos uma pesquisa de enfoque metodológico
misto fundamentada na perspectiva dialógica da literatura, a partir de aportes teóricos
interdisciplinares, tais como Ballester (2015), Colomer (1991, 2010) e Cosson (2014, 2018,
2020).
4
Os objetivos principais são: apresentar e discutir resultados referentes à descrição e à
análise de percepções e práticas do professorado de Literatura das escolas federais situadas no
estado de Goiás, bem como refletir sobre os atuais modelos do ensino da literatura vigentes na
realidade investigada e em outros contextos escolares.
Essa delimitação contextual justifica-se, sobretudo, em razão da qualidade socialmente
referenciada do ensino público dessas instituições escolares e da escassez de pesquisas sobre o
tema em questão nesses espaços federais de aprendizagem, uma vez que localizamos, no
3
“Um paradigma é constituído por saberes e práticas, conceitos e técnicas, questionamentos e exemplos, objetos
e termos usados para descrevê-los dentro de uma determinada área do conhecimento. Ele funciona como uma
espécie de moldura que identifica, explica e guia, mas também delimita a atuação dos profissionais da área
(Cosson, 2020, p. 7).
4
Este trabalho está vinculado a uma investigação de doutorado que aborda o processo de formação do leitor
literário em escolas do ensino médio de Goiás (Brasil) e da educação secundária da Galícia (Espanha), com foco
no estudo dos marcos legais e no trabalho com a leitura literária em sala de aula a partir da análise e interpretação
de percepções e práticas didáticas do professorado e de dados dos livros didáticos das línguas oficiais e das
respectivas literaturas nesses dois contextos (Matos, 2023).
Nuances dos paradigmas do ensino da literatura em escolas federais brasileiras
Nuances: Estudos sobre Educação, Presidente Prudente, v. 35, n. 00, e024008, 2024. e-ISSN: 2236-0441
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Catálogo de Teses e Dissertações da Capes, pouquíssimos trabalhos em nível de doutorado com
foco nesse lócus na última década, como Barros (2014) e Fontana (2018).
Para a organização da estrutura deste texto, primeiramente, trazemos uma breve
sistematização teórico-metodológica acerca dos paradigmas tradicionais, contemporâneos e
inovadores do ensino da literatura no ensino médio no contexto brasileiro. Na sequência,
apresentamos a metodologia empregada e, em seguida, discutimos os principais resultados,
sintetizando as análises e interpretações dos dados referentes aos paradigmas de ensino da
literatura no ensino médio no contexto supracitado. Fechamos o texto com as considerações
finais e as referências, esperando contribuir para o avanço no estado da arte sobre tal questão e
abrir novas linhas de pesquisa em prol da formação do leitor literário no ensino médio.
A literatura no ensino médio: dos paradigmas tradicionais às propostas inovadoras
No campo do ensino da literatura, muitas transformações, que podem ser compreendidas
como uma sucessão de paradigmas, vêm ocorrendo ao longo dos tempos. Tendo em vista os
trabalhos de autores como Ballester (2015), Colomer (1991, 2010) e, sobretudo, de Cosson
(2018, 2020), podemos sintetizar o ensino da Literatura no Brasil em sete paradigmas, sendo:
dois tradicionais, gramatical e histórico, e três contemporâneos: analítico, formação do leitor
e social, além dos dois inovadores: letramento literário e educação literária. Cada um desses
modelos é determinado por distintos conceitos de literatura, bem como por diferenciados
objetivos, conteúdos, metodologias, papéis do professorado e formas de seleção dos textos
literários, conforme as principais características apresentadas a seguir.
Do século XIX até a primeira metade do século XX, dois paradigmas imperaram no
contexto brasileiro: o gramatical e o histórico, mas ainda hoje esses modelos podem ser
observados nas salas de aula. O primeiro deles remonta ao ensino do latim e do grego, do qual
ocorreu, mais tarde, uma transposição para o ensino das línguas modernas. A literatura era
usada para o ensino da ngua a partir de antologias de textos literários, na maioria das vezes,
compostas por fragmentos que eram usados para exercícios gramaticais. O conceito de
literatura desse paradigma resume-se às obras clássicas, com o objetivo de auxiliar no ensino
de língua para a formação de bons leitores e escritores, explorando como conteúdo os usos
excepcionais da língua (linguagem rebuscada, vocabulário complexo, inversões sintáticas), por
meio de uma metodologia focada na análise de fragmentos das obras, sendo o papel do
professor o de usar os textos literários para exemplificar os modelos ideais a serem seguidos
Dalva Ramos de Resende MATOS e María LÓPEZ-SÁNDEZ
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pelos alunos, a partir de uma seleção de textos pautada na tradição literária. Dentre os muitos
problemas desse modelo, está o fato de a literatura não ter um lugar próprio na escola, uma vez
que ela é tratada como ancilar à língua, ou seja, é usada como um pretexto para o ensino dos
conteúdos linguísticos.
Na sequência, o paradigma histórico surgiu baseado na ideia da literatura como tradição
cultural de um povo. Amplamente adotado no ensino médio, pautava-se no ensino da literatura
com foco na periodização literária, por meio de uma sequência da apresentação de uma breve
contextualização da época, seguida das características de determinada escola literária, da lista
de autores representativos dessa escola e de uma breve biografia (vida e principais obras) deles.
O texto literário era apresentado, geralmente, por meio de fragmentos, a título de ilustração, no
final do estudo. Em síntese, nesse paradigma, o conceito de literatura é o de herança artístico-
cultural nacional, sendo o objetivo de seu ensino a inserção cultural e o conteúdo: o cânone, os
períodos artístico-literários e as biografias dos principais autores, por meio de uma metodologia
centrada nas preleções sobre autores e movimentos artísticos, e o papel do professor o de
apresentar os textos literários, ou melhor, os fragmentos deles, em seu ambiente histórico-
cultural, com a seleção de textos consagrados pela crítica/história literária.
Apesar das inúmeras críticas a esse modelo, que mais ensina a história da literatura do
que a literatura propriamente dita e, por isso, não forma leitores literários, tal paradigma, a
exemplo da história da arte, ainda costuma persistir nas salas de aulas e nos livros didáticos
brasileiros, por meio do estudo dos períodos artístico-literários (Trovadorismo e Classicismo
em Portugal e do Barroco ao Modernismo português e brasileiro), assim como também resiste
nos documentos oficiais, quando se procura garantir “o ensino da literatura como patrimônio
nacional ou herança artístico-cultural” (Cosson, 2018, p. 134).
Sobre os paradigmas contemporâneos, o primeiro deles é inspirado nas abordagens
críticas do formalismo russo e do estruturalismo. Trata-se do paradigma analítico (ou textual),
cujo conceito de literatura corresponde aos textos de alta elaboração estética e demonstra uma
preocupação com a leitura minuciosa do texto, uma espécie de close reading, para revelar os
seus elementos composicionais. Nesse modelo analítico, segundo Cosson (2018, p. 138-139),
as aulas “consistem em análises textuais que buscam desenvolver a consciência estética do
aluno, por meio de um estudo crítico de determinada obra literária feito ou reproduzido pelo
professor” e, geralmente, esse estudo parte de extratos ou níveis para textos poéticos e
categorias narrativas em relação aos textos em prosa para reconstruir analiticamente a
elaboração estética da obra”.
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O objetivo é desenvolver no aluno uma consciência estética, a partir de uma metodologia
de análise textual do conteúdo, que são os elementos composicionais do texto, numa seleção de
textos de alto valor artístico, que não se restringem mais apenas ao cânone, mas ainda não
incorporam as produções contemporâneas. O papel docente é o de modelagem da análise
literária, a fim de que o alunado possa reaplicar esse modelo. Entretanto, o estudo crítico feito
pelo professorado, com mais recursos e maior domínio da linguagem literária, distancia-se
muito daquele que o alunado consegue realizar. Outro problema é que, ao se propor uma leitura
minuciosa do texto em sala de aula, em função da reduzida carga horária destinada à literatura,
dá-se preferência aos textos curtos, cuja análise é facilitada pela dimensão da obra, como
poemas líricos e contos, estreitando ainda mais o horizonte da literatura, que já fora encurtado
pelo critério do lavor estético.
Como uma reação, surge a partir dos estudos com foco no leitor, dentre outros fatores,
o paradigma de formação do leitor, que aborda a literatura como fruição. Com predomínio na
educação infantil e no ensino fundamental, mas sobreposto ao historicismo no ensino médio,
esse modelo é bastante disseminado no Brasil desde os anos 1980. A concepção de literatura é
bastante ampla, uma vez que abarca todos os gêneros poéticos e ficcionais, sobretudo de
literatura de massa e populares, sendo a seleção textual baseada no critério de textos que
agradem o leitor em um primeiro momento e os que o desafiem seus hábitos de leitura ou
interesse escolar na sequência. A metodologia desse modelo pauta-se no acesso direto à obra
na promoção da leitura, por meio de um conjunto variado de propostas, inclusive as de ler por
ler, sem interferência, ou a leitura deleite, a fim de se garantir o objetivo de desenvolver o hábito
da leitura pelo conteúdo do prazer da fruição. O papel do professor é o de mediador dos textos
literários.
Nas propostas mais restritivas, associa-se a leitura literária a um motivo, como a
expansão do vocabulário e a humanização do leitor, com uma certa consciência social, inclusive
com o uso de livros paraliterários, que utilizam a estrutura poética ou ficcional para ensinar
algum conteúdo escolar ou tema transversal, tais como sexualidade, cidadania, bullying, etc.
Para Cosson (2018), com quem concordamos, não se deve negar essas questões, porém
premissas que precisam ser repensadas nesse paradigma, como a crença que basta o acesso
direto ao texto e a leitura de fruição para formar o gosto pela leitura, desprezando-se assim a
necessidade de ensino da literatura. Além disso, tal paradigma, em última instância, acarreta o
apagamento do papel pedagógico do professor, já que a sua função de mediador dos textos
literários funciona mais no sentido de animador ou mero indicador das leituras. Um outro ponto
Dalva Ramos de Resende MATOS e María LÓPEZ-SÁNDEZ
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questionável é que, nesse modelo, o bom leitor é aquele que muitos livros, independente da
qualidade das obras, numa visão de que a quantidade levará à qualidade e de que a leitura de
certas literaturas de massa seja o trampolim para se atingir a leitura canônica.
o paradigma social, também chamado de identitário ou social-identitário, tem como
base o multiculturalismo, os estudos de gênero, os estudos pós-coloniais, o desconstrucionismo,
o pós-estruturalismo, os estudos culturais e a teoria Queer. Tal modelo concebe a literatura
essencialmente como representação ou construção social, com o objetivo de desenvolver a
consciência crítica dos estudantes ou, no mínimo, permitir o entendimento das relações sociais
e de identidade, sendo o papel do professor o de suscitar e conduzir o debate. Para isso, esse
paradigma utiliza-se de uma lógica seletiva (inclusão e exclusão) de textos socialmente
relevantes pelas representações sociais que abarcam.
Nesse processo, são adotadas duas metodologias: uma centrada no conteúdo, na qual o
alunado junto com o professorado são levados a ler, debater e promover seminários sobre as
temáticas sociais que os textos canônicos apresentam; e outra centrada no leitor, que é mais
recente e busca ler, discutir e analisar, a partir da vertente do multiculturalismo, como as
identidades das minorias, por exemplo, o índio ou a mulher, são representadas em determinadas
obras. Nesse caso, além dos cânones, a seleção incorpora também autores esquecidos pela
crítica oficial e obras contemporâneas que são relevantes para o reconhecimento de diferentes
identidades culturais pelo leitor. Tal paradigma sofre críticas por recusar a leitura de
determinadas obras literárias pela representação estereotipada de alguma minoria, o que acaba
restringindo o corpus e impedindo uma visão crítica de determinada temática, entre outros
problemas.
Tendo em vista os traços negativos desses paradigmas e a falta de um modelo que
forneça, de fato, uma sistematização curricular das propostas para o trabalho efetivo do
professorado, surgem duas propostas inovadoras, que, apesar das similaridades, não devem ser
confundidas, tendo em vista as suas especificidades.
No contexto brasileiro, está em construção o modelo chamado por Cosson (2014, 2018,
2020) de letramento literário, que tem por norte a literatura como liberdade (Barthes, 1979),
dentro da ngua e da linguagem. Essa proposta tem como a base a perspectiva dialógica e a
linguagem como concepção sistêmica de literatura, enquanto repertório de textos e práticas
literárias que dizem como os textos são construídos por uma comunidade de leitores e como
devem ser lidos. Nas palavras de Cosson (2020, p. 176, grifo do autor), literatura é uma
linguagem que se apresenta como um repertório de textos e práticas de produção e
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interpretação, pelos quais simbolizamos nas palavras e pelas palavras a nós e o mundo que
vivemos”. O objetivo é desenvolver a competência literária do leitor e do produtor, por meio do
conteúdo que é a própria experiência literária e de uma metodologia responsiva, que adota a
leitura como prática interpretativa, possibilitando réplicas (respostas) do leitor na coprodução
de sentido do texto. Nesse paradigma, o papel do professor não é o de simplesmente mediar,
mas sim o de construir comunidades de leitores, a partir da seleção de textos plurais e
significativos para a experiência literária de determinada comunidade, simples ou complexos,
de acordo com as demandas locais. Nesse sentido, precisa-se pensar a literatura para além das
produções impressas, avançando, inclusive, para os gêneros digitais.
Além desses seis paradigmas sistematizados por Cosson (2018, 2020), podemos
sintetizar a proposta de educação literária, a partir das mesmas categorias utilizados por esse
autor e dos pressupostos de Ballester (2015), Colomer (1991, 2010) e Jover (2007, 2009). Tal
proposta está começando a se delinear no Brasil, mas se consolidou nas pesquisas, marcos
legais e livros didáticos em outros países ocidentais. Na Espanha, por exemplo, teve início nos
anos 1980, a partir das contribuições de diversas teorias, como a estética da recepção, semiótica
textual, teoria transacional ou de respostas leitoras, pragmática literária, sociocrítica e
psicologia cognitiva. Parece haver um acordo generalizado de concepção de literatura como
construção cultural do sujeito, justificada pela reformulação do papel desta na formação dos
cidadãos.
Os objetivos principais são o desenvolvimento da competência literária (interpretativa)
e a aquisição de hábitos de leitura. O papel docente é o de um mediador participante, que não
se limita apenas em promover o prazer da leitura, mas faz uso de uma metodologia baseada
principalmente em conteúdos de estratégias de leitura e técnicas de escrita criativa, com
atividades diversificadas, de leitura e comentário, oficinas de escrita criativa, exercícios de
estilo, estudo e manipulação de formas expressivas, projetos, por exemplo, contribuindo, assim,
para a criação de comunidades de leitores, a partir de um corpus que não se restringe à literatura
nacional, mas que contempla também textos da literatura universal, que vão desde os clássicos
às produções contemporâneas, adotando a literatura juvenil, relatos de ficção científica e de
aventuras, quadrinhos, anúncios, filmes e diversos outros gêneros.
Dalva Ramos de Resende MATOS e María LÓPEZ-SÁNDEZ
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Metodologia
Para este trabalho, tendo em vista o tema da pesquisa e os objetivos a serem alcançados,
desenvolvemos uma investigação de enfoque metodológico misto, com a utilização de técnicas
e procedimentos de natureza qualitativa e quantitativa, de alcance predominantemente
descritivo e caráter transversal. Para isso, tomamos como referência os modelos gerais de
desenho misto proposto por Hernández Sampieri, Fernández Collado e Baptista Lucio (2013)
para a elaboração do nosso próprio desenho investigativo.
Concretamente, coletamos os dados mediante a aplicação de um questionário on-line,
no período de fevereiro a junho de 2021, enviado, via e-mail e redes sociais, a um conjunto de
144 docentes que ministram aulas de Literatura no ensino médio (1º ao ano) nas escolas
federais situadas em Goiás (amostra convidada)
5
. Desse total, recebemos 70 respostas (amostra
definitiva), o que corresponde a 48,6%. Porém, como nos Institutos Federais, a maior parte do
corpo docente possui dupla habilitação em Letras (Português e uma ngua estrangeira moderna)
e ministra disciplinas relativas a uma ou mais línguas, com rotatividade semestral e/ou anual
nas matérias escolares, cursos e níveis de ensino; não sendo possível, portanto, determinar com
exatidão quantos desses professores convidados, efetivamente, estavam ministrando aulas de
Língua Portuguesa e Literatura no ensino médio no período de aplicação da pesquisa. Diante
disso, trata-se de uma amostragem não probabilística, guiada por propósitos, haja vista que não
foi possível estimar com precisão a população.
Quanto ao instrumento de coleta de dados (ICD), o questionário contemplou perguntas
e variáveis sobre o perfil dos participantes e questões (abertas, semifechadas e fechadas)
relativas às percepções e práticas de ensino da literatura empregadas pelo professorado, bem
como sobre o comportamento leitor dos docentes. Todavia, em razão da amplitude dos dados e
do espaço limitado deste artigo, abordaremos aqui apenas as duas primeiras dimensões do ICD,
com foco nos itens com as variáveis/categorias (concepções, objetivos, conteúdos,
metodologias, papéis do professorado e formas de seleção dos textos literários) relativas aos
elementos constituintes dos sete paradigmas do ensino da literatura.
Após as fases de recolha e de tratamento dos dados, nós nos debruçarmos sobre esses, a
fim de descrevê-los, analisá-los e interpretá-los, com o propósito de cumprir com os objetivos
propostos neste trabalho. Além disso, exploramos dados secundários (advindos de outras
5
As escolas federais situadas em Goiás correspondem a dois Institutos Federais - IF (Instituto Federal de Goiás
IFG e Instituto Federal Goiano IF-Goiano, que, juntos, possuem 26 campi em 25 cidades localizadas em todas
as microrregiões desse estado) e ao Centro de Ensino e Pesquisa Aplicada à Educação, uma das unidades da
Universidade Federal de Goiás (CEPAE-UFG), localizada na capital do estado.
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pesquisas), interrelacionando e interpretando os resultados obtidos na discussão geral e no
decorrer do processo misto.
Em relação à legitimidade do processo misto, além do rigor das técnicas e
procedimentos de seleção das amostras e da coleta e tratamento dos dados (que incluiu a
consulta a experts para a validação do questionário e o uso do programa IBM-SPSS para a
análise estatística descritiva), incorporamos outros elementos, como a qualidade do desenho
misto, a aplicação de uma prova piloto do ICD, o rigor interpretativo (Hernández Sampieri;
Fernández Collado; Baptista Lucio, 2013) e as questões éticas, como a submissão do projeto de
pesquisa ao Comitê de Ética em Pesquisa (IFG) e a preservação do anonimato dos participantes.
A literatura nas escolas federais situadas em Goiás: percepções e práticas docentes
Primeiramente, julgamos relevante trazer o perfil dos participantes, a título de
apresentação dos sujeitos da pesquisa. Em linhas gerais, os dados revelam que a amostra é
composta predominantemente por um corpo docente com idade entre 31 e 40 anos (58,6%),
majoritariamente do gênero feminino (74,3%), bem qualificado (47,1% têm doutorado), com
formação acadêmica na área de atuação e experiência docente (81, 3% têm no mínimo 11 anos
de docência). Ademais, a maior parte dos participantes mantém-se atualizada, por meio da
formação continuada e da participação em eventos acadêmico-científicos, sendo: (37,1%),
algumas vezes (32,9%), sempre (22,9%) e raramente (7,1%), o que demonstra o engajamento
em um processo permanente e constante de aprimoramento e atualização com as novas
tendências educacionais.
Destacamos que esse perfil difere bastante do corpo docente das redes públicas estaduais
e municipais e da privada no Brasil, que os professores federais têm formação acadêmica,
remuneração e condições de trabalho muito melhores que a grande maioria do professorado
brasileiro, gozando, inclusive, de relativa liberdade na elaboração dos currículos locais, na
seleção dos conteúdos e na escolha dos métodos de ensino-aprendizagem.
Quanto às questões do ICD relativas aos paradigmas do ensino da Literatura, os
resultados revelam a coexistência de elementos constitutivos dos diferentes modelos do ensino
da literatura, com diferentes níveis de incidência, evidenciando uma mescla de percepções e
práticas tradicionais, contemporâneas e inovadoras.
Apesar dessa diversidade, podemos destacar alguns aspectos no que diz respeito ao
fenômeno literário e seu ensino no contexto educacional investigado, buscando uma resposta
Dalva Ramos de Resende MATOS e María LÓPEZ-SÁNDEZ
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para a questão que norteou nossa investigação, por meio do apontamento e descrição do/s
modelo/s do ensino da literatura que predomina/m nas escolas federais situadas em Goiás.
Vejamos, então, os resultados obtidos, por meio das seis questões que trazem as variáveis
relativas às principais características/categorias de cada um dos paradigmas, cujo cálculo das
médias foi obtido a partir da seguinte escala: 1= nada; 2= pouco; 3= bastante; 4= muito.
A primeira dessas questões aborda as visões (concepções) de literatura, por meio da
pergunta: “Em que medida as seguintes visões de literatura se assemelham com a(s)
empregada(s) em sua prática docente?” De acordo com as respostas, em primeiro lugar, aparece
a visão da literatura como um espaço de representação ou construção social (3,7), típica do
paradigma social-identitário, como “muito” semelhante à dos participantes e, em último, como
“pouco” semelhante, a de que literatura são obras clássicas (2,2), própria do paradigma
tradicional moral-gramatical.
Na sequência, abordamos os objetivos do trabalho com a literatura na escola, por meio
da seguinte questão “Em que medida você prioriza os seguintes objetivos ao trabalhar com
textos literários na escola?” As respostas obtidas revelam que todos os objetivos são “muito”
ou “bastante” mobilizados, com um leve destaque para desenvolver a consciência crítica dos/as
estudantes, permitindo o entendimento das relações sociais e de identidade (3,7%), promover
a inserção cultural dos/as estudantes (3,6) e desenvolver a competência literária e a aquisição
de hábitos de leitura (3,6) características picas dos paradigmas social-identitário, histórico-
nacional e educação literária, respectivamente.
Essa coexistência de paradigmas também pode ser percebida pelas respostas à próxima
pergunta do questionário: “Em que medida você prioriza os seguintes conteúdos, em suas aulas,
a partir do trabalho com o texto literário?” Em primeiro lugar, aparece a variável as
representações sociais dos textos (3,7), própria do modelo social-identitário, como sendo o
conteúdo mais priorizado por esses participantes; e, em último, como menos privilegiado, usos
excepcionais da língua, tais como linguagem sofisticada, vocabulário complexo, inversões
sintáticas (2,2), conteúdo típico do paradigma moral-gramatical, sendo “pouco” priorizado
pelos professores da amostra.
Em seguida, questionamos acerca do papel do professor, por meio da questão: “Em que
medida estes descritores se assemelham ao seu papel como professor/a no trabalho com os
textos literários na escola?” Segundo os participantes, cabe a eles, sobretudo, suscitar e
conduzir o debate sobre representação social e identitária (3,6), no nível “muito” da escala de
medida, do paradigma social-identitário. Mas as funções docentes dos outros modelos também
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foram assinaladas, sendo que usar os textos literários para exemplificar os modelos de textos
ideais a serem seguidos pelos estudantes (1,9), do tradicional moral-gramatical, aparece como
sendo a categoria que menos se assemelha ao papel desse professorado.
Dando continuidade, indagamos sobre a seleção do corpus literário, por meio da
pergunta: “Em que medida você adota estes tipos de seleção do corpus literário em suas aulas?
Ao calcularmos as médias das respostas, comprovamos a coexistência de características de
todos os paradigmas; contudo, com um maior equilíbrio, uma vez que os valores indicam que
os participantes dessa amostra adotam “bastante” as diferentes seleções de corpus literário, com
um leve destaque para seleção de textos clássicos e contemporâneos da literatura nacional e
universal dos mais diversos gêneros e em variados suportes, incluindo, filmes, quadrinhos,
literatura digital, etc. (3,4), cuja seleção textual é peculiar à proposta da educação literária.
Vejamos agora as metodologias empregadas pelos respondentes, cujos indicadores
foram obtidos a partir da pergunta: “Em que medida estas metodologias se assemelham à(s)
empregada(s) por você em suas aulas?” As respostas revelam a adoção de diferentes práticas
metodológicas no ensino da literatura na realidade investigada, com certo equilíbrio nas
respostas. Porém, podemos afirmar que prevalecem, sobretudo: a metodologia típica do
paradigma social-identitário, centrada nas representações histórico-sociais ou nas
representações de identidade de determinadas minorias (3,4) e aquela relacionada ao
letramento literário, tida como metodologia responsiva, que adota a leitura como prática
interpretativa, possibilitando réplicas (respostas) do leitor na coprodução de sentido do texto,
a partir de atividades variadas (3,2).
A seguir, no Gráfico 01, apresentamos uma visão geral da incidência de cada um dos
paradigmas, cujas médias de incidência (na escala de 1 a 4) foram obtidas a partir dos resultados
dessas seis questões.
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Gráfico 1 Paradigmas do ensino da literatura nas escolas federais
Fonte: Elaboração dos autores (2023).
Conforme podemos observar no Gráfico 1, na realidade brasileira investigada,
predominam, nas aulas de literatura do ensino médio, o modelo social-identitário, seguido dos
modelos inovadores da educação literária e do letramento literário. Ademais, chama a nossa
atenção a presença de percepções e práticas tradicionais, como as ligadas ao modelo de
abordagem histórico-nacional e ao moral-gramatical, sendo este com a menor incidência na
realidade investigada. Tal consolidado denota uma sobreposição de modelos e um certo
hibridismo no que tange aos seus elementos constitutivos. Ademais, essa mescla é ratificada ao
analisarmos individualmente as respostas dos participantes, uma vez que verificamos que um
mesmo participante apresenta, muitas vezes, identificações com percepções e práticas dos
diferentes paradigmas do ensino da literatura.
O predomínio do modelo social-identitário pode ser percebido desde a primeira
pergunta, quando os participantes são arguidos sobre a concepção de literatura. Assim como
Michelli (2018), acreditamos que a orientação teórica com a qual o docente mais tem afinidade
em relação à visão de literatura costuma conduzir sua prática docente, tal qual os significados
intelectuais, sociais e afetivos que ele constrói em termos de literatura para si próprio. Desse
modo, ao observamos a prevalência da concepção da literatura como um espaço de
representação ou construção social, notamos uma ligação significativa do professorado
participante de nossa pesquisa a esse modelo que procura incluir a sociedade na relação leitor-
texto, tanto no que se refere às questões emblemáticas sociais quanto à representação de
minorias ou grupos sociais. Segundo Cosson (2020), nesse modelo, a literatura é compreendida
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como um artefato de resistência cultural contra quaisquer discriminações baseadas nas
diferenças e de luta pela construção de uma sociedade com mais justiça e equidade.
Ainda de acordo com o especialista em letramento literário, a literatura, ao representar
as relações sociais sem negligenciar os valores estéticos, estabelece uma homologia com a
sociedade. Sob essa perspectiva, a literatura evidencia as relações de poder no espaço simbólico
e critica a exclusão das minorias que não se enquadram nos padrões sociais e culturais
dominantes. Nesse sentido, os defensores desse modelo reivindicam a pluralidade social e
cultural do cânone ao mesmo tempo que condenam as representações estereotipadas e
preconceituosas de minorias em obras do passado ou contemporâneas, assim como repudiam
quaisquer representações negativas baseadas em diferenças (gênero, étnico-racial, orientação
sexual, deficiências físicas e intelectuais, etc.). Ao conferir protagonismo às minorias e
representá-las de maneira positiva, a obra literária combate preconceitos e dignifica as
diferenças. Esse processo permite que membros de grupos minoritários afirmem suas
identidades e desperta empatia em outras pessoas que passam a reconhecer as lutas desses
grupos como legítimas, contribuindo, assim, para a construção de uma sociedade mais plural e
democrática.
Ademais, o paradigma social-identitário encontra respaldo na Lei n.º 11.645/08,
instituindo a obrigatoriedade da inclusão do estudo da história e cultura afro-brasileira e
indígena no currículo oficial do ensino médio (Brasil, 2008). Também conta com o reforço da
Base Nacional Comum Curricular (BNCC), cujo documento estabelece que “a escola, como
espaço de aprendizagem e de democracia inclusiva, deve se fortalecer na prática coercitiva de
não discriminação, não preconceito e respeito às diferenças e diversidades” (Brasil, 2018, p.
14) e, especificamente no ensino médio, precisa levar em conta “obras mais complexas da
literatura contemporânea e das literaturas indígena, africana e latino-americana” (p. 492).
Diante disso, considerando que o Brasil é um país marcado por inúmeras desigualdades
e pelo conhecido engajamento político do corpo docente das escolas federais em defesa das
minorias, não é surpreendente que esse paradigma tenha predominado nesse contexto. Esse
cenário é corroborado pelo alto grau de qualificação da maioria dos docentes em suas áreas de
atuação, bem como pela participação significativa em cursos de formação continuada e eventos
acadêmico-científicos. Dessa forma, esses profissionais estão familiarizados com as
publicações que atestam o fracasso dos modelos tradicionais de ensino da literatura, o que
também pode explicar a presença significativa (em segundo lugar) de percepções e práticas
Dalva Ramos de Resende MATOS e María LÓPEZ-SÁNDEZ
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derivadas do letramento literário e da educação literária, apontadas como alternativas
inovadoras para o trabalho com a literatura.
Entretanto, apesar de todos os aspectos relevantes, na prática, o modelo social-
identitário apresenta algumas fragilidades, sendo alvo de críticas. Entre essas, Cosson (2020)
destaca que a valorização política da literatura costuma colocar em segundo plano as questões
formais e estéticas, fazendo com que a arte literária tenha prejuízos em sua singularidade como
discurso estético e como expressão artística, além do dano a outros aspectos como o exercício
da fantasia e o jogo da linguagem. Outra fragilidade desse modelo são os entraves para se atingir
os objetivos almejados nesse modelo: o primeiro é que o efeito dessas representações depende,
em grande parte, do contexto e do repertório de leitura de cada leitor; o segundo é que a
alienação, o ceticismo e o absenteísmo também fazem parte da leitura literária, o que não
garante somente a empatia, a consciência crítica e o empoderamento do leitor. Ademais, nesse
paradigma, há lugar apenas para o estudante engajado politicamente, o que faz com que outros
tipos de alunos se afastem da literatura, esquecendo-se de que essa também pode ser apenas
fruição para muitos deles.
Apesar dessas críticas e outras, no ensino médio, o modelo social-identitário não se
consolidou como majoritário nas escolas brasileiras, sendo utilizado, na maioria dos casos, mais
como projetos alternativos ou abordagem complementar. O ensino da literatura, nesse nível de
ensino, continua predominantemente pautado no modelo histórico-nacional, tanto nas práticas
docentes quanto nos materiais didáticos, conforme indicado por diversas pesquisas aplicadas
no contexto das escolas públicas estaduais ou privadas (Santos, 2017; Nascimento, 2021). Nas
percepções e práticas dos professores brasileiros que participaram da pesquisa em questão, esse
modelo de perspectiva historiográfica e canônica também está presente, embora com uma
incidência um pouco menor em comparação aos paradigmas contemporâneos e inovadores,
como foi previamente demonstrado.
Tendo em vista os traços dos paradigmas tradicionais ou contemporâneos, as propostas
do letramento literário e da educação literária apresentam-se como uma possível saída para a
crise da literatura na escola, sem excluir os elementos exitosos dos outros modelos. Nessas duas
propostas inovadoras, o aluno é o protagonista e deve exercer um papel ativo e crítico enquanto
leitor e (quiçá) escritor. Todavia, o docente também ocupa um lugar de destaque, já que cabe a
ele promover o acesso do estudante a um acervo de obras plurais em diversos suportes, bem
como implementar uma série de estratégias e procedimentos de leitura e escrita literárias em
sala de aula e para além do espaço escolar, como os círculos de leitura literária (Cosson, 2014)
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e outras práticas de letramento literário (Cosson; Segabinazi, 2023) e as constelações literárias,
da educação literária (Jover, 2007, 2009).
Em suma, reitera-se que o ensino da literatura no contexto investigado não ocorre de
maneira homogênea. Embora haja um leve predomínio do modelo social-identitário, conforme
as percepções e práticas dos participantes da pesquisa, coexistem elementos de todos os sete
paradigmas, resultando em uma combinação de características tradicionais, contemporâneas e
inovadoras, com diferentes níveis de incidência. Nesse sentido, conforme afirmam Witte e
Sâmihăian (2013), em pesquisas desse tipo, é possível obter uma visão geral dos paradigmas;
contudo, na prática educacional, eles coexistem e, muitas vezes, são difíceis de distinguir. De
modo semelhante ao trabalho desses pesquisadores no contexto europeu, na realidade brasileira
investigada, também foi possível identificar diversas combinações de percepções e práticas,
configurando uma espécie de “fusão” de paradigmas, o que os coloca em uma perspectiva de
desenvolvimento.
Considerações finais
Neste artigo, foram abordados os paradigmas do ensino da literatura no contexto
brasileiro, abrangendo desde os modelos tradicionais até as propostas inovadoras da educação
literária e do letramento literário. Ao longo do trabalho, buscou-se cumprir os objetivos
apresentados na introdução, por meio da apresentação e discussão de resultados referentes à
descrição e análise das percepções e práticas do corpo docente de Literatura das escolas federais
situadas no estado de Goiás. Além disso, refletiu-se sobre os modelos atuais de ensino da
literatura vigentes na realidade investigada e em outros contextos escolares.
De maneira geral, na dimensão empírica da investigação, especialmente em relação às
percepções e práticas docentes, concluiu-se que todos os sete paradigmas podem ser
encontrados no ensino da literatura no nível médio das escolas federais situadas em Goiás, com
incidências muito próximas entre si, o que denota uma sobreposição de modelos e um certo
hibridismo em relação aos seus elementos constitutivos. Apesar dessa diversidade, observou-
se um leve predomínio do modelo social-identitário, além da presença de percepções e práticas
mais inovadoras (ligadas ao letramento literário e à educação literária) mescladas às abordagens
tradicionais (principalmente as de cunho historiográfico e canônico da literatura) no contexto
investigado.
Dalva Ramos de Resende MATOS e María LÓPEZ-SÁNDEZ
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Diante dos objetivos deste trabalho e do caráter predominantemente descritivo da
investigação, bem como em virtude da heterogeneidade de percepções e práticas do corpo
docente, destaca-se que não se teve, em nenhum momento, a pretensão de apresentar fórmulas
prontas para um trabalho bem-sucedido com a literatura, nem de defender um único paradigma
de ensino como sendo o mais eficaz. Além disso, tem-se plena consciência de que uma
educação literária efetiva vai além da mera representação dos paradigmas de ensino, pois
envolve diversos agentes e ações relacionadas, por exemplo, a políticas públicas de incentivo à
leitura, formação de professores, currículo, materiais e livros didáticos, entre outros temas que
abrem espaço para novas linhas de estudo e pesquisa.
Para concluir, defende-se que a escola, enquanto principal agência de letramentos, deve
assumir a responsabilidade de criar condições efetivas para a formação de leitores e escritores
competentes, levando em consideração as realidades locais. Nesse sentido, em consonância
com Dalvi (2018), a defesa do trabalho com a literatura no ensino médio baseia-se em premissas
como o acesso direto ao texto literário e o papel responsivo-ativo do leitor autônomo, crítico e
habitual (quem sabe, até autor). Ressalta-se também a importância da Literatura como
componente curricular independente e do docente como mediador participante, além de
reconhecer outros agentes envolvidos na cadeia de trabalho literário, como o bibliotecário, o
escritor, o crítico literário, o contador de histórias, os entusiastas da literatura nas redes sociais,
como booktubers e bookbloggers, a família e muitos outros partícipes desse processo.
Por fim, esperamos que este trabalho possa contribuir, em alguma medida, com as
pesquisas e estudos em prol da formação de leitores em idade escolar e para toda a vida. Leitores
esses que possam encontrar, nos textos literários, conhecimentos interdisciplinares, sabedoria,
prazer, crítica, ética, política, reconhecimento de si e do outro, consolação, empoderamento,
empatia e tantos outros saberes e valores indispensáveis à vida em sociedade.
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Nuances dos paradigmas do ensino da literatura em escolas federais brasileiras
Nuances: Estudos sobre Educação, Presidente Prudente, v. 35, n. 00, e024008, 2024. e-ISSN: 2236-0441
DOI: https://doi.org/10.32930/nuances.v35i00.10460 20
CRediT Author Statement
Reconhecimentos: Agradecimentos ao Instituto Federal de Educação, Ciência e
Tecnologia de Goiás (IFG) e à Universidade de Santiago de Compostela (USC), bem como
às professoras e aos professores que participaram da pesquisa.
Financiamento: Grupo de Investigación Roda USC. https://rodausc.gal/ e IFG.
Conflitos de interesse: Não há conflitos de interesse.
Aprovação ética: Pesquisa aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa do IFG. CAAE:
367 52420.9.0000.8082
Disponibilidade de dados e material: Os principais dados e materiais estão descritos no
próprio trabalho. Para informações mais detalhadas, entrar em contato com as autoras via
e-mail.
Contribuições dos autores: As autoras participaram de todas as fases de desenvolvimento
do trabalho, desde a elaboração do projeto de pesquisa até a produção e revisão do artigo,
sendo que a escrita do texto em ngua portuguesa ficou sob a responsabilidade da autora
brasileira.
Processamento e editoração: Editora Ibero-Americana de Educação.
Revisão, formatação, normalização e tradução.
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NUANCES OF THE PARADIGMS OF THE TEACHING OF LITERATURE IN
BRAZILIAN FEDERAL SCHOOLS
NUANCES DOS PARADIGMAS DO ENSINO DA LITERATURA EM ESCOLAS
FEDERAIS BRASILEIRAS
MATICES DE LOS PARADIGMAS DE LA ENSEÑANZA DE LA LITERATURA EN
LAS ESCUELAS FEDERALES BRASILEÑAS
Dalva Ramos de Resende MATOS1
e-mail: dalva.matos@ifg.edu.br
María LÓPEZ-SÁNDEZ2
e-mail: maria.sandez@usc.es
How to reference this paper:
MATOS, D. R. de R.; LÓPEZ-SÁNDEZ, M. Nuances of the
paradigms of the teaching of literature in Brazilian federal schools.
Nuances: Estudos sobre Educação, Presidente Prudente, v. 35, n.
00, e024008, 2024. e-ISSN: 2236-0441. DOI:
https://doi.org/10.32930/nuances.v35i00.10460
| Submitted: 10/06/2024
| Revisions required: 01/07/2024
| Approved: 10/07/2024
| Published: 16/08/2024
Editors:
Prof. Dra. Rosiane de Fátima Ponce
Prof. Dr. Paulo César de Almeida Raboni
Deputy Executive Editor:
Prof. Dr. José Anderson Santos Cruz
1
Federal Institute of Education, Science, and Technology of Goiás (IFG), Itumbiara GO Brazil. Professor of
Portuguese Language and Literature, Department of Academic Areas. Doctoral degree in Education (USC).
Member of the NuPEPE-IFG and LITER21-USC research groups.
2
University of Santiago de Compostela (USC), Santiago de Compostela A Coruña Spain. Professor in the
Department of Language and Literature Didactics, Department of Applied Didactics, Vice-Dean of the Faculty of
Education Sciences. Ph.D. in Literary Theory and Comparative Literature. Member of the RODA-USC Research
Group. Member of the Royal Galician Academy.
Nuances of the paradigms of the teaching of literature in Brazilian federal schools
Nuances: Estudos sobre Educação, Presidente Prudente, v. 35, n. 00, e024008, 2024. e-ISSN: 2236-0441
DOI: https://doi.org/10.32930/nuances.v35i00.10460 2
ABSTRACT: This work in Didactics of Literature explores the paradigms of literature
teaching, ranging from traditional to innovative models. The main objectives are to present and
discuss results related to the description and analysis of perceptions and practices of literature
teachers at federal schools in Goiás. Additionally, it reflects on the current literature teaching
models in the investigated context and other school environments. This investigation employs
a mixed-methods approach, collecting data through questionnaires administered to Portuguese
Language and Literature teachers at the high school level in these institutions. In general, the
results reveal perceptions and teaching practices that refer to the hybridization of elements of
traditional, contemporary, and innovative paradigms of the teaching of literature, with a slight
predominance of the social-identity model.
KEYWORDS: Teaching of Literature. Paradigms. Literary literacy. Literary education. High
School.
RESUMO: Este trabalho, na área da Didática da Literatura, aborda os paradigmas do ensino
da Literatura, dos modelos tradicionais aos inovadores. Os objetivos principais são apresentar
e discutir resultados referentes à descrição e à análise de percepções e práticas do
professorado de Literatura das escolas federais situadas em Goiás, bem como refletir sobre os
atuais modelos de ensino da literatura vigentes na realidade investigada e em outros contextos
escolares. Trata-se de uma investigação de enfoque metodológico misto, cujos dados foram
obtidos por meio da aplicação de um questionário a docentes de Língua Portuguesa e
Literatura do Ensino Médio de tais instituições. Em linhas gerais, os resultados revelam
percepções e práticas docentes que remetem a uma hibridização de elementos de paradigmas
tradicionais, contemporâneos e inovadores do ensino da literatura, com um leve predomínio
do modelo social-identitário.
PALAVRAS-CHAVE: Ensino da Literatura. Paradigmas. Letramento literário. Educação
literária. Ensino Médio.
RESUMEN: Este trabajo, en el área de Didáctica de la Literatura, aborda los paradigmas de
la enseñanza de la Literatura, desde los modelos tradicionales hasta los innovadores. Los
objetivos principales son presentar y discutir resultados relacionados con la descripción y
análisis de las percepciones y prácticas del profesorado de Literatura de las escuelas federales
ubicadas en Goiás, así como reflexionar sobre los modelos actuales de enseñanza de literatura
vigentes en la realidad investigada y en otros contextos escolares. Se trata de una investigación
con abordaje metodológico mixto cuyos datos fueron obtenidos a través de la aplicación de un
cuestionario a profesores de Lengua y Literatura Portuguesas de la Educación Secundaria de
dichas instituciones. En general, los resultados revelan percepciones y prácticas docentes
caracterizadas por una hibridación de elementos de paradigmas tradicionales,
contemporáneos e innovadores de la enseñanza de la literatura, con un ligero predominio del
modelo socio-identitario.
PALABRAS CLAVE: Didáctica de la Literatura. Paradigmas. Literacidad literaria.
Educación literaria. Secundaria.
Dalva Ramos de Resende MATOS and María LÓPEZ-SÁNDEZ
Nuances: Estudos sobre Educação, Presidente Prudente, v. 35, n. 00, e024008, 2024. e-ISSN: 2236-0441
DOI: https://doi.org/10.32930/nuances.v35i00.10460 3
Introduction
Throughout history, literature education has undergone changes that, according to
Colomer (2010), are produced by the mechanisms of cultural production and social cohesion of
different historical moments. In this sense, teaching paradigms emerge in different and/or
concurrent periods that assign various functions to literature
3
.
However, according to Cosson (2018), unlike the renewal that occurred in Portuguese
language teaching (which introduced the sociointeractionist model), there is no clearly
consolidated paradigm in Brazil in the field of literature that surpasses the traditional teaching
based on the historiography of artistic-literary periods. For this researcher, in the Brazilian
context, there are various and contrasting projects and proposals that fail to be effectively
implemented in classroom practice, leading to fragmentation and disorganization in the field.
Thus, as he argues, and with which we agree, more efforts are needed to organize approaches
to literature teaching into conceptual and methodological paradigms, as well as new empirical
investigations that contribute effectively to changing this scenario.
Given this issue, we have established the guiding question: What models of literature
teaching currently prevail in the classrooms of federal high schools in Brazil? To answer this
question, we developed a mixed-method research approach based on the dialogical perspective
of literature, drawing on interdisciplinary theoretical contributions from scholars such as
Ballester (2015), Colomer (1991, 2010), and Cosson (2014, 2018, 2020)
4
. The main objectives
are: to present and discuss results related to the description and analysis of the perceptions and
practices of literature teachers in federal schools located in the state of Goiás, and to reflect on
the current models of literature teaching in the investigated reality and other school contexts.
This contextual delimitation is justified, above all, by the socially referenced quality of
public education in these school institutions and the scarcity of research on the subject in these
federal learning spaces, as we found very few doctoral theses focusing on this locus in the last
decade in the CAPES Theses and Dissertations Catalogue, such as Barros (2014) and Fontana
(2018).
3
"A paradigm consists of knowledge and practices, concepts and techniques, questions and examples, objects and
terms used to describe them within a specific field of knowledge. It functions as a kind of framework that identifies,
explains, and guides, but also limits the actions of professionals in the field" (Cosson, 2020, p. 7, our translation).
4
This work is part of a doctoral investigation addressing the process of developing literary readers in high schools
in Goiás (Brazil) and secondary education in Galicia (Spain), focusing on the study of legal frameworks and the
work with literary reading in the classroom through the analysis and interpretation of perceptions and teaching
practices of educators and data from textbooks of official languages and their respective literatures in these two
contexts (Matos, 2023).
Nuances dos paradigmas do ensino da literatura em escolas federais brasileiras
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To organize the structure of this text, we first provide a brief theoretical and
methodological systematization of traditional, contemporary, and innovative paradigms of
literature teaching in high schools within the Brazilian context. Next, we present the employed
methodology and then discuss the main results, synthesizing the analyses and interpretations of
data concerning literature teaching paradigms in high schools in the aforementioned context.
We conclude the text with final considerations and references, aiming to contribute to the
advancement of the state of the art on this issue and to open new lines of research toward the
development of literary readers in high school.
Literature in High School: From Traditional Paradigms to Innovative Proposals
In the field of literature teaching, many transformations, which can be understood as a
succession of paradigms, have occurred over time. Considering the works of authors such as
Ballester (2015), Colomer (1991, 2010), and especially Cosson (2018, 2020), we can
summarize literature teaching in Brazil into seven paradigms: two traditional, grammatical and
historical, and three contemporary: analytical, reader formation, and social, in addition to two
innovative: literary literacy and literary education. Each of these models is determined by
distinct concepts of literature, as well as by different objectives, content, methodologies, roles
of teachers, and forms of text selection, as outlined below.
From the 19th century to the first half of the 20th century, two paradigms dominated the
Brazilian context: grammatical and historical. Even today, these models can still be observed
in classrooms. The grammatical paradigm traces back to the teaching of Latin and Greek, which
was later transposed to modern language instruction. Literature was used for language teaching
through anthologies of literary texts, mostly consisting of excerpts used for grammatical
exercises. The concept of literature in this paradigm is limited to classical works aimed at
assisting in language teaching for the development of good readers and writers, focusing on
exceptional uses of the language (elaborate language, complex vocabulary, syntactic
inversions) through a methodology centered on the analysis of fragments of works. The role of
the teacher was to use literary texts to exemplify the ideal models to be followed by students,
based on a selection of texts grounded in literary tradition. Among the many issues with this
model is the fact that literature does not have its place in the school; instead, it is treated as
ancillary to language, used merely as a pretext for teaching linguistic content.
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Following this, the historical paradigm emerged based on the idea of literature as the
cultural tradition of a people. Widely adopted in high schools, it focused on teaching literature
through literary periodization, involving a sequence of presenting a brief contextualization of
the era, followed by the characteristics of a particular literary school, a list of representative
authors from that school, and a brief biography (life and main works) of each author. Literary
texts were typically presented through excerpts, for illustrative purposes, at the end of the study.
In summary, in this paradigm, the concept of literature is that of a national artistic-cultural
heritage, with the aim of teaching cultural insertion and the content, including the canon,
artistic-literary periods, and the biographies of major authors, through a methodology centered
on lectures about authors and artistic movements. The teacher’s role was to present literary
texts, or rather, their fragments, within their historical-cultural context, selecting texts that were
established by literary criticism/history.
Despite numerous criticisms of this model, which teaches the history of literature more
than literature itself and thus does not develop literary readers, this paradigm, similar to art
history, still often persists in Brazilian classrooms and textbooks, through the study of artistic-
literary periods (such as Troubadourism and Classicism in Portugal, and from Baroque to
Modernism in Portuguese and Brazilian contexts), as well as in official documents that seek to
ensure “the teaching of literature as national heritage or artistic-cultural legacy” (Cosson, 2018,
p. 134, our translation).
Regarding contemporary paradigms, the first one is inspired by the critical approaches
of Russian formalism and structuralism. This is the analytical (or textual) paradigm, where the
concept of literature corresponds to texts of high aesthetic elaboration and demonstrates a
concern with meticulous reading, a kind of close reading, to reveal its compositional elements.
According to Cosson (2018, pp. 138-139, our translation), in this analytical model, lessons
“consist of textual analyses aimed at developing the student’s aesthetic awareness through a
critical study of a particular literary work conducted or reproduced by the teacher” and generally
“this study starts from extracts or levels for poetic texts and narrative categories in relation to
prose texts to analytically reconstruct the aesthetic elaboration of the work.”
The goal is to develop an aesthetic awareness in students through a methodology of
textual analysis of content, which includes the compositional elements of the text from a
selection of texts of high artistic value. These texts are no longer limited to the canon but do not
incorporate contemporary works. The teacher's role is to model literary analysis so that students
can reapply this model. However, the critical study conducted by teachers, who have more
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resources and a greater command of literary language, is often far more advanced than what
students are capable of achieving. Another issue is that, due to the limited time allocated to
literature in the curriculum, there is a preference for short texts, whose analysis is facilitated by
their length, such as lyric poems and short stories, further narrowing the scope of literature,
which the criterion of aesthetic labor has already reduced.
In response, the reader-oriented paradigm, among other factors, emerges as a reaction,
addressing literature as enjoyment. Predominant in early childhood and elementary education,
but overlapping with historicism in high school, this model has been widely disseminated in
Brazil since the 1980s. The concept of literature is quite broad, encompassing all poetic and
fictional genres, particularly mass and popular literature. Text selection is based on the criteria
of texts that initially please the reader and then those that challenge their reading habits or
school interests. The methodology of this model is centered on direct access to the work in
promoting reading through a varied set of approaches, including reading for the sake of reading
or pleasure reading, with the aim of developing the reading habit through the pleasure of
enjoyment. The teacher's role is that of a mediator of literary texts.
In more restrictive proposals, literary reading is associated with a specific goal, such as
expanding vocabulary and humanizing the reader, with a particular social awareness, including
the use of para-literary books that utilize poetic or fictional structures to teach some educational
content or transversal themes, such as sexuality, citizenship, bullying, etc. According to Cosson
(2018), with whom we agree, these issues should not be denied. However, there are assumptions
in this paradigm that need to be reconsidered, such as the belief that direct access to the text
and pleasure reading alone are sufficient to cultivate a taste for reading, disregarding the need
for literary education. Furthermore, this paradigm ultimately leads to the erasure of the teacher's
pedagogical role, as their function as a mediator of literary texts becomes more about being an
encourager or mere guide to readings. Another questionable point is that, in this model, a good
reader is defined as someone who reads many books, regardless of the quality of the works,
based on the view that quantity will lead to quality and that reading certain mass literature is a
stepping stone to canonical reading.
The social paradigm, also known as the identity or social-identity paradigm, is based on
multiculturalism, gender studies, postcolonial studies, deconstructionism, post-structuralism,
cultural studies, and Queer theory. This model conceives literature primarily as a social
representation or construction, with the goal of developing students' critical awareness or, at a
minimum, understanding of social and identity relations. The teacher's role is to initiate and
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guide discussions. To achieve this, the paradigm employs a selective logic (inclusion and
exclusion) of socially relevant texts based on the social representations they encompass.
Two methodologies are adopted in this process: one centered on content, where students
and teachers are encouraged to read, debate, and conduct seminars on the social themes
presented in canonical texts; and another centered on the reader, which is more recent and aims
to read, discuss, and analyze, from a multicultural perspective, how minority identities, such as
indigenous peoples or women, are represented in certain works. In this case, in addition to the
canonical texts, the selection also includes authors overlooked by official criticism and
contemporary works relevant to the recognition of different cultural identities by the reader.
This paradigm faces criticism for rejecting certain literary works due to their stereotypical
representation of some minority, which limits the corpus and hinders a critical view of the
particular theme, among other issues.
Given the negative aspects of these paradigms and the lack of a model that provides a
systematic curriculum for effective teaching practices, two innovative proposals emerge.
Despite their similarities, these should not be conflated due to their specific characteristics.
In the Brazilian context, a model referred to by Cosson (2014, 2018, 2020), literary
literacy, is currently under development. This model centers on literature as freedom (Barthes,
1979), within language and linguistic expression. It is based on a dialogic perspective and
language as a systemic conception of literature, viewing it as a repertoire of texts and literary
practices that dictate how a community of readers constructs texts and how they should be read.
According to Cosson (2020, p. 176, our translation), literature "is a language that presents itself
as a repertoire of texts and practices of production and interpretation, through which we
symbolize ourselves and the world we live in through words". The objective is to develop the
literary competence of both readers and producers through the content of the literary experience
and a responsive methodology that treats reading as an interpretive practice, allowing readers
to produce responses in the co-production of textual meaning. In this paradigm, the role of the
teacher is not merely to mediate but to build communities of readers by selecting diverse and
significant texts for the literary experience of a particular community, whether simple or
complex, according to local needs. Thus, literature must be considered beyond printed
productions, advancing to include digital genres as well.
In addition to the six paradigms systematized by Cosson (2018, 2020), we can
summarize the proposal for literary education using the same categories as those employed by
the author and the assumptions of Ballester (2015), Colomer (1991, 2010), and Jover (2007,
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2009). This proposal is beginning to take shape in Brazil but has already been consolidated in
research, legal frameworks, and textbooks in other Western countries. In Spain, for instance, it
began in the 1980s, drawing on contributions from various theories such as reception aesthetics,
textual semiotics, transactional or reader-response theory, literary pragmatics, sociocriticism,
and cognitive psychology. There seems to be a broad agreement on the conception of literature
as a cultural construction of the subject, justified by the reformulation of its role in citizen
education.
The main objectives are the development of literary competence (interpretive skills) and
the acquisition of reading habits. The teacher's role is that of an engaged mediator, not limited
to promoting the pleasure of reading but employing a methodology primarily focused on reading
strategies and creative writing techniques, with diverse activities including reading and
commentary, creative writing workshops, style exercises, study and manipulation of expressive
forms, and projects. This contributes to the creation of reading communities through a corpus
that extends beyond national literature to include texts from universal literature, ranging from
classics to contemporary works, including juvenile literature, science fiction and adventure
narratives, comics, advertisements, films, and various other genres.
Methodology
For this study, considering the research theme and the objectives to be achieved, we
have developed a mixed-methods investigation, utilizing both qualitative and quantitative
techniques and procedures with a predominantly descriptive reach and cross-sectional nature.
To this end, we referred to the general mixed-methods design models proposed by Hernández
Sampieri, Fernández Collado, and Baptista Lucio (2013) to develop our research design.
Specifically, data were collected through an online questionnaire administered from
February to June 2021. This questionnaire was sent via email and social media to a group of
144 teachers who teach Literature in high school (grades 1 to 3) at federal schools located in
Goiás (invited sample)
5
. Out of this total, we received 70 responses (final sample),
corresponding to 48.6%. However, given that at Federal Institutes, most of the teaching staff
holds dual qualifications in Language Arts (Portuguese and a modern foreign language) and
5
The federal schools located in Goiás correspond to two Federal Institutes - IF (Federal Institute of Goiás - IFG
and Federal Institute of Goiás - IF-Goiano, which together have 26 campuses in 25 cities located in all micro-
regions of this state) and the Center for Teaching and Research Applied to Education, one of the units of the
Federal University of Goiás (CEPAE-UFG), located in the state capital.
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teaches subjects related to one or more languages, with semesterly and/or annually rotating
courses and levels of instruction, it was not possible to precisely determine how many of these
invited teachers were actually teaching Portuguese Language and Literature in high school
during the research period. Therefore, this constitutes a purposive non-probability sampling, as
it was not feasible to estimate the population accurately.
Regarding the data collection instrument (DCI), the questionnaire included questions
and variables about the participants' profiles and questions (open-ended, semi-closed, and
closed) related to the perceptions and practices of literature teaching employed by the teaching
staff, as well as the reading behaviors of the teachers. However, due to the breadth of the data
and the limited space of this article, we will only address the first two dimensions of the DCI
here, focusing on items with variables/categories (concepts, objectives, content, methodologies,
roles of teachers, and forms of selection of literary texts) related to the constituent elements of
the seven paradigms of literature teaching.
After the data collection and processing phases, we analyzed and interpreted the data in
order to fulfill the objectives of this study. Additionally, we explored secondary data (from
other research), interrelating and interpreting the results obtained during the general discussion
and throughout the mixed-methods process.
Regarding the validity of the mixed-methods approach, in addition to the rigor in the
techniques and procedures for sample selection, data collection, and processing (which included
consulting experts for questionnaire validation and using IBM-SPSS for descriptive statistical
analysis), we incorporated other elements such as the quality of the mixed design, the
application of a pilot test for the data collection instrument, interpretative rigor (Hernández
Sampieri; Fernández Collado; Baptista Lucio, 2013), and ethical considerations, including
submission of the research project to the Research Ethics Committee (IFG) and the preservation
of participant anonymity.
Literature in Federal Schools Located in Goiás: Teachers' Perceptions and Practices
Firstly, it is relevant to present the profile of the participants as part of the research
subject description. Overall, the data reveals that the sample is predominantly composed of a
teaching staff aged between 31 and 40 years (58.6%), primarily female (74.3%), well-qualified
(47.1% hold a Ph.D.), with academic training in their area of expertise and teaching experience
(81.3% have at least 11 years of teaching experience). Furthermore, most participants stay
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updated through continuing education and participation in academic and scientific events, with
frequencies of: often (37.1%), sometimes (32.9%), always (22.9%), and rarely (7.1%),
demonstrating engagement in a permanent and ongoing process of improvement and updating
with new educational trends.
We note that this profile differs significantly from that of the teaching staff in state,
municipal, and private schools in Brazil, as federal teachers have superior academic
qualifications, compensation, and working conditions compared to the majority of Brazilian
educators. They also enjoy relatively greater freedom in designing local curricula, selecting
content, and choosing teaching-learning methods.
Regarding the data collection instrument’s questions related to the paradigms of
literature education, the results reveal the coexistence of elements from different literature
teaching models, with varying levels of prevalence, indicating a blend of traditional,
contemporary, and innovative perceptions and practices.
Despite this diversity, certain aspects concerning the literary phenomenon and its
teaching in the investigated educational context stand out, aiming to address the research
question guiding our investigation by identifying and describing the dominant literature
teaching model(s) in federal schools located in Goiás. Let us examine the results obtained
through the six questions related to the main characteristics/categories of each paradigm, with
average calculations derived from the following scale: 1 = not at all; 2 = slightly; 3 =
moderately; 4 = very.
The first question addresses the views (conceptions) of literature through the query: “To
what extent do the following views of literature resemble the one(s) employed in your teaching
practice?” According to the responses, the view of literature as a space for social
representation or construction (3.7), typical of the social-identity paradigm, ranks highest as
“very” similar to the participants’ practice. In contrast, the view of literature as classical works
(2.2), characteristic of the traditional moral-grammatical paradigm, is rated lowest as “slightly”
similar.
Subsequently, we addressed the objectives of working with literature in schools through
the question: "To what extent do you prioritize the following objectives when working with
literary texts in the school?" The responses reveal that all objectives are either "very" or
"moderately" emphasized, with a slight preference for developing students' critical awareness,
understanding social and identity relationships (3.7%), promoting students' cultural
integration (3.6%), and developing literary competence and reading habits (3.6%), which are
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characteristics typical of the social-identity, historical-national, and literary education
paradigms, respectively.
This coexistence of paradigms is also evident from the responses to the following
question in the questionnaire: "To what extent do you prioritize the following contents in your
classes when working with literary texts?" The variable representing social representations in
texts (3.7), characteristic of the social-identity model, is identified as the most prioritized
content by these participants. Conversely, exceptional uses of language, such as sophisticated
language, complex vocabulary, and syntactic inversions (2.2), typical of the moral-grammatical
paradigm, are rated as the least prioritized by the sample of teachers.
Next, we inquired about the role of the teacher through the question: "To what extent
do these descriptors resemble your role as a teacher in working with literary texts in the school?"
According to the participants, their primary role is to initiate and guide discussions on social
and identity representation (3.6), rated as "very" similar on the scale, reflecting the social-
identity paradigm. However, functions from other models were also noted, with using literary
texts to exemplify ideal text models to be followed by students (1.9), from the traditional moral-
grammatical paradigm, being identified as the category least resembling the role of these
teachers.
Continuing, we inquired about the selection of the literary corpus through the question:
“To what extent do you adopt these types of literary corpus selection in your classes?” By
calculating the average responses, we confirmed the coexistence of characteristics from all
paradigms; however, there is a notable balance, as the values indicate that participants in this
sample adopt “moderately” the various types of literary corpus selection, with a slight emphasis
on selecting classical and contemporary texts from national and universal literature across
various genres and media, including films, comics, digital literature, etc. (3.4), which is
characteristic of the literary education proposal.
Let us now consider the methodologies employed by the respondents, with indicators
obtained from the question: “To what extent do these methodologies resemble the ones you use
in your classes?” The responses reveal the adoption of different methodological practices in
teaching literature within the investigated context, with a certain balance in the answers.
However, it can be asserted that, above all, the predominant methodologies are: the typical
approach of the social-identity paradigm, centered on historical-social representations or the
representations of the identities of specific minorities (3.4), and that related to literary literacy,
regarded as a responsive methodology that adopts reading as an interpretative practice,
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allowing for reader responses in the co-production of text meaning through varied activities
(3.2).
In the following, Graph 01 provides an overview of the incidence of each paradigm,
with average incidence scores (on a scale of 1 to 4) derived from the results of these six
questions.
Graph 1 Paradigms of Literature Teaching in Federal Schools
Source: Authors' elaboration (2023).
As shown in Graph 1, in the Brazilian context investigated, the predominant model in
high school literature classes is the social-identity model, followed by the innovative models of
literary education and literary literacy. Additionally, we note the presence of traditional
perceptions and practices, such as those related to the historical-national and moral-
grammatical models, with the latter showing the least incidence in the investigated context.
This pattern indicates an overlap of models and a certain hybridity regarding their constituent
elements. Moreover, this mix is confirmed by analyzing participants' individual responses, as
we observe that a single participant often exhibits alignments with perceptions and practices
from different literature teaching paradigms.
The predominance of the social-identity model is evident from the first question when
participants are asked about their conception of literature. Similar to Michelli (2018), we
believe that the theoretical orientation with which the educator is most aligned regarding the
view of literature often guides their teaching practice, reflecting the intellectual, social, and
emotional meanings they construct in relation to literature for themselves. Thus, observing the
prevalence of the conception of literature as a space of social representation or construction,
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we note a significant connection of the participating educators to this model, which seeks to
include society in the reader-text relationship, addressing both emblematic social issues and the
representation of minorities or social groups. According to Cosson (2020), in this model,
literature is understood as a cultural resistance against discrimination based on differences and
a struggle to construct a more just and equitable society.
According to the expert on literary literacy, literature, by representing social
relationships while not neglecting aesthetic values, establishes a homology with society. From
this perspective, the literature highlights power relations in the symbolic space and critiques the
exclusion of minorities who do not conform to dominant social and cultural norms. In this
regard, proponents of this model advocate for the social and cultural plurality of the canon while
condemning stereotypical and prejudiced representations of minorities in both past and
contemporary works, as well as rejecting any negative portrayals based on differences (such as
gender, ethnic-racial background, sexual orientation, physical and intellectual disabilities, etc.).
By giving prominence to minorities and representing them positively, literary works combat
prejudice and dignify differences. This process allows members of minority groups to assert
their identities and fosters empathy in others, who come to recognize the struggles of these
groups as legitimate, thus contributing to the building of a more plural and democratic society.
Furthermore, the social-identity paradigm is supported by Law No. 11,645/08, which
mandates the inclusion of the study of Afro-Brazilian and Indigenous history and culture in the
official high school curriculum (Brasil, 2008). It is also reinforced by the National Common
Curricular Base (BNCC), which establishes that "the school, as a space for learning and
inclusive democracy, must strengthen the coercive practice of non-discrimination, non-
prejudice, and respect for differences and diversities" (Brasil, 2018, p. 14, our translation) and,
specifically in high school, needs to consider "more complex works of contemporary literature
and Indigenous, African, and Latin American literature" (p. 492, our translation).
Given this context, and considering that Brazil is a country marked by numerous
inequalities and the well-known political engagement of federal school faculty in defense of
minorities, it is not surprising that this paradigm has predominated in this context. This scenario
is corroborated by the high qualification level of most educators in their fields, as well as their
significant participation in continuing education courses and academic-scientific events. Thus,
these professionals are familiar with publications that attest to the failures of traditional
literature teaching models, which may also explain the significant presence (in second place)
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of perceptions and practices derived from literary literacy and literary education, identified as
innovative alternatives for working with literature.
However, despite all its relevant aspects, the social-identity model presents some
weaknesses in practice and is subject to criticism. Among these, Cosson (2020) highlights that
the political valorization of literature often puts formal and aesthetic issues in the background,
which harms the literary art's uniqueness as an aesthetic discourse and artistic expression, as
well as other aspects like the exercise of imagination and language play. Another weakness of
this model is the challenge in achieving the desired objectives: first, the impact of these
representations largely depends on the context and the reading repertoire of each reader; second,
alienation, skepticism, and absenteeism are also part of literary reading, which does not solely
guarantee empathy, critical awareness, and reader empowerment. Furthermore, this paradigm
only accommodates politically engaged students, which causes other types of students to
distance themselves from literature, forgetting that it can also serve as mere enjoyment for
many.
Despite these and other criticisms, the social-identity model has not become
predominant in Brazilian high schools, being used mostly as alternative projects or
complementary approaches. Literature teaching at this educational level remains predominantly
guided by the historical-national model, both in teaching practices and in didactic materials, as
indicated by various studies conducted in the context of state or private public schools (Santos,
2017; Nascimento, 2021). In the perceptions and practices of Brazilian teachers who
participated in the research, this historiographic and canonical perspective model is also present,
although with slightly less incidence compared to contemporary and innovative paradigms, as
previously demonstrated.
Considering the traits of traditional or contemporary paradigms, the proposals of literary
literacy and literary education present themselves as a potential solution to the crisis of literature
in schools, without excluding the successful elements of other models. In these two innovative
proposals, the student is the protagonist and should play an active and critical role as a reader
and (perhaps) writer. However, the teacher also occupies a prominent place, as they are
responsible for providing students access to a diverse collection of works in various formats, as
well as implementing a range of reading and writing strategies and procedures in the classroom
and beyond, such as literary reading circles (Cosson, 2014) and other literary literacy practices
(Cosson; Segabinazi, 2023) and literary constellations in literary education (Jover, 2007, 2009).
Dalva Ramos de Resende MATOS and María LÓPEZ-SÁNDEZ
Nuances: Estudos sobre Educação, Presidente Prudente, v. 35, n. 00, e024008, 2024. e-ISSN: 2236-0441
DOI: https://doi.org/10.32930/nuances.v35i00.10460 15
In summary, it is reiterated that the teaching of literature in the investigated context does
not occur homogenously. Although there is a slight predominance of the social-identity model,
according to the perceptions and practices of the research participants, elements from all seven
paradigms coexist, resulting in a combination of traditional, contemporary, and innovative
characteristics with varying levels of incidence. In this sense, as Witte and Sâmihăian (2013)
assert, such research provides an overview of paradigms; however, in educational practice, they
coexist and are often difficult to distinguish. Similar to the work of these researchers in the
European context, the Brazilian reality investigated also reveals various combinations of
perceptions and practices, constituting a kind of "fusion" of paradigms, placing them in a
developmental perspective.
Final considerations
This article addressed the paradigms of literature teaching in the Brazilian context,
encompassing both traditional models and innovative proposals in literary education and
literary literacy. Throughout the study, the aim was to meet the objectives presented in the
introduction by presenting and discussing results related to the description and analysis of the
perceptions and practices of the literature faculty in federal schools located in the state of Goiás.
Additionally, reflections were made on the current models of literature teaching prevalent in
the investigated reality and other school contexts.
Generally, in the empirical dimension of the investigation, especially regarding teaching
perceptions and practices, it was concluded that all seven paradigms can be found in literature
teaching at the high school level in federal schools located in Goiás, with very close incidences
among them, indicating a blending of models and a certain hybridity concerning their
constitutive elements. Despite this diversity, there was a slight predominance of the social-
identity model, along with the presence of more innovative perceptions and practices (related
to literary literacy and literary education) mixed with traditional approaches (mainly
historiographic and canonical literary approaches) in the investigated context.
Given the objectives of this work and the predominantly descriptive nature of the
investigation, as well as the heterogeneity of perceptions and practices among the teaching staff,
it is important to emphasize that there was never an intention to present ready-made formulas
for successful work with literature, nor to advocate a single teaching paradigm as the most
effective. Furthermore, it is fully recognized that effective literary education extends beyond
Nuances dos paradigmas do ensino da literatura em escolas federais brasileiras
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merely representing teaching paradigms, as it involves various agents and related actions, such
as public policies to encourage reading, teacher training, curriculum development, instructional
materials, and textbooks, among other topics that open avenues for new lines of study and
research.
In conclusion, it is argued that schools, as the primary agencies of literacy, must take on
the responsibility of creating effective conditions for the development of competent readers and
writers, considering local realities. In this sense, in line with Dalvi (2018), the defense of
working with literature in high school is based on premises such as direct access to literary texts
and the responsive-active role of the autonomous, critical, and habitual reader (who may even
become an author). The importance of literature as an independent curricular component and
of the teacher as an engaged mediator is also highlighted, as well as recognition of other agents
involved in the literary process, such as librarians, writers, literary critics, storytellers, literature
enthusiasts on social media, such as booktubers and bookbloggers, family members, and many
other participants in this process.
Finally, we hope that this work may contribute, in some measure, to research and studies
aimed at the development of readers at school age and throughout their lives. Readers can find,
in literary texts, interdisciplinary knowledge, wisdom, pleasure, critique, ethics, politics, self-
recognition and recognition of others, consolation, empowerment, empathy, and many other
indispensable knowledge and values for life in society.
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DOI: https://doi.org/10.32930/nuances.v35i00.10460 19
CRediT Author Statement
Acknowledgements: Thanks to the Federal Institute of Education, Science and Technology
of Goiás (IFG) and the University of Santiago de Compostela (USC), as well as the teachers
who participated in the research.
Funding: Research Group Roda USC. https://rodausc.gal/ and IFG.
Conflicts of interest: No conflicts of interest.
Ethical approval: Research approved by the Research Ethics Committee of IFG. CAAE:
367 52420.9.0000.8082.
Availability of data and material: The primary data and materials are described within the
work. For more detailed information, please contact the authors via email.
Author contributions: The authors participated in all stages of the development of the
work, from the formulation of the research project to the production and revision of the
article, with the writing of the text in Portuguese being the responsibility of the Brazilian
author.
Processing and editing: Editora Ibero-Americana de Educação.
Proofreading, formatting, normalization and translation.